ADRIANA QUEIROZ
Repórter
Adilson Rodrigues é conhecido por Xiló Batera. Nasceu em Montes Claros em 1967. Gostava de ouvir música em casa, era fã da coleção de vinil de seu irmão Eduardo, principalmente dos discos de Tim Maia, Agnaldo Timóteo e as muitas versões dos Beatles.
Moleque, com seus oito anos, Xiló também gostava de imitar os artistas, participar das rodas de violão com os amigos, ouvir a antiga ZYD7 rádio Sociedade de Montes Claros, a rádio Nacional de Brasília, principalmente por sua programação elaborada, que tocava coisas que ele apreciava.
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Aos 15, era em frente a sua casa, na Rua Teófilo Otoni, bairro Roxo Verde, que de fato veio a se interessar pela música, especificamente na casa de sua madrinha, dona Lourdes, mãe dos músicos Gaspar e Márcio Durães.
- O Márcio, filho da minha madrinha, tocava violão, e aí comecei a tomar gosto, ficava ali observando. Mais adiante, fui tocar em escola de samba, na Escola de Samba do Roxo Verde. Primeiro toquei chocalho, depois caixa e um pouquinho de surdo. Foi uma experiência boa, e mesmo sem muita estrutura, o carnaval de rua tinha a participação efetiva da comunidade. Era feito na rua, de forma coletiva, participativo, hoje não tem mais - observa Xiló.
Com isso, o músico foi adquirindo experiência, tocando na noite montes-clarense, ao lado dos irmãos Márcio e Gaspar Durães. Era sempre uma atração quando eles se apresentavam no Redondo, um antigo barzinho próximo ao Aeroporto, que por muitos anos foi considerado o point da moçada descolada. O Redondo marcou toda uma época.
Xiló também foi integrante por quase três anos da banda MC5, comandada pelo saudoso Newton Borborema. Com a banda, os músicos percorreram por toda Minas Gerais se apresentando em bailes.
- Íamos muito para o interior do Bahia, não tinha asfalto, o ônibus atolava, muitas vezes tinham que mandar um trator para resolver o problema. E nós viajamos muito, às vezes por quase um mês - lembra.
O músico conta que certa vez, fim de ano, numa viagem para São João do Paraíso, alguém deu a ideia de irem por outra estrada para economizar. Mas para surpresa de todos, devido a um buraco no caminho, o ônibus despencou num enorme buraco. Afundaram até as janelas.
- Não havia celular nessa época. Foi anoitecendo, tínhamos que chegar lá para o baile. Por volta das 10 da noite, um pessoal de uma empreiteira chegou ao local, numa caçamba cheia de lama e aí tivemos que retirar o material do ônibus, aí foi aquela situação. Chegamos a São João do Paraíso quase meia noite para tocar. O contratante não queria pagar e fez uma proposta para a banda. Só pagaria se tocássemos para ele no outro dia também. Aí tivemos que tocar em dois bailes, para receber um. A banda era de bom nível, acho que eles estavam acostumados com outras coisas. O tempo todo eles ficavam conferindo se éramos nós mesmos que estávamos tocando, se tinha algum gravador ligado. Conferiam os microfones, para ver se realmente eram nossas vozes. A banda MC5 também era bastante requisitada para as festas juninas da região, formatura, apesar de tempos difíceis, vivenciávamos momentos de muita alegria e aprendizado - conta Xiló.
Pois bem. Essas e outras histórias, o período em que fez parte do MC5, só fizeram do músico uma pessoa melhor, de bem com a vida, com vontade de vencer sempre.
TRAJETÓRIA
Em 1987 Xiló foi para Belo Horizonte com um amigo músico. Foram alçar voos, investir na carreira. O amigo voltou. Xiló, que estava determinado, perseverou e conseguiu seu primeiro trabalho, tocando bateria numa peça de teatro, chamada No Cais do Porto, do ator e diretor Ricardo Batista. E era tudo ao vivo: teatro com música.
- Desse trabalho conheci pessoas com as quais trabalhei, como por exemplo, atuei como baterista do Veludo Cotelê. A gente veio algumas vezes se apresentar em Montes Claros. A banda foi, para a época, fenomenal, viajamos o estado todo, fomos para o Rio, São Paulo.
