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Quinta-Feira,13 de Novembro

Uma cantora de mão cheia: Para todos os públicos e todas as idades, sem fronteiras. Assim é a música de Maristela Cardoso

Jornal O Norte
Publicado em 18/03/2011 às 10:35.Atualizado em 15/11/2021 às 17:24.

Adriana Queiroz


Repórter



Maristela é mãe de Ethel, Fabrício Alex, Igor e Carol, a avó de Hingrid, Gabriel, Mariana, Bruno, Maria Cecília, Felipe e Sofia.



A cantora lírica nasceu em Urucuia, que pertencia ao município de São Francisco, cidade para onde foi com os pais aos três meses de idade.



- Fui criada até os 12 anos entre São Francisco e Urucuia, hoje emancipada, num ambiente cujo cenário mesclava armazéns de secos e molhados, fazendas, rios e córregos, pastos de capim vermelho, bengo, secas e cheias, gado leiteiro e de corte, porcos, ovelhas, galinhas, cavalos, carros de boi. E, ainda, requeijão, beiju, tachos e mais tachos de doces variados, mel, frutas nativas e cultivadas, hortas, queimadas nas roças de feijão, algodão, arroz, mandioca - enumera sorridente.



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Foi nesse clima de fartura que seus pais, seu Antônio Cardoso da Mata e dona Orestina Ferreira dos Santos, também compartilhavam com a família, parentes e amigos, muitas brincadeiras, que ainda hoje permeiam o trabalho da cantora.



- Declamávamos quadras e poemas, parlendas, travalínguas, jogávamos versos, cantávamos em rodas, dramas e danças aos pares, às vezes em grupo, sem esquecer das rezas em Urucuia, cantadas e recitadas por dona Ana e Socorro e das missas em latim em São Francisco pelo padre Quirino.



Era nas noites de lua cheia, principalmente em Urucuia, que não tinha luz elétrica, na porta da casas, que Maristela participava da cantoria ao som do violão tocado pela irmã mais velha, Marina, pelo bandolim da irmã Lúcia. Elas tocavam por partitura, pois já estudavam na escolinha de música de São Francisco. Tudo acompanhado pelo verde olhar da irmã mais nova Marluce, que até hoje, entre rusgas e mimos, na assessoria de Maristela.



Maristela conta saudosa como eram os bailes com acordeon, pandeiro e caixa.



- Uma alegria! Todos se divertiam. De quebra, as folias, pastorinhas, a dança do quatro, e assim por diante. Lá pelos 4 ou 5 anos, não me recordo bem, fui estudar na escolinha do Bom Menino e foi uma delícia o contato com a massa de modelagem, desenho, pintura e outras atividades diferentes das que praticava em casa e nas brincadeiras com colegas. Participava de coro falado, cantos, danças e declamações. As tias Selme, Lilane e Ceci. Doce lembrança - conta.






NAMORO COM A MÚSICA



Maristela fala também da importância das longas visitas de parentes, amigos e vizinhos onde sempre era requisitada a declamar e cantar.



- Aos 6 anos tocava acordeon, instrumento que aprendi sozinha observando meu avô Manuel dos Santos, meu tio José Vieira e outros tocadores de Urucuia amigos da família. A princípio era uma barulheira louca e todos reclamavam, diz.



Com o passar do tempo, observa a mãe cantarolando algumas músicas. A menina então ouvia e reproduzia no instrumento. Havia em sua casa um método para aprender a tocar acordeon.



- Eu não sabia ler e ficava admirando aquelas indicações sem entender nada e matutando - brinca.



No grupo escolar se repetem as cenas musicais, as poesias e danças.



- Certa vez me vesti de índia e me apresentei dançando e cantando num grêmio. Fui alvo de gracinhas, alguns colegas disseram que eu estava com os botões um pouco crescidos. Fiquei uma semana sem ir à escola com muita vergonha - conta.



Nesta época Maristela fez a primeira comunhão e entrou na cruzadinha.



- Foram tempos de muitas orações e canções: canto em uníssono e a duas vozes ensinados por dona. Carmenia, missas em latim ensinadas por dona. Virginia acompanhadas ao harmônio por dona. Conceição e dona Natália e ao violino dona Marlene. E não me esqueço do professor Clemente Sá cantando Santa Lúcia com o olho na partitura, o que me chamava muito a atenção quando participava do movimento de grupo de jovens onde também havia música, dança, poesia e rezas - diz.






NOVA FASE



Aos doze anos, em Montes Claros morando na Doutor Veloso, Maristela foi logo procurar a cruzadinha na Igreja Matriz.



