Sertão universal: exposição comemora 50 anos de livro de Guimarães Rosa

Jornal O Norte
20/12/2006 às 12:03.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:46

Exposição comemora 50 anos do principal livro de João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, e relembra a importância do autor e obra para a literatura brasileira

Jerúsia Arruda


Repórter


jerusia@onorte.net

As andanças e desventuras do jagunço Riobaldo pelos míticos campos das Gerais, Bahia e Goiás, seu amor impossível por Diadorim, o regionalismo, liberdades e invenções lingüísticas do único romance do escritor mineiro Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas pautam exposição que acontece de 18 de dezembro de 2006 a 5 de janeiro de 2007, na Galeria de Artes Godofredo Guedes do Centro Cultural.

A mostra faz parte de um projeto de exposições itinerantes da Superintendência de Bibliotecas Públicas de Minas Gerais, da Secretaria de Estado de Cultura, que vem contribuindo para o acesso do público aos autores brasileiros e suas obras.

Com imagens instigantes e linguagem perturbadora, a exposição reúne uma pequena antologia ilustrada, com 34 painéis de aproximadamente de 2 X 1,20 metros, com a biografia, bibliografia e comentários sobre o autor, além de trechos de suas obras, em comemoração aos 50 anos do lançamento da principal obra literária de João Guimarães Rosa, lançada em maio de 1965.

Com curadoria de Haroldo Marques e projeto museográfico e programação visual de Flávio Vignoli, a exposição traz textos e comentários de Paulo Dantas, Nilce Sant’anna Martins, Günter Lorentz e Carlos Drummond de Andrade - poema Um chamado João -, além de correspondências de Rosa com seus tradutores, o alemão Curt Meyer-Clason e o italiano, Edoardo Bizzani.

Temas como O amor, O mal, O Sertão, Os personagens, A Narrativa, A Travessia, O Livro dão título às xilogravuras que revelam o espírito inventivo roseano e estimulam o diálogo com o universo do escritor, pela originalidade, riqueza lingüística e oralidade que tanto encantam e intrigam o mundo, e que representa um estilo único na literatura brasileira.

JOÃO GUIMARÃES ROSA

O primeiro dos seis filhos de D. Francisca (Chiquitinha) Guimarães Rosa e do comerciante, juiz-de-paz, caçador de onças e contador de estórias, Florduardo Pinto Rosa mais conhecido por Seu Fulô, nasceu em Cordisburgo/MG em 27 de junho de 1908. Joãozito, como era chamado, com menos de 7 anos começou a estudar francês sozinho, por conta própria e somente com a chegada do Frei Canísio Zoetmulder, frade franciscano holandês, em março de 1917, pode iniciar-se no holandês e prosseguir os estudos de francês, sob sua supervisão.

Terminou o curso primário no Grupo Escolar Afonso Pena; em Belo Horizonte, onde foi morar com os avós, antes dos 9 anos. Em Cordisburgo fora aluno da Escola Mestre Candinho. Iniciou o curso secundário no Colégio Santo Antônio, em São João Del Rei, onde permaneceu por pouco tempo, em regime de internato, pois não conseguia se adaptar - não suportava a comida.

Estudou medicina na capital mineira e atuou como médico em muitos locais do interior do estado. Mais tarde, o grande admirador e conhecedor de idiomas como o alemão, inglês, italiano, esperanto, russo, latim, tupi entre muitas outras se tornou diplomata na Europa e na América Latina. Em 1963 foi eleito por unanimidade para a Academia Brasileira de Letras, mas só tomou posse em 1967, três dias antes da sua morte.

Entre suas principais obras estão Sagarana (1946), Corpo de Baile (1956), Grande Sertão: Veredas (1956), Primeiras Estórias (1962), Tutaméia: Terceiras Estórias (1969), Estas Estórias (1969) e Ave Palavra (1970).

GRANDE SERTÃO: VEREDAS

O terceiro livro de Guimarães Rosa, uma narrativa épica que se estende por 760 páginas, focaliza numa nova dimensão, o ambiente e a gente rude do sertão mineiro. Grande Sertão: Veredas reflete um autor de extraordinária capacidade de transmissão do seu mundo, e foi resultado de um período de dois anos de gestação e parto. A história do amor proibido de Riobaldo, o narrador, por Diadorim é o centro da narrativa. Além da técnica e linguagem surpreendentes, a obra se destaca pelo poder de criação do romancista e sua aguda análise dos conflitos psicológicos presentes na história.

Como bem disse Antônio Cândido, a experiência documentária de Rosa, a observação da vida sertaneja, a capacidade de entrar na psicologia do rústico e a paixão como descreve cada objeto ou pessoa, dá ao regional um significado universal, sem o qual a arte não sobrevive: dor, júbilo, ódio, amor, morte, para cuja órbita nos arrasta a cada instante, mostrando que o pitoresco é acessório, e na verdade, o Sertão é o Mundo.

A história ocorre no sertão mineiro, sul da Bahia e Goiás, numa narrativa densa, repleta de linguagens e invenções lingüísticas, marcada pela oralidade (Riobaldo conta seus casos a um interlocutor). O falar mineiro associado a arcaísmos, brasileirismos e neologismos faz com que o autor extrapole os limites geográficos e prosaicos para ganhar dimensão poético-filosófica (principalmente quando Riobaldo relata os sentimentos para com Diadorim ou tira conclusões sobre o ocorrido através de seus aforismos).

MOSTRA




(foto: Wilson Medeiros)

A exposição 50 Anos do livro Grande Sertão Veredas fica em cartaz até o dia 05 de janeiro de 2007, na Galeria de Artes Godofredo Guedes do Centro Cultural. As escolas interessadas em levar seus estudantes para conhecer exposição, podem agendar as visitas no Centro Cultural, na Praça da matriz. As visitas são gratuitas.

A partir do dia 05, a exposição segue para o Montes Claros Shopping.

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