Economia

Desistência na boca do caixa

Pessoas têm deixado mais produtos para trás por falta de dinheiro

Larissa Durães
Publicado em 26/10/2022 às 22:29.
Fiscal de loja diz que aumentou cerca de 10% o número de pessoas que pedem para que produtos sejam devolvidos antes do fechamento da compra (LARISSA DURÃES)

Fiscal de loja diz que aumentou cerca de 10% o número de pessoas que pedem para que produtos sejam devolvidos antes do fechamento da compra (LARISSA DURÃES)

Produtos como açúcar, arroz, bebida láctea, café, cerveja, leite e óleo, cada vez mais estão sendo deixados no caixa na hora de pagar. É o que mostra a pesquisa realizada pela Nextop: mais de 285 mil itens abandonados de julho a setembro deste ano em todo país – foram cerca de 174 mil no mesmo período em 2021.  

As desistências acontecem principalmente quando, na hora de fechar a compra, os clientes percebem que não têm como pagar pelo total. Mesmo depois da deflação nos últimos meses, o alívio não chegou aos alimentos, e ir ao supermercado, está quase, 10% mais caro do que no início do ano.

Daniel de Souza é fiscal de caixa de um hipermercado em Montes Claros e conta que é a situação é notória. 

“Aumentou em 10% de pessoas que pedem para retirar da conta algum produto. O número de produtos retirados varia: até chegar no valor que tem condição de pagar”, destaca.

A economista da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Vânia Vila Boas, destaca que as pessoas estão ficando espantadas na hora que veem o valor da compra. 

“Poucos itens já comprometendo o valor percentual do recurso financeiro que ela tinha pra fazer aquela compra e a alternativa é justamente fazer o descarte de produtos, que muitas vezes se torna extremamente difícil porque são alguns produtos necessários a manutenção calórica e alimentar manter o valor para paga-los.

A perda do poder de compra fica evidente nos carrinhos, cada vez mais vazios. A quantidade de produtos deixados pelos consumidores na boca do caixa saltou 63,32% no terceiro trimestre de 2022, em relação ao mesmo período do ano passado.

É assim para D.M.R, dentista, que preferiu ficar no anonimato.  

“Já aconteceu comigo. Entrei no supermercado, peguei o que precisava e na hora de pagar, tive que retirar um produto para conseguir chegar a soma que tinha disponível”, lamenta. 

Clientes constrangidos

A alta dos alimentos e a redução do poder de compra estão por trás do abandono de produtos. O grupo ‘alimentação e bebidas’ teve inflação de 9,54% no acumulado do ano até setembro, e comer em casa ficou, 13,3% mais caro nos últimos 12 meses, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE.

“E como estamos em um período que é notável a perda de poder aquisitivo das famílias e dos consumidores, este aumento dos preços de produtos que embora a gente tenha tido aí uma menor variação de preço nos últimos dois meses, continuam sendo preços que já estavam bem elevados”, explica a economista Vânia Vilas Boas. 

Ela ressalta que as pessoas programam uma compra e quando vão efetuar o pagamento está muito além do que imaginava. 

O gerente de caixa que conversou com O NORTE, relata que é visível o constrangimento quando isto acontece. “Como a ação acontece com dois funcionários no caixa, os outros clientes ficam olhando”, conta. 

Vânia Vilas Boas espera que com a chegada do período chuvoso, itens como leite e seus derivados comecem a reduzir o preço e que no final para início de ano, quando começa a safra de grão, possa vir a contribuir com a redução desses preços. “Mas uma redução real e não apenas nominal”, espera a economista.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por