economia

Está caro ser mineiro

Tradição de mesa farta ficou mais difícil com inflação na culinária tradicional

Hermano Chiodi (Hoje em Dia)
Publicado em 22/06/2022 às 00:06.
José Agostinho diz que o “dinheiro é pouco”, o que impede a compra de itens de melhor qualidade todos os dias. (lucas prates/jornal hoje em dia)

José Agostinho diz que o “dinheiro é pouco”, o que impede a compra de itens de melhor qualidade todos os dias. (lucas prates/jornal hoje em dia)

Está muito difícil sustentar a mineiridade nos dias de hoje, pelo menos na hora de matar a fome. Sabe aquele franguinho com quiabo, um cafezinho com queijo, e tudo o mais que faz um mineiro prosear por longas horas à mesa? Tá tudo caro! 

No vigor dos seus 85 anos, o senhor José Agostinho, marido da dona Marília, sempre gostou de fartura nas refeições. Mas em uma visita ao Mercado Central de BH, onde diz que “é um lugar bom de comprar”, não escondeu o susto com o preço dos produtos que faziam parte da lista de compras: quiabo, couve e um frango.

“De todo lugar, aqui é o mais barato. Mas mesmo assim num dá pra ser todo dia. A comida é boa, mas o dinheiro é pouco, né?”, lamentou.

Economista e professor do Ibmec, Paulo Casaca diz que o efeito inflacionário atinge vários setores econômicos e não há como fugir dos pesados impactos no bolso. 

“Produtos-chave, como o combustível, têm aumentado, e isso afeta quase toda a cadeia econômica. Hoje, de cada dez itens pesquisados, oito registram aumento de preços. Por isso, os alimentos típicos da cultura mineira, mesmo sendo produzidos e consumidos aqui, não fogem do aumento de preços. Isso vale para Minas e para qualquer outro lugar do país”, explica. 

O quiabo, queridinho dos mineiros, subiu 10,9% na comparação com junho do ano passado, aponta o boletim de preços da Ceasa Minas. A couve, acompanhamento que não falta nas receitas de Minas, subiu 100%; e o jiló, sagrado naquela carnezinha na chapa, aumentou mais de 120% de um ano para o outro.

Até para dar sabor aos pratos típicos é necessário gastar mais. O alho, que nunca falta nas preparações, subiu 7,4% só neste ano, de acordo com o IPCA divulgado em maio pelo IBGE. E olha que isso tudo é só para o prato principal!

Na hora da sobremesa, o mineiro que gosta de um queijinho e de um café está sofrendo demais. O queijo canastra ou um belo e bom tradicional tipo minas padrão estão, em média, 12,21% mais caros do que no ano passado. 

O cafezinho, então, tá pela hora da morte: teve um aumento de 69,4% no acumulado dos últimos 12 meses em Belo Horizonte, segundo o Ipead/UFMG.

Outros ítens típicos da alimentação mineira também subiram. A abóbora (5,1%), o leite (29,9%), os ovos (23,5%), o frango (4,3%) e até o pão de queijo pronto (6,6%). 
 
PECHINCHANDO
Alexandre Tásia de Oliveira, que há mais de 30 anos tem uma banca no Mercado Central de Belo Horizonte, falou que não falta “choradinha” dos clientes pra tentar ganhar um pouquinho no preço. “Tem gente que acha que a culpa é nossa, mas num é não. A gente só revende. Tem queijo aqui que está subindo a cada duas semanas. A gente até fez uma colinha com os preços e mantém aqui no balcão, porque tá mudando tão rápido que não tá dando tempo do pessoal decorar o preço de cada coisa”, afirmou.

Para o comerciante e para os clientes, a dica é pesquisar e pechinchar. A dona Erionice Fátima de Paula sabe disso e vem na mesma banca do Mercado a cada 15 dias para reabastecer o estoque de queijo. “Tá caro, mas a gente não abre mão de um queijinho. O segredo é você encontrar um lugar com qualidade e preço baixo! Fica até mais fácil de negociar”, ensina. 

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