O comportamento do consumidor brasileiro na Black Friday tem passado por mudanças profundas, marcadas por menos impulsividade e mais racionalidade nas decisões de compra. Um levantamento do instituto Hibou, em parceria com a Score Agency, mostra que o interesse pela data diminuiu e o planejamento ganhou força. Segundo a pesquisa, 45% dos consumidores pretendem comprar no período, queda de 9 pontos percentuais em relação ao ano anterior, enquanto 31% não têm intenção de consumir. Somente 7% verificam preços no próprio dia da promoção, enquanto 42% monitoram valores com antecedência para garantir que os descontos sejam reais.
A preparação para a Black Friday também começa mais cedo: 22% iniciaram pesquisas entre agosto e setembro, e 17% no início de novembro. Apenas 19% deixam para comparar preços na semana do evento. Entre os que pretendem comprar, 88% buscam se presentear, e só 7% adquiririam algo que normalmente não comprariam sem desconto. O preço segue como principal critério para 83% dos entrevistados, seguido do frete grátis (42%). A marca influencia 35%, e as avaliações de outros consumidores, 24%.
Para Albano Neto, Chief Strategy Officer da Score Agency, a data perdeu o caráter impulsivo. “O brasileiro aprendeu a fazer conta, comparar e esperar. Hoje, ele só se move quando sente que a promoção faz sentido não apenas no bolso, mas na forma como a marca entrega valor e verdade”, afirmou. Embora 66% ainda acreditem em grandes descontos, 45% confiam mais na comparação histórica de preços, e 12% veem a Black Friday apenas como estratégia de divulgação, reflexo de um consumidor mais crítico.
Em Montes Claros, essa mudança já impacta o comércio local. Fernando Queiroz, assessor de comunicação do Sindcomércio, afirma que as empresas da cidade adotam postura mais transparente. Segundo ele, o público está “mais cauteloso, mais informado e mais racional na hora de comprar”. Para Queiroz, o consumidor aprendeu a pesquisar e a identificar práticas enganosas. “Hoje a gente tem aplicativos que fazem comparação de preços, então isso é maravilhoso”, disse. Ele reforça que só empresas que aplicarem descontos reais terão bom desempenho. “Quem vai participar da Black Friday precisa aplicar descontos sustentáveis, mas verdadeiros. O consumidor de hoje não é mais empolgado como antes; ele sabe pesquisar”, afirmou.
A mesma avaliação é feita pelo analista do Sebrae Minas, Arleandro Rodrigues, que atribui a mudança de comportamento a uma combinação de fatores. Segundo ele, o consumidor está “mais informado, utiliza comparadores de preço, acompanha histórico e sabe identificar descontos reais, reduzindo compras impulsivas”. Ele cita ainda experiências negativas acumuladas, como “metade do dobro” e atrasos de entrega, além do orçamento mais apertado e da profissionalização do e-commerce. Para Rodrigues, a queda na intenção de compra não significa saturação. “Não exatamente. O que existe é uma mudança de comportamento, não o fim da Black Friday”, afirmou.
O especialista destaca que a data está mais madura. “O consumidor não compra mais por hobby , só compra se realmente valer a pena”, disse. Segundo ele, o público está “mais atento a provas sociais, mais dependente de transparência e menos fiel às marcas, mais fiel ao benefício real”. Para o varejo, o recado é claro. “Quem tentar maximizar lucro com desconto falso será punido rapidamente nas redes e perderá reputação”. Rodrigues sintetiza o novo cenário. “Hoje, a Black Friday é um teste anual de credibilidade para as marcas”.