Carlos Alberto Prates foi uma das grandes figuras do cinema nacional (acervo estado de minas)
A morte de Carlos Alberto Prates Correia, 81 anos, ocorrida no último sábado (27), no Rio de Janeiro, repercutiu nas redes sociais e jornais brasileiros. A notícia sobre o fim da vida do cineasta norte-mineiro ocupou lugar de destaque nas maiores e mais importantes publicações do país.
Entre seus filmes, estão “Criolo Doido” (1971), filmado em Sabará (Minas Gerais) o título do filme faz referência a canção “Samba do Crioulo Doido”; “Perdida, uma mulher da Vida” (1976), vencedor de diversos prêmios, incluindo o Golfinho de Ouro de 1977; e “Cabaré mineiro” (1980) um filme com base em várias obras num poema homônimo de Carlos Drummond de Andrade e num conto de Guimarães Rosa.
Para o cientista social e pesquisador de cinema, Fernando Rodrigues Oliveira, Carlos Prates soube, como poucos cineastas, criar uma obra extremamente autoral.
“Para além das referências que tinha da nouvelle vague francesa, dos filmes de Kenji Mizoguchi, Yasujiro Ozu, Nicholas Ray e tantos outros, Prates imprimiu uma assinatura única em suas produções, recheadas de lembranças de histórias e “causos” da sua infância. Ganhou dezenas de prêmios, tanto nacionais quanto internacionais, e deixou seu nome gravado profundamente na história do cinema”, disse.
VERDADEIRAS LIÇÕES
O jornalista Eduardo Brasil disse que o luto que o cinema nacional veste com a morte de Carlos Alberto Prates é o mesmo que cobre a todos os norte-mineiros neste momento.
“Um luto talvez mais doído, por sermos conter-râneos, verdade. Carlos Alberto, além de inspirador é um ídolo dos cinéfilos montes-clarenses, entre os quais me incluo. Sua obra cinematográfica sempre nos serviu como salas de aulas. Aulas com verdadeiras lições da sétima arte genuinamente brasileira e que nos impulsionaram a também experimentar o gosto de fazer cinema”, diz.
Brasil conta que Carlos Alberto foi inspiração para o longa que dirigiu, “U ômi qui casô cua mula”, exibido em 2022.
“Sim, sentindo o gosto de pioneirismo que ele sentiu desde os anos 60. Um filme que hoje dedicamos a ele, com quem convivi rapidamente durante as gravações de “Cabaré Mineiro” (o Grupo Tapuia fez algumas figurações). Homenagem que estendemos ao saudoso amigo Paulo Henrique Souto, outro cineasta montes-clarense que também brilhou no cinema nacional. Parece lugar comum dizer que são perdas lastimáveis. Não é. Carlos e Paulo, no entanto e felizmente, continuarão nas telas, na nossa memória. Ambos só entraram de vez na história. Mais uma de suas vidas”, conta.
Já o jornalista e professor de cinema, Elpidio Rocha, a obra de Carlos reflete muito bem as características do sertão norte-mineiro.
“São produções que capturam falas, atitudes e comportamentos típicos da nossa região. Os seus filmes precisam ser descobertos, divulgados e preservados para o acesso do público - destaque para a “trilogia sertaneja” formada por Cabaret Mineiro (1980), Noites do Sertão (1984) e Minas, Texas (1989). Ficam os filmes de um diretor atento ao “universo norte-mineiro”, bem humorado na elaboração das histórias e extremamente talentoso na narrativa fílmica”, revela.