Tino Gomes: Brasilidade dos catopês em trabalho de montes-clarense

Jornal O Norte
09/09/2008 às 10:51.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:43

Samuel Fagundes


Repórter

O cantor, compositor, músico, ator e escritor Tino Gomes lançou recentemente o seu 13º CD intitulado Catopezera Brasilis. Ele esteve em Montes Claros, recentemente, divulgando seu trabalho e em entrevista concedida a O NORTE, revela que o nome do disco é o mesmo de um projeto que ele tem em Belo Horizonte em que tenta manter viva a cultura do Catopê.




Apesar de estar morando em Belo Horizonte, Tino


sempre vem a Montes Claros
 (foto: SAMUEL FAGUNDES)

Em seu novo trabalho, Tino faz uma mistura de vários instrumentos essencialmente brasileiros como tambores, pandeiros, bandolins, violas, cavaquinhos, dobros, afoxés, patangomes, e também guitarras e baixo elétrico. Apesar da forte influência dos Catopês com a batida de seus tambores, Tino afirma que esse não é um CD de música regional.

- Eu acho que esse disco é um disco da música popular brasileira. A minha música é feita com as raízes daqui, mas não é um disco regional. Eu não tenho essa preocupação, mas por outro lado quanto mais você é regional, mais é universal. Quanto mais você fala do seu quintal, mais você é universal – conta o bem humorado Tino Gomes.

RITMOS

Ele conta que sempre gostou muito do swing e dos ritmos das músicas brasileiras e relembra que todos nós temos as influências dos tambores de Zumbi dos Palmares, que essa influência dos Catopês é toda africana, e que no disco também tem samba com guitarras que ele se inspirou nos sambas antigos dos Novos Baianos.

- Esse trabalho tem o afoxé, a batida do xote, da embolada, e tem a parte toda do catopezera que é a batida dos tambores que eu misturo o congo com os catopês. O disco é essencialmente brasileiro, é uma volta às coisas que eu sempre fiz, do som que eu gosto de fazer, eu misturo essa pegada do rock in roll com os tambores – revela Tino.

CD

O artista diz que hoje se preocupa em mostrar seu trabalho, como aquele trabalho de “formiguinha”, como outros artistas que também fazem essa mesma linha, que segundo ele mesmo não é um trabalho de grande mídia, que está em todas as rádios e canais de televisão, mas é um trabalho com qualidade e identidade brasileira.

- Eu tenho consciência de que esse não é um trabalho que esta vai estourar na televisão, mas é um trabalho que tem uma sustentação. É um trabalho super honesto feito com carinho e o pessoal tem gostado demais, é um disco super bacana, tranqüilo para se ouvir em casa e tem uma pegada e um swing bacana - afirma.

ORIGENS

Falando sobre suas origens nos Catopês, Tino relembra que desde menino sempre morou na região da cidade onde se batucavam muito os tambores. E que apesar de tocar com instrumento de corda sempre bateu lata e sempre gostou dos Catopês e que mesmo apreciando os Marujos e Caboclinhos, o que o marcou mesmo foi o toque dos tambores que é muito forte. Ele relembra que essa tradição é algo genético.

- No meu novo show são três percussionistas, no palco são oito tambores, eu sempre falo e remeto à minha terra, pois tudo que eu aprendi foi aqui. Apesar de ter rodado o mundo meu trabalho todo parte daqui. O meu avô encomendou com Godofredo Guedes, em 1942, um quadro de Nossa Senhora do Rosário para minha mãe, que tinha 10 anos, fosse rainha dos catopês. É uma coisa genética e de certa forma, nós todos de Montes  Claros, até mesmo as pessoas de fora que chegam tem um carinho enorme pelos Catopês que fazem parte das nossas raízes, e um povo sem raiz não é nada - relembra o músico.

Tino Gomes conta que quando começou, tocava em bailes com músicas de Jimmy Hendrix e Creendance e revela que é essa sonoridade da guitarra do rock in roll que ele aprecia.

MÚSICA ATUAL

Quando perguntado sobre o cenário da música brasileira na atualidade, Tino diz que hoje tem muita coisa bacana, mas que tem muita coisa sendo mal feita também e que pretende atingir o maior número de pessoas possíveis que curtem o tipo de música que ele faz, essa música que fala do Brasil, que tem algo mais que o “melado de água com açúcar” como ele mesmo disse se referindo a essas músicas que só falam de um amor perdido e coisas do tipo.

- Quando eu era mais novo eu brigava e insistia nas rádios, hoje não insisto mais, temos tantas alternativas, temos o computador, se a rádio não tocar o computador toca, temos muitas maneiras de chegar à mídia. Hoje a gente toca para cinqüenta pessoas, amanhã para três mil depois para mil, depois para quinhentos. Isso não interessa, o negócio tem que ser é bem feito - afirma

Sobre essas novas alternativas e também sobre a pirataria, Tino fala que é uma arma que aponta para dois lados; serve como divulgação porém não traz nenhum retorno financeiro ao artista que muitas vezes gasta muito com a produção de um CD.

- É uma loucura, começou primeiro com pirataria, depois começou com isso do computador que a pessoa faz o download e tal. É uma arma poderosa de dois lados, ela pode por um lado divulgar o artista, mas por outro lado não dá o dinheiro para o mesmo, embora no meu caso se baixar o download eu não ligo, porque para mim é uma forma de entrar na mídia. Ligaram-me outro dia e falaram que as minhas músicas estavam todas disponíveis para baixar, eu nem sei quem colocou isso, mas já que ta lá deixa ela lá. Mas hoje a maioria das coisas o computador serve para divulgar. Tudo é divulgação, temos que descobrir depois como faturar com isso. Uma vez que as grandes emissoras não tocam, então temos que correr atrás é da alternativa. Aquela coisa bem guerrilheira – revela.

TEATRO

Ele também está produzindo o espetáculo de humor Tino Gomes, cantoria, poesia e uns casinhos de safadeza com a direção de Jackson Antunes, que irá estrear em outubro em Belo Horizonte e será com Tino Gomes, sem banda, contando “causos” e histórias.

AGENDA

O CD Catopezera Brasilis foi gravado de maneira independente por Tino Gomes e ainda não tem data para o show de lançamento em Montes Claros, porque segundo o músico ainda falta a escolha de um local adequado. Ele pretende divulgar seu trabalho também nas praias da Bahia, pois esse tipo de som tem muito a ver com o descanso e sossego. Seu próximo show será dia 13 de setembro no teatro da biblioteca pública de Belo Horizonte na Praça da Liberdade.

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