Sob, fitas, brilhos e cores, a emoção de estar lá dentro

Jornal O Norte
15/08/2008 às 22:31.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:41



Agosto, mês peculiar dos montes-clarenses. As ruas da cidade ganham mais cor, brilho, e cativam as pessoas em torno de uma tradição de mais de 160 anos. São as Festas de agosto trazendo vivacidade, renovando alegrias e perpetuando valores. As pessoas se sentem chamadas à participação, tanto as que aqui moram quanto os turistas e, a cada ano, a beleza se repete e enche de êxtase e de orgulho o coração de todos.

A parte antiga da cidade torna-se palco dos mais variados eventos, shows, arte e cultura. Todos se sentem transportados a uma época de magia e pureza e, nesse convívio de crenças e costumes de nosso povo, tenho a impressão de que as pessoas se tornam mais alegres, mais sensíveis e cordiais.

É assim que me sinto: revigorada pelo entusiasmo contagiante das festividades, pelo barulho, pelas cantigas, cores, brilhos, fitas e uma infinidade de atrativos que me prendem os olhos e os sentidos.

E, levada por esse espírito de festa, reuni em casa, logo pela manhã, algumas fitas coloridas, uma pena, agulha, linha e as memórias do nosso folclore, para construir um enfeite para cabeça, como o dos catopês. Era dia de festa. Vestida de branco, fui para a concentração do desfile e misturei-me às pessoas que ali aguardam seu início.

Começa o cortejo pelas nossas principais ruas. O sol de agosto lá no céu e, aqui em baixo, os sons, enfeites e sorrisos enchendo de vida e alegria as pessoas que desfilavam. Dava gosto ver as pessoas se esmerando para manter vivos o folclore e a cultura norte mineiros.

E lá estava eu participando do desfile e testemunhando o valor de nossas tradições, e sentindo na pele uma emoção indizível.

Notei que as pessoas que assistem à beleza dos Ternos do Congado também sentem vontade de participar; querem tocar os catopês, demonstrar sua apreciação, cumprimentar. E, cumprimentada pelas pessoas, percebi que, inocentemente, tinha virado parte da tradição cultural. Eu, ali, entretida na dança ritmada ao som dos violões e pandeiros; envolvida pelo olhar atento das crianças.

E senti-me emocionada. Imensamente emocionada. E essa emoção levou-me a viajar no tempo. Memórias de infância, da Rua Santa Efigênia, onde nasci, nos Morrinhos, perto de onde hoje funciona a sede da Associação dos catopês, de onde corria para ver o desfile passar.

De volta ao presente, converso com Mestre Zanza, Aroldo Pereira, Padre João, pessoas iluminadas, presentes todos os anos na organização do desfile.

Extasiada por participar das Festas de agosto, desta vez do outro lado, com a visão de quem está dentro, tenho a certeza de que a tradição nunca morrerá, porque senti a força deste nosso povo, seu talento e religiosidade.

Os Reinados de São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e do Divino Espírito Santo e seus desdobramentos nos catopês, marujos e caboclinhos, cores, ritmos e, acima de tudo, muita fé, continuarão a enfeitar as ruas de Montes Claros pelo tempo afora, arrancando emoções e suscitando admiração sempre renovada.

Raquel de Queiroz Muniz

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