João Batista de Almeida Costa
Gu Ferreira procura com sua arte retratar homens e mulheres que com seu olhar de flaneur percebe no cotidiano de suas andanças por sua cidade e por outras cidades do Norte de Minas. Ele tem como material para concretizar seu olhar coisas que no dia a dia são utilizados com outros fins, papel e caneta.
Dessa forma, articulando o que vê com o que utiliza para eternizar suas percepções ele fixa, aquilo que o antropólogo americano Clifford Geertz fala sobre o fazer etnográfico, o discurso social. Há uma leitura crítica da realidade social vivida pelas pessoas que ele criativa e artisticamente olha com seu olhar de flaneur. Gu Ferreira é um artista do seu tempo e coerente com a realidade social de seus “modelos”, utiliza um material tão adequado aos espaços sociais das pessoas fixadas em seu
discurso social, através da arte.
Poderia recorrer a outros materiais, mas eles seriam adequados nestes tempos de fugacidades? Neste tempo de deslizamentos? Nestes tempos de transitoriedades? Ao olhar suas pinturas, aparentemente singelas, deve-se procurar assumir o olhar do flaneur e procurar ver para além da primeira impressão, olhar o discurso social nelas fixadas, para se compreender a profundidade e a beleza com que Gu Ferreira traz a nossa observação a vida aparentemente simples das gentes de Bocaiúva e de outras cidades do Norte de Minas.
Gu Ferreira
Natural da cidade de Bocaiúva, Estado de Minas Gerais – Brasil, vive entre cidade natal e Montes Claros – MG, cidade que o acolheu. Desenvolve importantes trabalhos de pesquisa e produção artística. Seu universo de investigação científica se alinha às temáticas de suas obras que vão desde o Sertão Norte-Mineiro, suas alegorias, discursos e diálogos, passando pelo Africanismo e a formação sociocultural brasileira, até questões de gênero que se imbricam nos saberes e fazeres das mulheres artesãs do Vale do Jequitinhonha e do Norte de Minas Gerais onde rastreiam suas andanças. Os atributos das imagens e idéias que se movimentam em seu trabalho vão além da realidade e das aparências.
Da aproximação de seu cotidiano com as dinâmicas pesquisadas, a verossimilhança de uma narrativa que se projeta na interface entre um plano ficcional dos Sertões do Mundo, uma visão Africana apurada e olhares sobre mulheres artesãs que processam a vida a cada gesto. Em meio a técnicas apuradas e, extenso trabalho de pesquisa, seu traço singular vasculha cosmologias indissolúveis e interações de diferentes universos artísticos. Artista Plástico projeta suas inquietudes em telas e esculturas sob o tom colibri das infinitas possibilidades artísticas. Um artista único. Um digno representante da nova safra de artistas dos Gerais.
MOSTRA
Nessa primeira mostra de seu trabalho, a face mista e esferográfica de seus traços. Na busca de um contato com o atento observador, as curvas anunciam o porvir. Nos detalhes de sua obra, olhares
acumulados de lugares e pessoas que conheceu. A densidade de sua obra enraizada, presencial, articulada abstrai e é abstraída pelo cotidiano simples das pessoas.
Paradoxalmente, o velho em relação ao novo, se reproduz. O recorte conceitual se funde ao recorte histórico. O todo monolítico de suas representações é resultado da articulação de elementos fundantes da própria existência humana. Sua linguagem é direta. Não há arestas desarticuladas daquilo que é. A obra de Gu Ferreira é a própria tradução do real vivido resultado de suas percepções. Um verdadeiro convite à viagem.
Divulgação
