Adriana Queiroz
Repórter
O pianista Thiago André Souza Ferreira, 19 anos, começou seus estudos em teclado aos nove anos. Ingressou no Celf - Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez incentivado pelo avô, Seu Geraldo Alves, um dos primeiros alunos do conservatório.
- Lembro-me de quando meu avô me levou para fazer a prova e de quando ele me acompanhava para fazer as aulas, quando o Celf funcionava na rua Dr.Veloso. Hoje somos vizinhos e quando estou estudando em casa, ele aparece por lá, para me ouvir tocar. Uma vez, no Natal, comecei a tocar para muitas pessoas, só que era música erudita. Todo mundo se retirou da sala, menos meu avô. Acho que por ser pouco escutada, as pessoas não familiarizam com a música erudita - conta.
Thiago já participou de diversos festivais e se apresentou em várias cidades brasileiras.
- Ano passado estive em Juiz de Fora, no 21º Festival Internacional de Música Antiga e Música Colonial Brasileira. Os profissionais que conheci lá, como Ângela Coelho, Nelson Nilo Hach e Nerisa Aldrigh, além de extremamente competentes, também foram muito gentis e solícitos - ressalta.
Thiago também fala com orgulho de seus professores Fábio Carvalho; Carmerindo Miranda, Margareth Kaiser, de Antonieta Silvério. Beth Meira e Cibele Baêta.
Pesquisar Bach foi para ele uma experiência gratificante.
- Bach foi um grande compositor, ele que basicamente organizou o sistema cravístico de estudos no cravo e que nós utilizamos no piano. Cravo é um instrumento de teclas com cordas pinçadas usado no Barroco, que surgiu no final da Renascença. Agora ele voltou na música do século XXI - explica o músico.
Thiago conta que vê em Montes Claros um campo inexplorável, pequeno, e reclama da falta de apoio dos órgãos públicos.
- Temos músicos excelentes, mas falta apoio e incentivo por parte do poder público e das empresas privadas. Muita gente acaba indo embora. Acho também que muita coisa melhorou, agora estão começando a criar novos espaços. Isso é bom porque os locais que existem estão sem condições para apresentações - observa.
Um dos momentos mais importantes na vida de Thiago foi o recital de formatura junto com a colega Ana Lícia.
- Havia muita pressão para eu passar no vestibular e ainda tinha minha formatura no Celf. Eu convidei trinta músicos amigos meus para o recital. Uma das peças executadas foi Batuque, de Lorenzo Fernandez. E para completar, passei no vestibular de Música, na Unimontes - lembra.
Para o músico o que não pode faltar na hora de assentar em frente ao piano é o aquecimento do corpo, ginástica com os braços, pescoço, aquecimento dos dedos e muita dedicação na hora do aprendizado.
Thiago é fã do compositor Beethoven, considerado um dos pilares da música ocidental pelo incontestável desenvolvimento tanto da linguagem, como do conteúdo musical demonstrado nas suas obras, permanecendo como um dos compositores mais respeitados e mais influentes de todos os tempos, Thiago diz que a Sonata Pathetica N° 08 OPUS 13 de Beethoven é algo que não pode faltar em um concerto de piano.
- Ela começa assim: com acordes pesados, bem lentos, parece que ele está preso a algum sentimento sombrio. Aos poucos, vai desenvolvendo uma mesma melodia, terminando numa escala cromática. Depois inicia em um movimento bem rápido, talvez simbolizando a libertação dele mesmo - analisa.
Thiago é orientado na faculdade de música pela pianista montes-clarense Talitha Peres, que hoje reside no Rio de Janeiro, e diz que a professora é uma de suas grandes incentivadoras.
O músico também tem como referência musical o pianista mineiro Nelson Freire, considerado um dos melhores pianistas do mundo pela forma que conduz sua longa carreira: poucos concertos, um número ainda mais limitado de gravações e uma absoluta falta de apetite para os rituais da fama.
Thiago também destaca o pianista Flávio Augusto.
- Assisti a aulas com o Flávio e para mim, o que chama a atenção é a simplicidade do músico, além do que, é uma pessoa disposta a compartilhar experiências e conhecimentos - acrescenta.
Para Thiago a experiência em participar do festival durante quinze dias em Juiz de Fora, foi gratificante.
- Falávamos só em música, trabalhávamos com música, vivíamos da música. Esses festivais nos incentivam a estudar ainda mais.
Para aos jovens que queiram se dedicar à música no Norte de Minas, o músico diz que é necessário que sejam humildes, que as coisas acontecem e acontecerão naturalmente. Perseverança, segundo ele, é fundamental; e dá um conselho:
- Com relação às críticas, saiba filtrar. Já pensei em desistir da música, mas ouvi uma palavra amiga do meu padrasto que me disse: Vá em frente!