Logotipo O Norte
Sexta-Feira,19 de Setembro

Sob a égide de Ruy Rezende - Ator ministra oficina de interpretação para atores norte-mineiros durante a X Mostra de Teatro

Jornal O Norte
Publicado em 21/07/2011 às 20:18.Atualizado em 15/11/2021 às 17:32.

ADRIANA QUEIROZ


Repórter



Adriana Queiroz


null


Ator é o convidado especial da X Mostra de Teatro



Um dos convidados especiais da X Mostra de Teatro em Montes Claros, que acontece até o dia 09 de agosto, é o ator mineiro Ruy Rezende, que está na cidade para ministrar oficinas de teatro.



Antes de se despedir da mostra, o ator que reside em Belo Horizonte, falou como surgiu o convite para vir à cidade.



Ruy disse que apesar de não ter tido tempo para conhecer melhor Montes Claros, achou a população muito diferenciada do resto de Minas, com uma miscigenação muito forte de índio, Bahia, coisa que não viu em outros lugares das Minas Gerais.



Quem também dá as caras na sala do Centro Cultural Hermes de Paula é a simpática escritora, autora e diretora de teatro, Sula Mavrudis, que veio junto com ele de Belo Horizonte.



- Sou muito amigo da Sula, ela tem muitos contatos. Ela conhecia o Haroldo Soares e como a gente está sempre em contato, fizemos um trabalho juntos em Belo Horizonte, surgiu o convite do Haroldo, e ela então sugeriu meu nome. Ele aprovou e aqui estamos - conta.



Ruy nasceu em Araguari-MG, onde frequentava muito o cinema e diz que a arte entrou em sua vida de certa forma acidental. Foi lá que o menino Ruy se tornou um frequentador assíduo das salas de cinema.



- Quando fui para São Paulo, fui com gosto pelo cinema muito intenso, como expectador. Quando eu era bem jovenzinho, em Araguari, ia muito ao cinema. Cinema era minha única forma de sair daquele ambiente pesado, que a gente mal conseguia respirar liberdade. Cinema era pra mim uma porta para o mundo - lembra.



Passado algum tempo a família inteira se transferiu para São Paulo e ele continuou com o hábito de ir ao cinema.



-Sempre me falavam que minha voz era isso, era aquilo (e ele tem um vozeirão mesmo). Aí comecei a me inclinar para o rádio. E fui trabalhar em rádio, ao mesmo tempo em que me integrei a um grupo de artistas amadores que todo ano realizava uma encenação da vida de Cristo. E aí trabalhando em rádio, fui trabalhar num complexo de televisão em São Paulo, chamado Emissoras Associadas, e que tinha várias emissoras. Com o declínio da rádionovela, perto do estúdio, onde consegui ser um locutor, através do vidro, eu enxergava os grupos da televisão que vinha ensaiar - revela.



Ruy Rezende diz que a partir daí, as tomadas foram sendo ligadas, e como fazia teatro amador, se sentiu motivado para tentar algum trabalho na televisão. Tanto insistiu que um dos diretores deu uma chance para ele.



- Dessa chance peguei outra, outra e nunca mais parei. O rádio ficou pelo caminho. Se bem que depois fiquei muito arrependido, porque eu poderia ter tentado levado os dois ao mesmo tempo, mas o teatro, a televisão, o cinema tomam muito tempo. Porque quando você não está trabalhando, você tem que está esperando. Se te chamarem e você não pode, como é que faz? Você quebra as pernas de sua própria carreira - conta.



A partir daí Ruy trabalhou muito em São Paulo, montou um espetáculo itinerante, viajou pelo país, de uma maneira muito precária, até chegar ao Rio de Janeiro.



Lá, no início dos anos 70 e todos falando muito da Globo, um ator que viajava com Ruy, companheiro que trabalhava na mesma peça, e que sempre levava notícias do Rio de Janeiro. E isso acabou despertando em Ruy, a vontade de ir ao Rio.



- Um dia fui muito sem esperança, sem expectativas e consegui lá um trabalho na Globo, depois outro, outro. E eu nem estava nem pretendo morar lá.



