Universo nada particular
A jovem cantora Nara Jorge sobe ao palco do Festival SESI Minas Música, neste sábado, 26, com a canção “Lamento de Culpa”, uma homenagem ao rio São Francisco, onde compartilha com o público sua criatividade musical, cultivada desde a infância
Adriana Queiroz
RepórterPara ela, escrever sempre foi um hábito. Desde os 12 anos já rabiscava suas baladas românticas, e continua fazendo isso ainda hoje.
A técnica de laboratório Nara Jorge é a única cantora de Montes Claros a disputar na categoria “Música Inédita” no Festival SESI Minas. A bióloga de 29 anos se apresentará com a canção “Lamento de Culpa”, em que faz uma homenagem ao rio São Francisco.
Nara mora em Montes Claros, mas nasceu em São Sebastião do Maranhão, situada na região Leste de Minas Gerais, com aproximadamente 12 mil habitantes. Devido às poucas oportunidades oferecidas no município, seus pais, Nasser e Fátima, com esperança de dar a ela e seus irmãos um futuro melhor e com mais opções de caminhos a trilhar, os enviou a Montes Claros para estudar.
Sua relação com a música começou cedo. Sua família é toda musical. Seu avô era um exímio violonista.
- Lembro-me ainda da cena em que, na sala de casa, eu me maravilhava com a interpretação de “Marina Morena”, de Dorival Caymmi, música que até hoje canto com muito gosto. Minha avó, minhas tias, tios cantavam no coral da cidade e minha mãe fazia parte do trio de violonistas. Atenta, olhava cada acorde que minha mãe fazia, e assim, tentava reproduzir em casa. Antes disso, minha irmã mais velha já tocava as canções que embalavam a juventude na época, e eu só queria crescer e ser como ela – conta.
Aos 12 anos de idade entrou para um ministério de música da paróquia e ali, curiosa, brincava com todos os instrumentos. Nessa idade já havia escrito muitas composições, peças de teatro e poesias.
- Graças à minha mãe e seus vinis ímpares de Milton Nascimento, Djavan, Maria Bethania, Dorival Caymmi, Chico Buarque, Oswaldo Montenegro, Roberto Carlos e Jovem guarda, fui apurando meu gosto musical pela MPB - revela.
Sobre os festivais de música - de MPB - ela diz que assistiu aos grandes festivais pela internet e ficou encantada com surgimento de tantos ícones da nossa Música Popular Brasileira.
- Minha mãe era tão fã e intérprete de Nara Leão que me registrou com esse abençoado nome. Sobre o Festival SESI, vejo como uma grande esperança do ressurgimento da boa música, oportunidades para novos intérpretes e divulgação do trabalho de tantos compositores espalhados nessas Minas Gerais e que não possuem chance de mostrar seus trabalhos autorais. Só tenho gratidão por esse festival existir, e não poderia deixar de citar Thiago Maia, gerente Cultural SESI MG, que com alma tão sonhadora como todo aquele que respira arte idealizou este projeto, e o levou às indústrias, buscando ali tantos artistas que na maioria das vezes não conseguem viver de sua poesia e canção. Este projeto é um brinde à Música Popular Brasileira – ressalta.
O Festival SESI busca promover a cultura entre trabalhadores das indústrias, valorizando e fomentando a produção musical de Minas Gerais e do Brasil. São convidados a se inscrever industriários, empresários da indústria e dependentes diretos destes (filhos e cônjuges).
- É um prazer imenso representar a cidade de Montes Claros, minha querida São Sebastião do Maranhão e a empresa Vallée S/A, que permitiu minha participação como trabalhadora da indústria que sou, afinal, é um concurso destinado a trabalhadores da indústria ou dependentes. É indescritível a alegria de cantar uma canção criada quando estávamos só eu e meu violão, e de repente ver esta mesma canção, tendo como inspiração o Rio São Francisco, sendo cantada pela torcida que nos acompanha de ônibus até BH, e a tantos que se emocionam e nos procuram depois do evento para nos parabenizar. Energia e magia ao mesmo tempo. Uma fusão de tantos sentimentos bons – avalia.
Lamento de Culpa
Sempre atenta aos fatos jornalísticos e há tempos acompanhando nas mídias e no próprio cotidiano a necessidade urgente de bater na tecla da preservação dos nossos rios e nascentes, fauna e flora, a cantora diz que a música é um meio de comunicação universal e que, através dessa ferramenta que chega tão facilmente às pessoas, quer deixar sua colaboração nessa luta, não só através de uma canção, mas das atitudes do dia a dia.
- O momento é de alerta, e quanto mais pessoas num mesmo propósito, maior será a chance de dar certo. A canção fala sobre todos nós que choramos a morte do rio, mas esquecemos de que ao mesmo tempo não fazemos nada para mudar a situação, a começar de hábitos pequenos em nossa casa. A letra diz: “A procissão em léguas chorando por Chico, ninguém sabia ao certo se velho ou menino/ergueu-se à Deus um canto de pura amargura, um lamento de culpa, clamando aquela chuva de florescer sertão” – revela.
Nara tem um CD autoral gravado em 2015, com o título “Mais que um segundo”, que toca bastante nas rádios, seguidas de “Ainda te amo”, “Tênis do seu caminhar” e “Não diga que não avisei”. Um CD repleto de baladas românticas, com influência pop, que fala do cotidiano das relações humanas, encontros, despedidas, amores.
- Meu projeto é entrar de maneira forte nas plataformas virtuais, além de buscar parceiros para banda suporte (e que me suporte! risos.), além de assessoria empresarial.
Nara por Nara
O que você mais aprecia em seus amigos? Fidelidade e companheirismo.
Sua atividade favorita é: Cozinhar e ver que todo mundo apreciou.
Qual é sua ideia de felicidade? Viver em paz comigo mesmo.
Um animal: cachorro.
Quais são seus autores preferidos? Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Milton Nascimento e Djavan.
E seus cantores? Milton Nascimento e Djavan.
Que dom você gostaria de possuir? Adoraria entender da parte técnica e equipamentos de produção de música e vídeos.
Qual é seu atual estado de espírito? Ansioso.
Qual é o lema de sua vida? Ser honesto a todo custo, tentar ao menos pensar e ser justo.
Momento preferido do dia: Manhãs.
Uma mania: olhar a hora todo instante.
Gasta muito com: instrumentos musicais.
Um sonho de consumo não realizado: Ter um vídeo profissional de alguma canção minha com roteiro escrito por mim.
Uma lembrança de infância: São tantas inesquecíveis! O dia em que ganhei um bolo de aniversário no formato de um imenso violão amarelo, aos 6 anos de idade.
Uma vaidade: Escutar que gostaram de uma música ou comida feita por mim.
Tem medo? Bastante. Sofrer por antecipação, ansiedade de dar certo ou não algum projeto, relações e mudanças.
O que você considera a sua maior conquista? Ter gravado meu CD aos 27 anos de idade. Sonho de criança realizado.
Qual é o seu maior tesouro? Minha família, indiscutivelmente.
Qual foi a maior tristeza de sua vida? Artista sofre por tanta coisa no seu mundo interior, tem dores particulares que poucos compreendem. E ao mesmo tempo surgem com uma força grandiosa que nos eleva para o bem.
Defina-se em uma palavra: Alma.