- Não logrei participar. Minha mãe me matriculou no Instituto Norte Mineiro de Educação e lá, além do esporte, queimada e vôlei, participava do grêmio com as colegas de classe onde cantava, declamava e tocava. No ano seguinte fui matriculada no Colégio Estadual Professora Dulce Sarmento e sem demora me ingressei no coral regido pela professora Regina Coelho que me incentivou estudar no Conservatório.



- Minha vida pregressa de estímulos e vivências cultural e artística se firmou. Todas as brincadeiras, artes e artifícios se tornaram flechas certeiras direcionadas a um estudo com muita dedicação e entrega quase total, pois adolescência, namoro, noivado, casamento, filhos e netos, tudo em minha vida a partir daí foi emparelhado com as atividades acadêmicas, artísticas e musicais, até os dias do hoje - diz.



Em 1973, Maristela iniciou seus estudos no Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez nos cursos de piano, canto e, mais tarde, o curso de Educação Artística. Em 1975 lecionou Educação Artística no Colégio Paulo VI onde passou a reger o Coral antes mesmo de estudar a disciplina Regência. Ali montou o grupo de dança e teatro, organizou exposições de artes plásticas com os alunos que não participavam das outras atividades.



- Trabalhar neste colégio foi pra mim uma outra escola além do conservatório. Foi fantástico!



Na década de oitenta, Maristela concluiu os estudos de Canto e Educação Artística e iniciou a faculdade de Canto no conservatório brasileiro de música no Rio de Janeiro. Em 1987, professora do Celf e à frente do Coral Lorenzo Fernandez, reativou o Encontro de Corais que culminou numa apresentação com a Banda do 10ºBatalhão de Montes Claros.






TRAJETÓRIA



Maristela sempre atuou como solista em recitais, concertos com orquestra e com pianos, casamentos, entre outros, em Montes Claros e região, Belo Horizonte, Rio, São Paulo, Aracajú, São Luiz do Maranhão e Portugal.



Fez também shows de canto popular onde realizava um mix com canções eruditas. Como seresteira participou aos 16 anos por algum tempo da Seresta Lágrimas ao Luar. Em uma das apresentações em Belo Horizonte durante um Congresso Mineiro de Medicina, eis que surge o Presidente Juscelino Kubistcheck, com sorrisos e lágrimas de emoção.



- Essa lembrança me encanta até hoje - diz a cantora que na década de 90 participou da Seresta João Chaves e ouvia com prazer e encantamento a linda voz de seu Nivaldo Maciel.



Para ela, foi muito importante o contato e influência de Maria Lúcia Godoy e nomes renomados como Cacilda Borges, Amália Conde, Graziela Salermo, Eladio Gonzalez,Cecília Conde, Vitor Olivares, Margarita Schack, Antonio Salgado, Parizia Morandini, Gerald Doderer, Maestros Gherald Kegellmmann, Ivo Cruz, Mario Mateus, João Bosco, Joaquim do Espírito Santo, Carlos Alberto Prates, a internacional Lleana Cotrubas e seu grande amigo Francisco Mairynk, dentre outros.






CENÁRIO ARTÍSTICO E CULTURAL



- O que percebo hoje em Montes Claros é uma cidade perene em talentos musicais e um grande avanço no sentido de canalizar o dom pelo estudo da música e de técnicas performáticas para um melhor nível de desempenho. É significativo o número de aspirantes a profissionais da arte que buscam aperfeiçoamento. Uma divina providência viabilizada pela existência do Celf e que se estende até o curso de música da Unimontes. E digo a todos que tenham interesse em praticar a arte do canto em qualquer modalidade que busque a técnica e algum conhecimento básico mesmo que não seja estudante de uma escola de música regular. Não corram riscos ao executar sem apoio e instrução. Fiquem de olho na prática de uma respiração adequada e colocação de voz pertinente para preservação da saúde, da profissão e deleite do público que acolhe - aconselha



Maristela participa de Clubes de Serviço como o Rotary, Elos Clube e da Amigas da Cultura.



- Considero de suma importância estas participações para o meu crescimento pessoal ainda colaborar para o bem comum e paz mundial - diz.



Em seu currículo, entre centenas de importantes trabalhos, destacam a participação na ópera Madame Butterfly, do compositor G. Puccini; grupo Facearte, grupo lírico Bezzi, o Ensemble Lirais, além da gravação do CD Maristela Cardoso In Concert,  lançado em julho de 2010 em Urucuia. De 1996 a 1999 estudou em Portugal no Conservatório Regional de Gaia e na Universidade de Coimbra.



Ao retornar retomou aulas, os trabalhos com o Grupo Bezzi, o Coral Brejeiro e outros corais foram por mim criados por ela como o In Nomine Dei do Seminário Maior que culminou com a gravação de um CD, o Coral em CY do Centro Espírita Canacy e em meados da década de 2000 retornei à Seresta João Chaves onde participa até o momento.


 

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