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Quinta-Feira,21 de Novembro
O luthier do sertão

Produção busca financiamento para filme sobre Zé Côco do Riachão

Da Redação
Publicado em 17/09/2024 às 19:00.

“Se cada um doar R$10 que seja, conseguiremos concluir nossa produção” comenta a idealizadora do projeto, a cineasta Andrea Martins (divulgação)

Zé Côco do Riachão contava que a Folia de Reis chegou em sua casa assim que ele nasceu. Talvez seja por isso o encanto e dedicação que ele, José “dos Reis” Barbosa dos Santos, sempre teve por essa manifestação de fé e cultura. Nascido e criado às margens do Riachão, no município de Brasília de Minas, Norte de Minas, Zé Côco viveu grande parte da vida no anonimato, realizando trabalhos manuais com madeira, incluindo o ofício de luthier, mas também trabalhando no campo e, nas horas vagas, tocando em folias e forrós. Com uma vida simples, ele construía violas e rabecas, e compunha suas próprias músicas — aprendeu tudo sozinho.

Sua habilidade incomparável na construção de instrumentos e sua capacidade de extrair sons únicos de cada peça de madeira transformada em instrumentos musicais, fizeram de Zé Côco uma referência singular e despertaram o interesse do também músico Téo Azevedo, que na década de 1980 foi o responsável em divulgar o trabalho de Zé Côco. O artista lançou dois álbuns de estúdio e foi notícia em todos os grandes jornais do país, como a Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, Correio Braziliense, Estado de Minas, Hoje em Dia, e tantos outros. Ele também participou de vários programas de TV, sobretudo aqueles dedicados à música de raiz. Sua fama saiu do Brasil e foi parar em países da Europa, dentre eles, a Alemanha, onde recebeu, de uma TV local, o apelido de “Beethoven do Sertão”.

Um ano antes de sua morte, que ocorreu há 26 anos, em 13 de setembro de 1998, a cineasta Andrea Martins, que cresceu na comunidade em que Zé Côco vivia, também de nome Riachão, porém agora no município de Mirabela, começou a trabalhar na realização de um filme sobre a vida do artista. Sua última visita ao Riachão foi filmada por ela para ilustrar parte dessa história. No entanto, com a passagem do protagonista e a falta de recursos, o projeto foi engavetado. Mas o trabalho não parou. “Durante todo esse tempo, reuni gravações, imagens, depoimentos, tudo que podia, com a esperança de, um dia, conseguir realizar o filme e não deixar esse legado desaparecer. Com um pequeno recurso recebido através de edital municipal do Sistema de Incentivo à Cultura (Sismic) de Montes Claros, pude recomeçar o trabalho, mas ainda temos um longo caminho para concluir o filme”, explica a cineasta e professora universitária.

O documentário, que inclui depoimentos de músicos, pesquisadores e familiares, é também uma homenagem à sua simplicidade e genialidade. “Nossa maior despesa, hoje, está no licenciamento de imagens de arquivo. Apenas na Rede Globo, Zé Côco esteve em programas como o Globo Rural, Fantástico, Video Show e Som Brasil, além de outros canais e TV Isso, sem falar das reportagens de jornais e outras fontes que já localizamos. Esse material é fundamental para a construção do nosso filme, e ainda não temos o recurso necessário para obtê-lo”, revela a diretora.
 
O SONHO DE ZÉ COCO
Para Luiza Rodrigues, filha de Zé Coco do Riachão, e que sempre o acompanhou em sua carreira, ver esse filme realizado é a concretização de um sonho que seu pai alimentava em vida. “Meu pai sempre falava que queria que as pessoas conhecessem mais a música dele, mas principalmente a forma como ele via o mundo. Ele queria que esse filme acontecesse. Ver a história dele contada de forma tão bonita é um presente para toda a nossa família. É um sonho meu também”, comenta emocionada.

Um dos destaques do filme será a participação do ator, cantor e compositor norte-mineiro Jackson Antunes, como narrador do documentário. Esse sempre foi um desejo da diretora, que chegou a abrir inscrições para selecionar o narrador. “Para nossa surpresa, o Jackson aceitou prontamente, pois sempre teve muita admiração e carinho por Zé Côco e, assim como nós, acha importante esse registro”, relata Andrea Martins.

A campanha de financiamento coletivo já está em andamento, e cada contribuição aproxima o projeto da realidade. “Atualmente temos um espaço na plataforma “apoia.se” (apoia.se/zecoco), mas o prazo para conseguir arrecadar o valor necessário, que se aproxima dos R$ 300 mil, está se esgotando. Atualmente, temos apenas 1% da arrecadação. Essa é uma chance de colaborar com a preservação de uma memória cultural única, garantindo que as futuras gerações conheçam o som que brotou da terra — do nosso Norte de Minas — pelas mãos de Zé Coco do Riachão”, reflete Andrea Martins. É importante ressaltar que qualquer pessoa pode colaborar, e com o valor que puder. “Zé Côco do Riachão tem milhares de admiradores pelo país afora. Se cada um doar R$ 10 que seja, conseguiremos concluir nossa produção”, finaliza a cineasta.

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