Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
Se faltam apoio, espaço e incentivo para os movimentos musicais em Montes Claros, não se pode dizer que estes não têm determinação de sobra para preencher as lacunas deixadas pelas políticas públicas. Uma amostra disso é a iniciativa do grupo hip hop Missionários MC’s que desde 2002 vem trilhando os tortuosos caminhos da arte, cantando, dançando e ensinando aos jovens iniciados no hip hop a cuidarem da mente e se protegerem contra os malefícios dos vícios e da violência que imperam livres e soltos nos bairros periféricos da cidade.
Bee bop, compositor e cantor, o MC Messias, em visita à redação de O NORTE, conta que, para manter o trabalho do grupo, precisa se reinventar a cada dia.
O bee bop, compositor e cantor, o MC Messias diz que para manter
o trabalho do grupo é preciso se reinventar a cada dia
(foto: WILSON MEDEIROS)
- Gravamos nosso primeiro CD em 2002 (O passado nos condena/independente), o primeiro CD de hip hop gravado por um artista do Norte de Minas, e, durante anos, nos limitamos a apresentações em espaços abertos por nós mesmos. Apesar da falta de remuneração, tivemos a vantagem de fazer o trabalho conforme acreditamos: dançamos, cantamos e levamos uma mensagem positiva a pessoas normalmente ignoradas pelas promoções culturais e artísticas da cidade – conta Manoel Messias Bispo, 31 anos, e diz que o trabalho do grupo é feito em parceria com uma legião de fãs do hip hop.
O Missionários MC’s lançou, este ano, o CD Moc City Hip Hop, onde reuniu doze grupos de hip hop da cidade, com 14 faixas, todas de composição dos grupos, com letras engajadas e batidas marcantes.
Neste sábado, os grupos se reúnem para apresentar o repertório do disco, a partir das 14h, na escola municipal João Vale Mauricio, no bairro Vilage do Lago II. A entrada é um quilo de alimento não perecível, que será doado para a comunidade do bairro.
- Montes Claros possui dezenas de grupos hip hop e todos são parceiros. Isso fortalece o movimento, que ganha mais força ainda quando promove encontros entre as comunidades – completa.
Para acompanhar as tendências musicais, Messias diz que o grupo reuniu novos integrantes, inclusive dançarinas e vocalistas, que deram um novo estilo ao movimento.
- Fica mais fácil atrair o público quando se tem mais pessoas no palco, até porque o hip hop é de muita expressão, energia e vibração. Essa nova formação do Missionários está emplacando – ressalta Messias.
O MC lamenta a falta de espaço para apresentação do grupo.
- Também estamos com dificuldade para dar andamento ao trabalho social que fazemos com as crianças da periferia. Normalmente, nos fins de semana, promovemos oficinas de dança e, aproveitamos a oportunidade para falar às crianças sobre a importância da família, dos perigos do consumo de álcool e drogas, e sobre a violência. Essas conversas são importantes porque muitas dessas crianças vivenciam esses problemas em casa, com pais alcoólatras, assistem a brigas de rua, vêem pessoas serem baleadas e mortas na porta de suas casas. Mas para continuar precisamos, de local para os encontros, de apoio de voluntários. Vamos continuar tentando, afinal, é isso que dá sentido ao movimento – conclui.