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Segunda-Feira,25 de Agosto

Onofre Santos: de Riacho dos Campos para o mundo

Sonhos, criatividade e surrealismo são palavras que definem o trabalho do norte-mineiro Onofre Santos

Jornal O Norte
Publicado em 26/05/2016 às 07:00.Atualizado em 15/11/2021 às 16:02.

Por Adriana Queiroz










Foto: Divulgação

‘Diálogos’, título da mostra na Galeria Márcia Prates

 

Ele dá vida a inusitados cenários, transformando o imaginário em real. Sonha conhecer a África, Alemanha e a Itália. Tem simpatia pelo artista barroco Cravaggio, importante pintor italiano do final do século XVI e início do XVII, e também por Rembrandt Harmenszoon, pintor holandês, considerado um dos maiores nomes da história da arte europeia e o mais importante da história holandesa.

Mas foi na fazenda em Riacho dos Campos, a 35 km de Montes Claros, que nasceu nosso entrevistado. Ele é filho do casal de lavradores Alexandra e José Pereira dos Santos. A família mudou para Montes Claros devido às muitas dificuldades que enfrentavam.

- Não me recordo de nada, tinha dois anos quando aqui cheguei. Meus outros quatro irmãos, por parte de mãe, também vieram juntos. Fui crescendo, fazia escada no chão batido, desenhava com carvão em paredes - disse.










Cristo no momento da prisão

 

Os anos se passaram e, em 1973, a família seguiu para São Bernardo do Campo/SP. Seu José se acidentou e precisava se aposentar.

- Lá em São Bernardo, a convite de um amigo que muito me incentivou, fui estudar na Associação São Bernardense de Belas Artes. Conversei com alunos, professores, que avaliaram meu trabalho. As coisas começaram a aflorar. Como não tinha condições de pagar, ganhei uma bolsa de estudos de Desenho e Pintura por um período de dois anos - revela.

Essa foi a ajuda inicial que o artista obteve. Auditada, Onofre não prossegui os estudos, porque só tinha o ensino fundamental. Neste tempo, conheceu uma professora estrangeira, uma grande mestre de pintura, e outro professor de Desenho Artístico.

- Os dois me avaliavam, me ajudavam com relação aos erros e acertos. Os alunos também foram peças importantes, - conta.

Foi nesse período que também conheceu Climério Cordeiro. Quem conhece o trabalho do saudoso artista sabe que nas suas pinceladas, as cenas rurais não são pretexto para nada. Valem em si mesmas. Ingênuas e serenas evocam o doce desejo de viver num mundo equilibrado e justo, em que as leis naturais e éticas predominem. A arte naïf do pintor baiano sempre apontou para esse ideal.

- Climério era um aluno que me levava na casa de outros pintores. Foi uma grande amizade. Seguimos outros caminhos, ele foi pra outras áreas - conta.

Para Onofre, não houve período difícil, já que seu desejo era produzir muito e aperfeiçoar seu talento.  Em meio a isso, tentou outras profissões, como motorista e tecelão.

- Não tinha ateliê em casa, mas meus familiares me incentivam, minha mãe posava pra mim, meu irmão tocava violão. Uma família e amigos eram tudo que eu precisava - disse emocionado.

Com o passar do tempo, Onofre foi trabalhar em indústrias, com desenhos artísticos, e lá fazia caricaturas dos próprios colegas. Para eles, era um meio de alegria e considera que, muitos tenham guardaram com carinho esses desenhos.

Em seguida, Onofre foi trabalhar no Holiday In, um hotel em São Bernardo. Como motorista-mensageiro, levava pessoas de muitos países às convenções. Teve contanto com os gringos e, com ajuda da recepcionista intérprete, conseguiu vender algumas telas que foram parar nos EUA, Alemanha e Peru.

- Foi aí que a ficha começou a cair. Eles estavam gostando das telas, um pouco de surrealismo, natureza morta, paisagem e figuras marinhas. Comecei a processar isso com mais intensidade, pensar em valores, marquei exposições, fui para as galerias - lembra.

Nos anos 80, seus pais retornaram a Montes Claros e o artista permaneceu em terras paulistas.  Nove anos depois, retornou para a sua primeira mostra na ‘terra da arte e da cultura’ e, convidado pela diretora de patrimônio histórico da secretaria de Cultura Raquel Mendonça, foi convidado para fazer parte da Associação dos Artistas plásticos do Norte de Minas.

- Em 2015, recebi um convite de Márcia Prates para expor em sua galeria e o resultado foi muito bom, muito divulgado.  Fiquei feliz, pois o trabalho foi aceito. Nunca coloquei valores à frente.  E o mais interessante foi receber os elogios de pessoas que têm conhecimento das artes. Apresentei, na ocasião, uma série de surrealismo místico e natureza morta. E a Márcia me incentivou completar esse material de natureza morta. Isso chamou atenção dela. Foi então que concluí a quantidade que a galeria precisava. Ela me deu um tempo.  E gostou muito.  Dei o nome para a mostra de “Diálogos” - revela.

EXPOSIÇÃO
Neste ano, amigos como Carlinhos Muniz o incentivaram a apresentar os trabalhos no Centro Cultural Hermes de Paula, no mês de maio.  Para ele, a ideia foi ótima.










O artista esteve na redação de O Norte para
contar um pouco de sua história


 

- O Centro Cultural é uma referência, recebe a visita de muitos estudantes.  Foram dias intensos recebendo um grande público. Também ofereço um curso no ateliê de Márcia Prates, um curso livre, para que os alunos possam soltar o que têm, pois talentos aparecem espontaneamente.

Para ele, Montes Claros representa muito em sua vida. Desde que aqui chegou, a cidade o recebeu muito bem, conheceu muita gente ligada a artes.

- Aqui tem uma energia diferente, um celeiro grande de artistas, um lugar muito bom para trabalhar com artes.

INCENTIVO
Para finalizar, peço um conselho para os jovens artistas plásticos.

- Não deixe nada guardado, apesar de que, na maioria das vezes, a gente engaveta tudo. Aconselho que tomem iniciativa, visitem as galerias, conversem com as pessoas ligadas às artes, procurem artistas. Se for auditada tem que lapidar esse talento, um curso livre vai ajudar.

ONOFRE POR ONOFRE
Sonho: Montar um bom ateliê, divulgar meu trabalho

Música: Música clássica, bem baixinho, outras vezes sertaneja, e também o silêncio

Não Gosta: Falsidade, e pessoas que colocam valores em primeiro lugar

Montes Claros: Ver as crianças nas galerias, no Centro Cultural, e artistas levarem seus trabalhos às faculdades.

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