Michelle Tondineli
Repórter
O projeto Encontro Marcado com Fernando Sabino vem a Montes Claros na próxima semana mostrar trabalho desenvolvido por crianças carentes e em risco social.
- Quero divulgar o trabalho do meu pai e levar para as novas gerações a cultura e sua ampla variedade. Ele foi um homem que escreveu belas páginas da literatura brasileira, que era escritor, poeta, cronista, cineasta e jornalista, dentre outras atividades. A exposição busca despertar no público o interesse pela arte. O projeto leva para as cidades as particularidades do escritor, como fatos biográficos e fotos, além de literatura e mostra de filmes - afirma Bernardo Sabino, idealizador do projeto.
O Encontro Marcado com Fernando Sabino já percorreu cidades de Minas Gerais e São Paulo, com diversas atividades.
- Desde que meu pai faleceu, eu resolvi me dedicar a projetos culturais em memória dele. Em 2007, realizamos exposições em Brasília e no Rio de Janeiro. Também quis levar a exposição a Muriaé, no interior de Minas Gerais, mas, como o custo era muito alto e eles não possuíam condições, adaptamos, com o Pitagui, amigo do meu pai, um formato menor, e virou exposição de painéis. Para minha surpresa, eles haviam trabalhado com os alunos e montaram outra exposição, com teatro, dança e trabalho manual – conta.
Em 2010, a exposição pretende percorrer 23 municípios, em duas fases. A primeira consiste no desenvolvimento de atividades com a temática do autor nas instituições de ensino do município; a segunda fase é a exposição por um período de 30 dias.
- A proposta, que consiste também na realização de atividades artísticas, conta com a participação dos alunos, no intuito de incentivá-los na aproximação da leitura e no conhecimento da obra do escritor. Serão desenvolvidas redações, desenhos, pinturas e peças teatrais - afirma.
Em Montes Claros, a exposição da vida e obra de Fernando Sabino acontece no Sesc de Montes Claros, de 02 a 30 de setembro. No mesmo período, será realizada no Sesc a mostra Olhar Lúdico, com fotos do autor e trabalhos desenvolvidos por crianças. Outras Informações (38) 3221-1018.
SOBRE O AUTOR
Fernando Tavares Sabino, filho do procurador de partes e representante comercial Domingos Sabino, e de Odete Tavares Sabino, nasceu em 12 de outubro de 1923, Dia da Criança, em Belo Horizonte.
Em 1930, após aprender a ler com a mãe, ingressou no curso primário do grupo escolar Afonso Pena, tendo como colega Hélio Pellegrino, que já era seu amigo dos tempos do Jardim da Infância. Desde cedo, revelou sua inclinação para a música, ouvindo atentamente sua irmã e o pai ao piano.
Com 12 anos incompletos, em 1935, tornou-se locutor do programa infantil Gurilândia, da rádio Guarani de Belo Horizonte. Frequentou o curso de Admissão de D. Benvinda de Carvalho Azevedo, no qual adquiriu conhecimentos de gramática que lhe foram muito úteis no futuro em sua profissão. Em 1938, ajudou a fundar um jornalzinho chamado A Inúbia (mesmo sem saber exatamente o que isso vinha significar) no ginásio mineiro. Ao final do curso, embora desatento, levado e irrequieto, conquistou a medalha de ouro como o primeiro aluno da turma. Começou a colaborar regularmente com artigos, crônicas e contos nas revistas Alterosas e Belo Horizonte. Participou de concursos de crônicas sobre rádio e de contos, obtendo seguidos prêmios.
No período de 1941 a 1944, prestou serviço militar na Arma de Cavalaria do CPOR.Iniciou o curso superior na Faculdade de Direito. Conviveu com escritores e, por indicação de seu amigo Murilo Rubião, ingressou no jornalismo como redator da Folha de Minas. Orientado por Marques Rebelo, reuniu seus primeiros contos no livro Os Grilos não Cantam Mais, publicado no Rio de Janeiro à sua própria custa.
Integrou, em 1944, a equipe mineira na olimpíada universitária de São Paulo, como pretexto para conhecer pessoalmente Mário de Andrade. Lêem, em voz alta, os originais da novela A Marca, que é publicada em seguida pela José Olympio Editora. Mudou-se para o Rio, assumindo o cargo de oficial do registro de interdições e tutelas da Jjustiça do Distrito Federal. Conviveu com Rubem Braga, Vinícius de Moraes, Carlos Lacerda, Di Cavalcanti, Moacyr Werneck de Castro, Manuel Bandeira e Augusto Frederico Schmidt, entre outros.
Participou da delegação mineira no congresso brasileiro de Escritores em São Paulo, no ano de 1945, onde, durante a sessão plenária de encerramento, em desafio à polícia ali presente, sugeriu ao público que fosse lida a Moção de Princípios proclamada pelo congresso, exigindo do ditador Getúlio Vargas a abolição da censura e a restauração do regime democrático no Brasil, com convocação de eleições diretas. Conheceu, então, Clarice Lispector, dando início a uma intensa amizade.
O relato da viagem à Europa, feita pela primeira vez por Fernando Sabino em 1959, está no livro De Cabeça para Baixo. Compareceu ao lançamento de O Encontro Marcado em Lisboa, Portugal.Visitou vários países, remetendo crônicas diárias para o Jornal do Brasil, semanais para Manchete e mensais para a revista Senhor, perfazendo um total de 96 crônicas em 90 dias de viagem.
O autor faleceu dia 11 de outubro de 2004 na cidade do Rio de Janeiro. A seu pedido, seu epitáfio é o seguinte: Aqui jaz Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino.