Morre Sivuca: a irreverência se cala, mas a obra fica intacta

Jornal O Norte
18/12/2006 às 10:37.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:46

O compositor e multi-instrumentista morreu na noite de quinta-feira, aos 76 anos, vítima de câncer na laringe. Sivuca estava internado há três dias no hospital Memorial São Francisco, em João Pessoa

Jerúsia Arruda


Repórter


jerusia@onorte.net

O Brasil perdeu a genialidade criativa do músico e compositor Severino Dias de Oliveira, o Sivuca, que morreu à meia noite da última quinta-feira, dia 14, no Hospital Memorial São Francisco, em João Pessoa, na Paraíba, vítima de câncer na laringe.

Sivuca sofria de câncer há mais de um ano e estava internado desde a última terça-feira, 12, quando seu quadro de saúde piorou.

Autor de sucessos como Adeus, Maria, Reunião de Tristeza e João e Maria (parceria com Chico Buarque), Sivuca era casado com a cantora Glorinha Gadelha e residiam há anos no bairro de Manaíra, em João Pessoa.

O músico paraibano que esteve em Montes Claros em 2002, nas Festas de Agosto, onde apresentou um show singular e inesquecível ao lado da esposa Glorinha Cadelha, é uma unanimidade nacional e de talento reconhecido e admirado em todo mundo.

De talento precoce, aos nove anos já animava feiras e festas populares pelo interior da Paraíba, onde nasceu em 1930, na cidade de Itabaiana. Em 1945, se inscreveu num programa de calouros da Rádio Clube de Pernambuco, em Recife, aos 15 anos, tocando Tico-Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu, música que gravaria, anos depois, em seu primeiro disco. Foi selecionado pelo maestro Nelson Ferreira, que o indicou para tocar em um programa da Rádio do dia seguinte, lhe batizando com o codinome Sivuca. Esse foi seu primeiro passo para a conquista do mercado fonográfico nacional.

Foi na Rádio Clube de Pernambuco, em 1946, que Sivuca conheceu Luiz Gonzaga, que ofereceu um contrato de trabalho na Rádio Nacional. Na época, ele não pôde afastar-se do Recife por ter compromisso assinado com a Rádio Clube. Estudou harmonia com o maestro Guerra e, quatro anos depois através da cantora Carmélia Alves, estreou na Rádio Record, em São Paulo, com a grande Orquestra Record, dirigida pelo maestro Gabriel Migliori.

Seu primeiro grande sucesso, Adeus, Maria Fulô, foi lançado em 1950 e regravado numa versão psicodélica pelos Mutantes nos anos 60.

Em São Paulo trabalhou em dezenas de programas de rádio e foi do elenco fixo da TV Tupi de 1955 a 1959. Em 1958, foi representar o Brasil na Europa, junto com músicos como Abel Ferreira e o Trio Iraquitã. Morou quatro anos em Paris, de 1960 a 1964 e, em 1965, já estava nos Estados Unidos para integrar, como guitarrista, o conjunto de Miriam Makeba, famosa pela gravação de Pata Pata. Com ela viajou pela África, Europa e Ásia. Durante mais de dez anos acompanhou músicos de todos os estilos, e dirigiu musicais nos EUA.

Em 1975 voltou ao Brasil, quando gravou Sivuca e Rosinha de Valença. Também compositor, é auto de clássicos como Feira de Mangaio, com a mulher Glorinha Gadelha, sucesso na voz de Clara Nunes. Gravou com os gaitistas Toots Thielemans , Rildo Hora e interpretou Pixinguinha, Luperce Miranda e Bach.

Sivuca era um músico revolucionário para os padrões das décadas de 50 e até poucos dias, era um dos mais talentosos músicos em atividade no mundo.

Desde a madrugada de sexta-feira amigos e admiradores prestaram homenagens ao músico no Cemitério Parque das Acácias, no conjunto José Américo, em João Pessoa, onde o corpo foi velado. O sepultamento ocorreu sexta-feira, às 17 horas.

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