A partir de então, Ruy fixou residência no Rio. Ficou lá por muitos anos, afinal era mais confortável para ele continuar trabalhando e vivendo por lá.



Depois optou morar em Belo Horizonte já que não voltaria a morar mais em Araguari.



- Tenho ficado em Belo Horizonte, trabalhado razoavelmente. É claro que eu trabalharia mais estando no Rio de Janeiro e São Paulo. Mas dei uma chance para o meu lado pessoal, me senti melhor.



Ruy tem uma companheira, com a qual não vive mais junto, tiveram uma filha que hoje reside e trabalha nos Estados Unidos.



- Optei por Belo Horizonte, não só por isso que falei, porque tem essa pessoa, minha companheira, mãe da minha filha, ela tem sua residência, eu tenho a minha. Somos muito amigos, amigos mesmo. Optei por BH para ficar ao lado dela.



Teve um momento muito difícil em nossa vida, financeiramente, e essa minha companheira foi para os Estados Unidos, trabalhou lá, e minha filha também, só que só a mãe voltou. Minha filha hoje vive nos EUA.



Ruy acredita que o papel que mais lhe deu resultado financeiro e que o mostrou para o Brasil foi seu personagem da novela Roque Santeiro. Hoje, em qualquer lugar por onde vá, é reconhecido, mesmo passado muito tempo.



Embora tenha feito outros trabalhos que o agradaram tanto quanto, mas a repercussão é de fato essa que todos nós conhecemos.



Quanto ao teatro ele diz que não teve uma resposta em termos de carreira como teve na televisão. Trabalhou muito pouco.



- Meu grande lance mesmo não foi escolha minha foi - ou foi -, foi a televisão. A representação é muito parecida. Só que teatro é mais responsabilidade, você tem que trabalhar mais, ensaiar, preparar o texto, ali está você e o público. Você tem que estar bem equipado psicologicamente.



Para ele, trabalhar com os atores do Norte de Minas nesta X Mostra de Teatro está sendo uma experiência, quer dizer uma utopia, e explica.



- Fico pensando, quer dizer, se você tivesse um tempo. Aí é uma utopia. E estava pensando justamente nisso ontem. Se eu pudesse, digamos, assim, me entregar ao processo, de ficar aqui quatro, cinco meses e se eles pudessem se entregar - porque eles não vão poder se entregar – você poderia montar um belo espetáculo. Mas aí falta a presença do dinheiro, do material, do patrocínio e a entrega deles como profissionais. O que vejo ali nos exercícios que faço, vejo despontar uma pequena possibilidade de que aquilo pode crescer. Você poderia montar uma peça tão boa quanto em qualquer lugar com essas pessoas. Só que elas próprias não vão se responsabilizar. Elas estão vindo aqui porque são quatro dias de exercícios, mas aí como é que você vai bancar essas pessoas depois para elas virem ao ensaio todo dia? Elas têm compromisso. É uma utopia!Seria possível sim.



Em Belo Horizonte, tem um grupo que é patrocinado pela Petrobras e  consegue fazer um belo teatro. Eu conseguiria fazer aqui se eu me dispusesse também, parasse com tudo, coisa que eu não posso fazer - diz.



Quanto aos projetos futuros, ele diz que espera que surjam alguns trabalhos, que deem satisfação. Mas que não sonha mais em criar.



- Cheguei aqui com muita dificuldade. Puxa, vou dar mais um curso. Pensei: não tenho mais paciência, não tenho mais vigor, aquela chama, entendeu? Mas aí cheguei aqui, começou, tudo bem!



Pausa para cafezinho. E ele prefere com pouco açúcar. E nos conta que está lendo Henry James, romancista do final século 19, começo do século XX, um americano radicado em Londres, um dos maiores escritores da língua inglesa.



- Já li muito querida. Hoje estou meio saturado. Muito difícil, estou lendo Henry James, estou no final de toda a saga dele, quase tudo que ele escreveu. Quando um escritor me agrada, eu quero ler tudo do cara. Foi assim com outros que li, como Guimarães Rosa - conta



Ruy se despede, volta para sala onde estão os alunos à espera de um ator dedicado, sério e extremamente exigente. Melhor assim!


 

Compartilhar
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por