Cleusa de Jesus Pereira, critica aumento nos preços de alimentos essenciais, principalmente da carne: “está demais. Uma pena, o preço sobe mais que o salário” (Larissa Durães)
A inflação dos alimentos consumidos em casa deve chegar a 6,6% em 2024, segundo o Banco Central. Com altas mensais próximas a 1%, esse aumento afeta especialmente as famílias de baixa renda, que destinam mais do orçamento à alimentação. A pressão vem do aumento no preço das carnes e de itens básicos, como arroz e feijão. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve terminar o ano próximo ao teto da meta, de 4,5%, agravado ainda pela seca e enchentes nas áreas produtoras.
Segundo o professor de pós-graduação em Produção Vegetal da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em Montes Claros, Carlos Juliano Brant Albuquerque, tanto 2023 quanto 2024 foram marcados por eventos climáticos severos em grandes polos de produção, como no Rio Grande do Sul e no Centro-Oeste. “O excesso de água afetou a produção no Sul, que possui 70% da produção de arroz do país”, explica o professor, destacando ainda que a seca afetou especialmente a segunda safra, impactando diretamente a produção de milho e soja, essenciais para a alimentação humana e animal. “No Brasil, 90% do alimento dos animais vem de soja, então a alta nos preços desses produtos está diretamente ligada à produção de carne”, explica Albuquerque.
O aumento nos preços de itens como carne, arroz e feijão está diretamente relacionado ao cenário econômico do país. Por isso, Albuquerque considera que a inflação e a alta do dólar encareceram os custos de produção, já que muitos insumos agrícolas, como fertilizantes e defensivos, são importados. “Além disso, a falta de apoio governamental e as dificuldades logísticas enfrentadas pela cadeia de distribuição contribuem para o aumento dos custos”.
“O escoamento dos produtos é um grande desafio, dado que as estradas precárias e a dependência do transporte rodoviário dificultam a distribuição eficiente. Uma solução mais barata seria melhorar a infraestrutura de transporte fluvial, aproveitando o potencial dos rios”, sugeriu.
Quanto ao futuro dos preços dos alimentos, o professor acredita que haverá uma redução no curto prazo, especialmente com o aumento da oferta de carne e outros produtos devido ao início da safra. Contudo, ele adverte que variáveis externas, como mudanças políticas nos Estados Unidos e no Oriente Médio, podem influenciar os preços. “A tendência é que o preço da carne, feijão e arroz diminua com o aumento da produção, mas é difícil prever se essa redução será significativa devido a vários fatores externos”, conclui Albuquerque.
DRIBLANDO OS PREÇOS
Cleusa de Jesus Pereira, gari, mora em casa com quatro pessoas, sendo um deles menor de idade. Sobre o aumento nos preços de alimentos como carne, feijão e arroz, Cleusa lamenta: “Está demais. Uma pena, o preço sobe mais que o salário”. Apesar do aumento, ela explica que a família não tem escolha a não ser continuar comprando esses itens essenciais. Para contornar a situação, Cleusa tenta variar as opções de proteínas, comprando frango ou outras carnes, e incluindo batata em sua dieta. No entanto, ela observa que até os vegetais estão muito caros. “A verdura também está difícil de encontrar” comenta, acrescentando que, por vezes, opta por substituir o arroz por macarrão, buscando alternativas para driblar os altos preços.
A nutricionista e pedagoga Eryka Jovânia Pereira recomenda alternativas à carne, como soja ou frango, para manter ferro na dieta e prevenir anemia e fraqueza muscular. “Na nossa região, temos o ora-pro-nóbis, sendo uma folha rica em proteínas e ferro, como opção ainda mais acessível”, indica a especialista. Ela também menciona os ovos como uma fonte alternativa, sugerindo que as famílias alternem entre carne bovina, frango e ovos ao longo da semana, equilibrando o orçamento e a nutrição.
Para a nutricionista, com o preço alto dos alimentos, muitas famílias acabam substituindo o arroz, por exemplo, por alimentos como o macarrão, consumindo apenas uma fonte de carboidrato e perdendo a variedade de nutrientes. “Por isso, uma alimentação balanceada, com alimentos como batata, mandioca e batata-doce, contribui para um melhor aporte de nutrientes”, aconselha.