‘Papisa da moda’ conta história

Em novos livros, ícone fashion encara a própria trajetória e opina sobre o comportamento humano e as tecnologias

Flávia Ivo
28/11/2019 às 09:28.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:50
 (REPRODUÇÃO/INSTAGRAM)

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“Espero ter clareza e energia para escolher as melhores coisas para minha vida e para a minha saúde”. Esse é o mantra que, há tempos, a empresária e consultora de moda Costanza Pascolato, de 80 anos, repete diariamente. E dá certo, porque energia é algo que não lhe falta, apesar das batalhas enfrentadas com a depressão e outras doenças.

Ícone fashion no Brasil e também no exterior, a italiana, que chegou ao país com 5 anos de idade, é referência em estilo e elegância. Para a “Papisa da Moda”, como apelidou Costanza a jornalista e colunista social Joyce Pascowitch, apresentar-se de maneira simples e sofisticada é “um rito de autorrespeito”.

“Prestar atenção em nossa aparência não nos torna superficiais. Mais um mito a ser demolido, tão ultrapassado como a ideia de que estilo depende de gênero, beleza e juventude. Prestar atenção em nós é deixar o lugar de vítima – inclusive da moda”, escreve Pascolato no início do novo livro, “A Elegância do Agora” (Editora Tordesilhas).

O lançamento ocorre em paralelo ao de outra publicação, daquelas bem emocionais e pessoais. “O Fio da Trama”, escrito pelas filhas dela, Alessandra e Consuelo Blocker, e no qual participa com histórias registradas em diários. Mas o livro vai muito além disso, une três gerações de mulheres que fizeram e fazem barulho no mercado da moda.

A mãe de Costanza, Gabriella Pascolato, veio para o Brasil em meados da década de 1940, por ocasião da Segunda Guerra Mundial na Europa, e fundou uma das maiores indústrias têxteis do país, a Santa Constância. E é a partir dos diários da matriarca, esmiuçados por Alessandra em um demorado e meticuloso trabalho de pesquisa, que a trama vai sendo costurada.

Costanza Pascolato fala ao Hoje em Dia sobre os dois projetos e compartilha uma pequena parte de suas ricas experiências de vida.
 
Como foi escrever um livro em parceria com as filhas?
Foi muito mais difícil do que tudo o que fiz na vida. “O Fio da Trama” resgatou a minha mãe para mim. Ou seja, a minha filha (Alessandra Blocker), que fez um trabalho incrível, resgatou minha mãe. Eu a via de um jeito, e acabei conhecendo uma outra pessoa. Nós tínhamos temperamentos radicalmente diferentes, e eu era muito sonhadora, além da dislexia, que naquela época ninguém sabia o que era. Não sei contar até hoje, apesar de minhas finanças estarem certinhas. Mamãe era uma mulher forte, que não queria seguir as regras da época, em que a mulher tinha um papel secundário. Depois de ver essas histórias, a Alessandra me pediu que escrevesse sobre aquilo. Foi uma catarse, nada foi calculado. Além disso, minha filha sabia que eu também escrevia diários, nos quais extravasava minhas frustrações.
 
E o que achou do resultado do livro?
Só li um pedacinho, porque é um mergulho no obscurantismo da minha vida. Sempre fui muito honesta comigo mesma, não dá para viver de mentiras. Eu era aquela menininha que todo mundo achava burra. 
 
E a senhora deu um jeito nisso…
Não gosto de botar banca, mas o fato de ter nascido em uma família profundamente culta me fazia ser uma outsider. As ciências exatas, no século 20, passaram a ser fundamentais na reconstrução do mundo ocidental. E foi muito depois que começaram a respeitar a inteligência intuitiva, a que eu tenho, que é a emocional. Até o pessoal do Vale do Silício sabe muito bem que essa inteligência é fundamental, e toca mais neurônios do que a racional. 
 
E como é para a senhora encarar as mudanças tecnológicas?
Apesar de eu ser uma velhinha, sempre acompanhei os tempos com a curiosidade de uma criança, graças a Deus que ainda tenho isso. Não podemos perder a curiosidade, ela é útil e formidável. Às vezes, essa curiosidade me coloca em lugares complicados, mas, como eu tenho menos tempo para viver, isso me move, me deixa viva para fazer todas as coisas. Essa liberdade é que vai te dar o norte, e pode dizer com muita elegância, da maneira humana de olhar para os outros. Eu analiso o contexto geral: como as pessoas se comportam, transam, vivem. Eu, por exemplo, não tinha noção que poderia ter esses sites de encontros, isso não existia nem há 10 anos. As coisas estão mudando, e vão haver muitas outras, porque a tecnologia não para. A gente vai descobrindo as coisas.
 
E o que descobriu que mudou sua vida?
Olha, desde 2017, eu medito, e foi a melhor coisa que aprendi na vida. Tentei com grupos de pessoas, gurus, mas só consegui quando comecei a usar um aplicativo. Já tive câncer, síndromes, depressão profunda, mas medito todos os dias. A gente tem que agradecer porque está vivo. Repito todos os dias, há anos: “Espero ter clareza e energia para escolher as melhores coisas para minha vida e para a minha saúde”. Penso em não levar a ferro e fogo as coisas. Ao invés de nos rebelarmos frente aos problemas, temos que ter clareza e energia para pensar.

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