Criado em Minas Gerais, o Bolsa Reciclagem é pioneiro no país por remunerar, de forma trimestral, os serviços ambientais prestados pelas associações e cooperativas. A iniciativa estimula a reintrodução de resíduos nos processos produtivos, reduz a exploração de recursos naturais e fortalece a economia circular. No último trimestre, os participantes processaram 873 mil quilos de metal, 7,2 milhões de quilos de papel, 3,4 milhões de quilos de plástico e 2,2 milhões de quilos de vidro.
Entre os dias 22 e 30 de agosto, foram destinados R$ 910,9 mil a 91 associações e cooperativas de catadores, beneficiando cerca de 1,6 mil trabalhadores em todas as regiões do estado.
O presidente da Associação de Catadores e Iniciativa Sustentável Eco Galpão, Sidney Alves Coutinho, em Montes Claros, destacou a relevância da iniciativa, mas explicou que a entidade ainda não faz parte do cadastro para receber o benefício. “Nós ainda não conseguimos participar desse programa porque a nossa documentação não estava completa. Agora conseguimos regularizar e, no segundo semestre, vamos aderir ao programa, que é muito importante e faz muita diferença para os catadores”, disse.
Segundo Coutinho, a associação conta atualmente com 40 famílias cadastradas, totalizando quase 100 pessoas, e a expectativa é que todos sejam contemplados. Ele reforçou que a remuneração da reciclagem ainda é baixa. “O pessoal trabalha muito, o mínimo são sete horas dentro do galpão e bem mais nas ruas, e recebe pouco, porque o preço do material reciclado é baixo. Essa alternativa de receita proporciona aos catadores uma condição melhor, até mesmo para sobreviver.”
O dirigente ressaltou ainda as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores. “Chova ou faça sol, a atividade é mais difícil, muitos chegam a andar mais de 10 quilômetros por dia para conseguir um volume razoável de material e, consequentemente, de renda”, explicou.
Enquanto algumas associações aguardam inclusão no programa, catadores como Maria do Socorro Guimarães Soares, de 65 anos, que atua há 28 anos em Montes Claros, enfrentam obstáculos para acessar o benefício. “Não recebi e até agora não tenho previsão de receber”, contou.
Ela relatou que a burocracia tem sido um entrave. “Antes falavam que precisava de um papel da Caixa. A gente não conseguiu esse papel e, com isso, fiquei sem receber. Foi muita burocracia.” Maria do Socorro também afirma que a justificativa atual é o salário mínimo recebido pelo marido. “Eles falam que eu não posso receber nada do governo porque ele ganha um salário mínimo.”
A catadora afirma que não desistiu de tentar. “Semana que vem vamos tentar de novo, e eu vou estar junto para ver se a gente entende o que está acontecendo”, disse. Além de estar fora do Bolsa Reciclagem, ela revelou nunca ter sido contemplada pelo Bolsa Família. “Eu não sei por que não me dão esse Bolsa Família. Aqui em casa entra só um salário e mesmo assim não aprovaram. Não tenho nenhum benefício de nenhum governo”, lamentou.
Sem apoio oficial, Maria do Socorro segue dependendo exclusivamente do trabalho com reciclagem. “Estou na rua, e se eu não catar, eu não vou ter dinheiro”, resumiu.
*Com informações da Agência Minas