ADRIANA QUEIROZ
Repórter
Karnielly é nome artístico. Inspiração em um momento especial de sua vida. Na verdade, o músico Laurinho Karnielly se chama Lauro Lúcio Gonçalves Pinheiro, filho do caminhoneiro conhecido como Zé de Sansão.
Sua mãe, dona Nenzinha, do lar, não seguiu carreira artística, mas é dona de uma belíssima voz.
Na infância o menino Laurinho ouvia dona Nenzinha cantar A casa do sol nascente conhecida na voz de Aguinaldo Timóteo.
Seu pai tocou uma só música no violão, Preta, pretinha, de Galvão e Moraes Moreira. Quem não se lembra deste refrão?... abre a porta e a janela/E vem ver o sol nascer/Eu sou um pássaro/Que vivo avoando/ Vivo avoando/Sem nunca mais parar/Ai Ai! Ai Ai! Saudade/ Não venha me matar...?
- Me lembro ainda pequeno, com seis anos de idade, me arrumando para o pré-escolar, eu sempre ouvia a rádio Sociedade - conta Laurinho, que começou a estudar violão aos 11 anos e teve como professor o conhecido Loi Damasceno.
E por incrível que pareça sua história com a música começa por um castigo dado pela mãe.
- Meu irmão mais velho, o Júnior, tocava violão o dia inteiro em casa. Tomei raiva. Até que um dia tomei recuperação na escola e meu castigo foi fazer as aulas de violão - revela.
E que castigo! A partir daí, Laurinho tomou gosto pelo instrumento. Aos 12 anos já estava estudando violão popular no conservatório estadual de Música Lorenzo Fernândez.
Laurinho também fala da receptividade e carinho dos irmãos Iraceniria e Wanderdaik Fernandes. Foi com a banda do Daik, quem ele chama o músico carinhosamente, que começou a trabalhar com a música.
- Para mim, foi fácil. Comecei com uma pessoa no ramo, alguém já conhecido. Ele me convidou para tocar. Tive também apoio dos professores, especialmente da Ni (Iraceniria) que me ajudou muito. Uma vez, fui quase expulso do conservatório. Eu não tinha juízo nenhum e por intermédio deles consegui ficar - diz.
De lá pra cá, Laurinho tocou em muitas bandas, em muitos palcos como, por exemplo, nas casas noturnas Zodíaco e Chica da Silva – bares que eram localizados próximo ao aeroporto – onde o montes-clarense se reunia para ouvir a boa música. Era muito requisitado também para se apresentar no Caminho de Casa e no Varanda. No repertório, MPB, regaee, entre outros hits.
- Na época, estavam no auge as bandas Mel, Reflexus, o cantor Luiz Caldas, a cantora Sara Jane e Kaoma. E era isso que a gente tocava. Não existia bar com violão e voz, eram sempre as bandas as convidadas. Toquei todos os estilos, do brega ao rock pesado - lembra.
Para ele, a música que não podia faltar em seu repertório é a mesma que é solicitada pelo público de hoje, Canteiros, conhecida na voz de Fagner.
Com relação ao apoio e incentivo ao artista norte mineiro ele diz que falta valorização.
- Falta espaço para o artista local, um lugar para recebermos nomes como, por exemplo, Djavan, Caetano Veloso. Falta incentivo do poder público e privado. Há uma desvalorização geral. Nosso cachê no geral para apresentar é bar está totalmente defasado, por culpa dos próprios músicos.
Na hora de contratar somos pouco valorizados. Tem gente que topa qualquer coisa, uns trocados e uma refeição, enfim, hoje eu tenho dado mais preferências para festas, feiras e bares fora da cidade - diz.
FAMÍLIA E PROJETOS
Laurinho Karnielly tem 36 anos, é casado e pai de 8 filhos. E seus filhos seguem o mesmo caminho, embora não cansem de ouvir o conselho do pai que é investir em estudos.
- Meu filho mais velho, o Pedro Henrique, toca violão e viola. Já tocamos algumas vezes juntos. É emocionante. Para ele seguir carreira acho complicado. Aconselho para que ele estude, poderia ser música, mas para trabalhar na noite, acho que não - diz.
Suas filhas Jéssica, 16, e Tássia, 14 anos, completam essa família musical e os mais novos, acompanham tudo com muito interesse.
Laurinho se lembra da época em que estudou na escola de Música da UFMG, onde se aperfeiçoou em violão clássico, para adquirir conhecimento. Atualmente, seus projetos estão voltados totalmente longe da música.
- Estou fazendo faculdade de Tecnologia em Logística. Pretendo montar uma empresa de consultoria em logística. Não vou deixar a música, mas ficará em segundo plano. E quero lutar para uma maior valorização cultural na cidade e região - conta.
Para ele, todo músico deveria viver de música, cantando e tocando, mas infelizmente muitos talentos migram para outro estilo ou para outra profissão.
- Muitos amigos que tocavam MPB, hoje estão tocando forró e sertanejo.
Virou febre o forró. Não sou contra. Sexta e sábado, às vezes, procuro com meu amor (telefona toca e ele responde mô), um lugar para curtir MPB e a maioria dos bares toca sertanejo e forró - conta.
Apesar da falta de incentivo, Laurinho continua se apresentando por aí afora, homenageando músicos como Beto Guedes, interpretando Chão de Giz de Zé Ramalho.
Ah, se encontrar com ele nos palcos da vida, não fale algo duas vezes. Isso o deixa irritado. Fale de Montes Claros, seu porto seguro, cante com ele alguma música de Alceu Valença ou de Raul Seixas. E torça junto com ele por uma Montes Claros organizada, principalmente na arte e na cultura. E não esqueça de que Deus para ele, é sua luz de todos os dias.
SHOW NA FENICS
Laurinho toca na Fenics pela segunda vez consecutiva. Recebeu o convite da diretora do Celf, Iraceniria Fernandes, o apoio da ACI, e ficou feliz em ser valorizado.
- Agradeço o convite, a lembrança do meu nome. Tocar na Fenics é sempre uma vitrine muito boa. E abrir o show do Jorge Vercilo, que é um excelente compositor, voz maravilhosa, um violonista de primeira, é uma honra. Pena que ele apareceu num momento em que a MPB não tem tanto espaço na mídia - diz.
Para o show, que tem duração de uma hora, o artista vai mostrar ao público composições próprias, como por exemplo, Morena dos Olhos Claros, composta há oito anos, num momento especial de sua vida, além de músicas Flavio Venturini, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho. Para acompanhá-lo, o tecladista Saimon e o saxofonista Claudinho.
O show acontecerá sábado, 06, às 20h, no Parque João Alencar Athayde.