Melhor para quem?

Consumo cresce, mas preços altos e adaptação das famílias são desafios

Larissa Durães
larissa.duraes@funorte.edu.br
Publicado em 07/11/2024 às 19:00.
Ana Cristina opõe-se ao aumento, mencionando que os preços dos alimentos, particularmente da carne, têm subido de maneira substancial (LARISSA DURÃES)

Ana Cristina opõe-se ao aumento, mencionando que os preços dos alimentos, particularmente da carne, têm subido de maneira substancial (LARISSA DURÃES)

O consumo nas casas brasileiras subiu 0,95% em setembro, comparado ao mesmo mês de 2023, puxado pelo crescimento do emprego formal e da renda familiar, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Mesmo com a expectativa de crescimento de 2,5% no ano, o consumo caiu 1,3% entre agosto e setembro devido a fatores sazonais. Já o índice Abrasmercado, que monitora 35 itens populares, registrou alta de 0,9% em setembro, com o valor médio da cesta subindo de R$ 732,82 para R$ 739,44, principalmente devido ao aumento no preço da carne bovina.

“A aceleração da inflação oficial em setembro tem reflexos na cesta de abastecimento do lar. Fatores climáticos (queimadas e estiagem prolongada) não só pressionaram os preços dos alimentos, como as carnes e as frutas, mas também elevaram os preços da energia elétrica, exigindo do consumidor mais equilíbrio no orçamento doméstico”, analisa o vice-presidente da ABRAS, Marcio Milan.

No entanto, a consumidora Ana Cristina Nascimento Gomes, formada em administração e atualmente desempregada, discorda com esse aumento, ao relatar que os preços dos alimentos têm aumentado significativamente, especialmente os de carne. Ela vive com o marido e, diante dos altos custos, precisou mudar suas estratégias de compra. “Para lidar com os aumentos, tive que substituir itens mais caros por opções mais baratas e também deixei de comprar certos produtos”. Quando possível, Ana troca as marcas, optando por alternativas mais econômicas, “desde que a qualidade não faça diferença”, explicou.

A inflação tem pesado no orçamento familiar. Esse aumento reduziu o poder de compra do casal, limitando as compras de itens diferenciados que antes eram possíveis. “Dava para sobrar um dinheiro para comprar alguma coisa diferente, hoje não dá”, desabafa Ana, sentindo que, mesmo economizando, precisa adaptar o consumo a essa nova realidade. 
 
NA CONTRAMÃO DO CONSUMO
Antônio Carlos Lopes, comprador de um restaurante, relata uma queda no consumo e destaca a alta dos preços como um desafio para o setor. Embora ainda conte com clientes fiéis, ele percebe que as pessoas estão comprando menos e optando por produtos mais baratos ou de menor qualidade para driblar o aumento dos custos. “A gente atribui essa situação principalmente à carga tributária e à política econômica, que afetam diretamente o poder de compra. Mas o impacto das queimadas e o clima seco, também dificultam o acesso e a distribuição de alimentos, prejudicando a oferta e encarecendo os produtos essenciais”, acredita Lopes. 

Filipe Pinheiro, administrador de empresas e atuante no setor de supermercados, analisou que, apesar do cenário positivo, muitos consumidores estão ajustando suas compras, optando por marcas mais baratas e reduzindo o consumo de itens como frutas, verduras, carnes, iogurtes e produtos de limpeza.

Para Filipe, essa busca por economia é uma realidade que sempre existiu e, segundo ele, é uma forma legítima dos consumidores valorizarem seu poder de compra. “É natural e positivo que o público busque marcas que atendam às suas necessidades e ofereçam o melhor custo-benefício”, afirma. Ele ressalta que o setor tem se esforçado para manter preços acessíveis e produtos de qualidade, mesmo em meio à instabilidade econômica.

Pinheiro reconhece que o setor atravessa um período turbulento, com a pressão de fatores como a alta do câmbio e o aumento das commodities internacionais, que impactam os preços dos produtos. “Ainda assim, os dados da Abras mostram que, apesar das dificuldades, houve um ligeiro crescimento nas vendas em relação ao ano anterior”. Ele também destaca que a inflação influencia essa percepção de crescimento, já que o aumento de vendas é pequeno, mas significativo, “as vendas de 2024, superam as vendas de 2023”, diz satisfeito. 

Ele reconhece que o setor atravessa um período de turbulência, com fatores como a alta do câmbio e o aumento das commodities internacionais impactando diretamente os preços dos produtos. “Ainda assim, os dados da Abras mostram que, apesar das dificuldades, houve um ligeiro crescimento nas vendas em relação ao ano anterior”, observa. Para Filipe, o crescimento é modesto, mas relevante: “as vendas de 2024 superam as de 2023”, diz ele, confiante no potencial do setor mesmo em meio aos desafios.

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