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Segunda-Feira,17 de Novembro

O mundo de Apu e Underground em exibição

Jornal O Norte
Publicado em 27/02/2010 às 17:44.Atualizado em 15/11/2021 às 06:22.

O Cinema Comentado Cineclube e o CineSesc encerram hoje a discussão sobre o cinema indiano exibindo O mundo de Apu (1959) – capítulo final da premiada trilogia do diretor Satyajit Ray. Apu é um ex-estudante desempregado que sonha com um vago futuro como escritor. Um antigo colega convence-o a ir com ele a um casamento na província. A sua vida vai mudar, pois o noivo enlouquece e Apu acaba casando-se e regressa a Calcutá com a sua bela mulher. Mas Aparna morre no parto e o filho Kajal é abandonado aos cuidados dos avós. Só após um longo período de total indiferença, Apu se encontra preparado para voltar ao mundo.



Para concluir a trilogia, Ray destaca, com força, a humanidade dos personagens. Este terceiro filme já não possui cenários tão belos como o primeiro, a natureza, principalmente em seu início, não está tão presente, mas o cineasta não abandona a tenura, ela cresce aos poucos, à medida que Apu e Aparna se apaixonam. O mundo de Apu, ainda que focado na racionalidade e crescimento do protagonista agora só, é um belo conjunto de pequenos instantes simbólicos e majestoso uso de imagens como metáforas. É um filme que simboliza a quase desistência, o rompimento com a idéia de invencibilidade, uma imensidão de um mundo e uma nova ironia de Ray.



A realidade da Trilogia de Apu é dura, cruel, seca. A existência é paradoxalmente repleta de vida, ainda que entremeada de tantas mortes, de natureza, sons, movimento. Ray passeia entre o bem e o mal, a saúde e a doença, a vida e a morte, numa doçura e realismo impressionantes. Sua maneira de dissecar a realidade social da Índia incorpora perfeitamente o humanismo e a sensibilidade herdadas do neo-realismo italiano.



Amanhã, domingo, será exibido o filme Underground – mentiras de guerra (1995), do diretor Emir Kusturica. Situações surreais, humor, política, aventura, tragédia, poesia, pátria. Um dos grandes filmes da história do cinema mundial, Palma de Ouro no festival de Cannes, a trama se passa durante a segunda guerra, quando dois amigos fazem fortuna utilizando um grupo de refugiados num porão para produzir armas que vendem no mercado negro. Ao final do conflito, continuam iludindo o grupo por quinze anos, para poder explorá-los. Uma visão crítica da realidade humana, social e política, o filme é uma alegoria perfeita para os dias que correm.



Em Underground, Kusturica apresenta de maneira bastante irônica o último meio século de conflitos na sua Iugoslávia, da invasão nazista na segunda grande guerra até a invasão norteamericana na recente guerra dos Balcãs. A absurda vila subterrânea se transforma numa pequena e delirante fábrica; os anos passam e os conflitos continuam, numa situação completamente caótica, criada pela genialidade do cineasta, que mistura o realismo socialista com imagens surrealistas e metáforas de situações sociais e políticas da história. Numa das primeiras cenas mágicas do filme, dezenas de animais exóticos fogem do zoológico de Belgrado debaixo do bombardeio nazista.



- O cineasta é uma figura pagã, anárquica, poética, uma mente fértil, cheia de fantasias surrealistas, com um estilo próprio e único. Talvez possamos enxergar um pouco de Felini em algumas cenas tragicômicas de Underground. Nos seus filmes pode-se sentir a forte presença circense e cigana. As imagens, as cores e a dramaticidade dos atores, muitas vezes amadores, são muito valorizadas, assim como a música. Para quem é apaixonado pelo cinema europeu, Underground, assim como toda a obra de Kusturica deve ser vista - afirma Fábio Rossano Dario, do site CinePlayers.



As sessões acontecem no Sesc, à Rua Viúva Francisco Ribeiro - 199, a partir das 19h. A entrada é gratuita e há sempre um bate-papo após as exibições.

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