ECONOMIA

Empreendedores negros têm acesso restrito a crédito

Pesquisa Sebrae aponta crédito como principal obstáculo para empreendedores negros

Larissa Durães
larissa.duraes@funorte.edu.br
Publicado em 26/11/2024 às 04:54.
Fabiana só conseguiu acesso a crédito após 7 anos atuando como cabeleireira (Arquivo pessoal)

Fabiana só conseguiu acesso a crédito após 7 anos atuando como cabeleireira (Arquivo pessoal)

Pesquisa do Sebrae Minas revela que 50% dos empreendedores negros do estado consideram a identidade cultural um elemento essencial ou importante em seus negócios. Além disso, 23% dos entrevistados identificam suas iniciativas como afroempreendedoras, promovendo a valorização cultural e reforçando a identidade afro-brasileira.

Contudo, desafios como dificuldade de acesso a crédito, formalização e racismo estrutural ainda marcam o cenário. “A pesquisa revela que há um movimento cada vez mais forte de pessoas negras à frente de negócios, mas esse público ainda enfrenta diversas barreiras”, destaca Marcelo de Souza e Silva, presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas.

Segundo a pesquisa do Sebrae, o acesso a crédito é o principal obstáculo para empreendedores negros, citado por 48% dos entrevistados. Dos que buscaram financiamento (42%), apenas 10% obtiveram o valor total solicitado, 15% receberam um montante menor, e 17% tiveram seus pedidos negados, evidenciando as barreiras que limitam o crescimento de negócios liderados por negros.

Superando barreiras
Fabiana Cardoso Dias, cabeleireira com 15 anos de experiência, começou sua trajetória no empreendedorismo aos 19 anos, mas seu interesse pelo cuidado capilar surgiu na infância, aos 13 anos. Ao longo da carreira, enfrentou desafios como o preconceito racial. Natural da zona rural de Montes Claros, ela destaca a ausência de apoio familiar e a descrença em seu potencial como fatores que dificultaram seus primeiros passos. “As pessoas não colocavam muita fé que daria certo. Não tinha crédito, não tinha nada, nem cartão de crédito tinha”, conta. Somente após sete anos de atuação no salão, ela conseguiu superar essas barreiras e, desde então, tem uma relação mais estável com instituições financeiras.

Fabiana também relata episódios de discriminação racial no atendimento a clientes. “Já ouvi coisas como: ‘Você que é a Fabiana? Eu imaginava outra pessoa’”, relatou, referindo-se ao preconceito associado à sua aparência e ao cabelo natural. Além disso, enfrentou situações em que clientes questionaram sua capacidade profissional devido à textura do próprio cabelo. 

Para reduzir barreiras e valorizar a diversidade, Fabiana assumiu sua identidade e construiu um ambiente inclusivo em seu salão. “Hoje, os clientes já vêm sabendo que valorizo essa parte. Aqui tenho colaboradoras negras.” Ela destaca que o salão acolhe a todos, mas mantém o foco no afroempreendedorismo como parte de sua essência.

Conquista de mercado
Entre 2013 e 2023, o número de empreendedores negros no Brasil cresceu 22%, superando o aumento de 18% entre os brancos, segundo o Sebrae com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc). Nesse período, o total de donos de negócios negros subiu de 12,8 milhões para 15,6 milhões, enquanto os brancos passaram de 11,7 milhões para 13,8 milhões, ampliando a diferença de 1,1 milhão para 1,8 milhão. 

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