
Cenas típicas da vida rural ganharam novos formatos e tonalidades na comunidade de Santa Cruz, área rural de Montes Claros, com a entrega do painel criado pelo artista Gemma Fonseca. A obra, finalizada nesta semana na sede da Associação de Pequenos Produtores e Trabalhadores Rurais, faz parte da contrapartida social da oficina “Arte no Campo”, aprovada no Edital nº 016/2023 — Demais Áreas Culturais, da Secretaria Municipal de Cultura.
Com quase seis metros de largura e dois de altura, o painel reúne três composições que destacam a simplicidade e a resistência do cotidiano no campo, características presentes no estilo de Gemma. A criação também contou com o envolvimento do aluno Nereu Júnior, jovem beneficiado pelo projeto, que descreveu a experiência como uma oportunidade transformadora.
“Foi uma honra aprender com um artista como o professor Gemma. Estar no painel foi especial. Mesmo dando aquele frio na barriga por ser algo novo, valeu a pena sair da rotina e mergulhar em outra forma de criação”, conta. Ele destaca que trabalhar ao lado do artista lhe trouxe inspiração e motivação: “Se eu conseguir chegar a uma fração do que ele representa, já estarei satisfeito. O painel ficou marcante e, para mim, ainda mais. Vale a pena ver de perto”.
O espaço onde a obra foi instalada é um importante ponto de encontro da comunidade, utilizado para reuniões, cursos e eventos. Para o presidente da Associação, Valter Soares, o projeto abriu portas e mostrou novos caminhos aos jovens locais.
“Esses jovens podem sonhar e ter um futuro profissional promissor, sem a necessidade de sair dos seus lares e distanciar-se das famílias e origens”, afirma. Ele considera o painel uma homenagem ao passado, presente e futuro do homem do campo, e acredita que a obra permanecerá como um registro afetivo. “Os associados poderão ver e rever essa linda obra e rememorar momentos importantes de suas vidas”.
A sede da Associação, que existe há quase 40 anos, ganhou um novo brilho com as cores aplicadas por Gemma, artista autodidata natural de Mirabela (MG). Apaixonado por desenho desde a infância, ele chegou a ingressar na carreira militar em 1974, mas deixou o posto cinco anos depois para atuar como cartazista em Belo Horizonte. A partir da década de 1980, passou a dedicar-se integralmente às artes plásticas, retornando a Montes Claros, onde realizou sua primeira exposição. Com trajetória consolidada, o artista levou sua obra para além das fronteiras brasileiras, participando em 2008 de uma exposição em Roma, na Itália. Neste ano, duas de suas criações, “O Pilão” e “As Lavadeiras”, foram selecionadas para a 2ª fase do vestibular seriado da Unimontes (Paes).
O projeto “Arte no Campo” disponibilizou 15 vagas e priorizou a inclusão, com reserva para pessoas negras, surdas, LGBTQIAP+, indígenas, quilombolas e outros grupos vulnerabilizados. A iniciativa buscou estimular a criatividade dos participantes e revelar talentos que, muitas vezes, permanecem distantes dos incentivos culturais disponíveis nos centros urbanos.
