Na terça-feira (4), o preço do café no Brasil permaneceu em alta, com o quilo ultrapassando R$ 50 em algumas marcas, devido a secas prolongadas, aumento nos custos de produção e demanda externa aquecida. A desvalorização do real e a crise climática, que também afetou grandes produtores como Vietnã e Colômbia, agravaram a escassez global.
Para Marcos Botrel, morador em Montes Claros e cafeicultor em Três Pontas, a valorização do café não é um fenômeno isolado. “Essa seca já vem há vários anos e atingiu não só o Brasil, mas também o Vietnã e outros países. Por isso, o preço fica incontrolável. A tendência é que ele se mantenha nessa safra e nas próximas”, explica.
Segundo Marcos, a seca impacta diretamente a produção, e poucos cafeicultores têm acesso à irrigação, um recurso ainda caro e inacessível para a maioria. “Infelizmente, a maioria dos produtores não tem esse investimento. Quando a seca vem, atinge toda a lavoura, reduzindo a produção em até 250%”, afirma Botrel.
Outro fator determinante no preço do café é a cotação do dólar. “Tudo na agricultura é dolarizado: adubo, insumos, sementes. O próprio café é negociado com base no dólar. Então, essa alta impacta diretamente o custo da produção e o valor final”, ressalta Botrel. Ele reforça que o encarecimento do café não tem relação com decisões governamentais, mas sim com fatores climáticos e do mercado internacional. “Esse impacto não é só no Brasil. Nossos maiores compradores, como Estados Unidos e Europa, também estão sentindo”, conclui.
A alta no preço do café também afeta comerciantes, que enfrentam dificuldades para manter valores competitivos sem comprometer a margem de lucro. Gabriel Henrique da Silva Costa, responsável por uma padaria recém-inaugurada, conta que a demanda pelo café continua, mas os clientes questionam o aumento no preço. “O brasileiro não dispensa o cafezinho, mas questiona muito o valor. Tivemos um ajuste há cinco dias. Antes, conseguíamos vender a R$ 1,00, mas agora não dá mais. O mínimo que conseguimos praticar é R$ 1,50, garantindo um lucro de apenas 30 a 50 centavos”, explica.
Para manter os preços viáveis, a padaria tenta negociar com os fornecedores, comprando em maior quantidade. “Trabalhamos com as mesmas marcas e fornecedores há anos. Não mudamos para opções mais baratas”, afirma Gabriel. Os fornecedores, por sua vez, oferecem algumas promoções e condições diferenciadas para clientes antigos, mas ainda assim, “o desafio de manter preços acessíveis permanece”, explica Costa.
O impacto também chega ao consumidor final. Davidson Silva, personal trainer, afirma que precisou reduzir o consumo. “Sim, lógico, bastante, ainda mais porque sou adepto ao café. Vivo tomando café, então, com esse aumento, a gente acaba dando uma maneirada, diminuindo a quantidade”, relata.
Mesmo com os reajustes, ele não pretende abandonar o hábito. “Sou muito adepto ao café, então preciso me adaptar. Ficar sem eu não fico. O jeito é diminuir a quantidade para não precisar cortar de vez”, conclui.
*Com informações da Agência Brasil 61