Para Xiló foi uma experiência enriquecedora, um período de ampliação, de conhecer toda Minas Gerais, o Norte do Brasil, Porto Trombetas, no estado do Pará, entre outras.
Lançaram um vinil em 1988, o The Best of Veludo Cotelê. O primeiro da banda. Como assim? O primeiro e já o The Best? Xiló sorri. A banda Veludo Cotelê era de fato a banda cênico-musical de Minas Gerais, com seus excelentes atores. A ideia era tocar músicas bregas e encenar.
- Tinha, por exemplo, música do Odair José, Encostei meu carro na praça.
O povo curtia demais. Mesclado a isso, Veludo Cotelê tinha no repertório a Jovem Guarda, o amor inocente da época. Misturávamos Dire Straits com Namoradinha de um amigo meu, solos de guitarra. Tudo era novidade -conta.
Com a banda, Xiló ganhou prêmios e ficou trabalhando cerca de quatro anos. Depois disso, tocou na noite de Belo Horizonte, conheceu Wander Lee, gravou com ele, se apresentou em shows em que a cantora Elza Soares também teve participação. Xiló foi para o Rio de Janeiro. E a partir daí, muitos convites foram surgindo, como o da dupla César Menotti e Fabiano, da cantora de MPB Helena Pena.
Xiló tocou com Wilson Queiroga, precursor do reggae em Belo Horizonte, gravou com ele. Ficou um ano trabalhando com Saulo Laranjeira, tocou com bandas de pop rock, entre outros.
E seguiu firme como integrante do Mestiço, projeto que envolve muitas pessoas, vários letristas, compositores.
- O Mestiço faz samba misturado com soul e rock, muito legal. Com o grupo fui para Itacaré na Bahia, conheci uma cantora americana, a Sandy, que canta blues, Janes Joplin. Apresentamos juntos, ela como convidada especial. Ficamos uns 20 dias por lá, retornamos ao Sul da Bahia, foi muito bom, natureza, um povo bacana - diz
Com o Mestiço Xiló tem viajado também o litoral Norte de São Paulo, além de freelancer, barzinhos e ainda encontra fôlego para acompanhar o cantor e compositor mineiro Márcio Greyck.
ÁGUA DE BEBER
Xiló tem um carinho especial por Montes Claros, sua terra natal, sente orgulho de ter bebido na fonte, na musicalidade, cultura, a história dos catopês. Diz que foi importante ter ido morar em Belo Horizonte, aprender mais sobre bateria, percussão, percuteria e que não vai deixar de ampliar fronteiras. Vai cada vez mais longe, quer reconhecimento. Fica chateado quando alguém é desonesto com ele.
- Infelizmente, no meio musical tem muita gente que não honra a palavra, quem contrata e acontece também com colegas que puxam o tapete, ou com o dono do bar que fica com a maior parte do couvert - lamenta.
INFLUÊNCIAS
Xiló é fã de carteirinha da atriz Inês Peixoto, do grupo Galpão, e também de Amaziles Almeida, estrela da novela Mandacaru.
Para ele, o ator é Luiz Gustavo, que fez o Victor Valentin, e o Mário Fofoca. Diz também que se inspirou no trabalho do Jorge Gomes, irmão do cantor Pepeu Gomes, e no Gustavo, do grupo A Cor do Som, suas primeiras referências.
Depois ampliou o leque curtindo música instrumental, em especial os bateristas, o Jack Dejohnette, o Tony Willians, entre outros. Além é claro, do frevo. Sempre gostou de tocar frevo, ouvir o trio de Dodô e Osmar.
Para o futuro, Xiló vai se preparar para fazer vestibular de Música em Belo Horizonte, afinal é lá que está seu grande amor.
Para ele, todo aquele que se interessa por música, tem que levar a sério.
- A música te cobra muito nesse ponto. Se quiser respeito, não dá para enrolar. É preciso dedicar e pesquisar muito. Na minha época não tinha internet, tinha vídeoaula. Hoje tem um universo, um clique você, tem mil e um exercícios - avalia.