Economia

Custo de vida nas alturas esvazia despensa do trabalhador

Inflação em MOC recua em maio, mas retração do índice não representa alívio no bolso do consumidor, que tem enxugado a lista de compras

Larissa Durães
Publicado em 24/06/2022 às 22:04.
Grupo habitação foi o que teve peso maior em maio, mas os preços dos alimentos continuam a castigar as famílias (LARISSA DURÃES)

Grupo habitação foi o que teve peso maior em maio, mas os preços dos alimentos continuam a castigar as famílias (LARISSA DURÃES)

A inflação deu uma pequena recuada em Montes Claros em maio, na comparação com o índice de abril – ficou em 0,93% contra 1,35% anotados no quarto mês do ano. No entanto, a taxa um pouco menor não representou alívio no bolso do consumidor.

Os preços tiveram um leve recuo, mas para patamares de março, quando já estavam bem altos, impactados pela inflação dos meses anteriores, explica a economista Vânia Vilas Bôas, professora do Departamento de Economia da Unimontes e coordenadora da pesquisa de Índice de Preços (IPCA) de Montes Claros.

“Só para entender melhor, de janeiro até maio a inflação acumulada em Montes Claros já está em 6,11%, que é muito superior ao que estava sendo previsto para o ano todo – na margem de 5,3%”, explica a economista. 

Os preços dos produtos que compõem a cesta básica – 13 itens – registraram uma variação negativa em maio de -2,85% – contra 4,67% em abril. Mas, no ano, comprar o mínimo para a sobrevivência está 13,37% mais caro. Um peso grande no orçamento de famílias que têm renda de um a três salários mínimos. “Sabemos que quanto menos essas famílias têm de rendimento, mais elas sentem os efeitos da inflação”, frisa Vânia.

A compra da chamada “Ração Mínima” para a sobrevivência consome 42% do salário mínimo, ou seja, o trabalhador assalariado compromete R$ 507,84 da remuneração – quantidade prevista para alimentar uma pessoa com o básico por um mês.

“Se nós levarmos em conta que a Constituição fala que o salário mínimo é para o trabalhador e sua família, sendo a família brasileira composta de quatro pessoas, e a cesta básica para uma pessoa já está em mais de R$ 500, se multiplicar pela família, teríamos que ter um salário mínimo superior a R$ 2 mil só para atender as necessidades básicas alimentares”, afirma Vânia Vilas Bôas. 
 
HABITAÇÃO
Sempre vilã da inflação em alta, a alimentação, em maio, cedeu lugar para os gastos com habitação – que sofreram variação de 1,44%. Esse grupo foi pressionado pela alta do gás de cozinha (3,12%), muitas variações no preço da construção civil – tanto da mão de obra (10,18%) quanto do material – e materiais de limpeza, pois a grande maioria é derivada de produtos químicos e dependem da importação, elevando os preços.
 
HORTIFRUTI
Apesar do destaque para o grupo Habitação, o de Alimentação não passou ileso. A variação foi de 0,94%, puxada pelo preço de hortifrútis, principalmente, como a cebola (18,36%), couve-flor (14,64%), quiabo (11,86%), maçã (8,87%), batata (7,71%), inhame (6,7%) e mandioca (5,7%).

Mas o feijão (26,1%) e o leite tipo C (12,19%), sempre presentes no cardápio familiar, também tiraram o sono do trabalhador. 

Para Vânia, o que se tem visto é que as famílias, principalmente as que vivem com um salário mínimo, estão tendo que fazer, praticamente, mágica para conseguir adquirir produtos alimentares, deixando assim de consumir outros produtos.

“Neste ano, estamos vendo que a inflação tem, sem sombra de dúvidas, pressionado demais as famílias. Consequentemente, estamos vendo uma perda do poder aquisitivo cada vez maior dessas famílias em Montes Claros”, lamenta a professora.

Para não ficar no vermelho, a vendedora Janete Clea tem tirado cada vez mais itens da lista de supermercado e sacolão. Ela afirma que a vida está muito cara e, para manter a casa com cinco pessoas – apenas duas trabalhando – , é preciso fazer escolhas para chegar ao fim do mês sem muitas necessidades.

“Com os aumentos de alimentos e combustíveis, água e luz nem se fala, estou deixando de comprar roupa, calçados, e no mercado deixei de comprar o supérfluo. Agora, o foco é no básico, como arroz e feijão, de vez em quando uma carne, mas está difícil, é mais frango ou o que estiver na promoção”, conta.

Com a necessidade do ajuste financeiro, foi preciso também ajustar a alimentar da família. “Não compro mais leite, pois, está muito caro. Manteiga, uma vez ou outra. Não faço mais bolo nem sobremesa. Não está dando mais”, lamenta.

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