Montes Claros no roteiro de cinema

João Jorge Almeida Soares sempre coloca a cidade nas suas produções

Adriana Queiroz
O Norte
25/03/2020 às 03:22.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:04
 (Luana Takeishi /divulgação )

(Luana Takeishi /divulgação )

Vários eventos, estreias e produções de filmes foram cancelados ou adiados em Montes Claros devido a pandemia da Covid-19. O filme “Ligação”, por exemplo, do cineasta montes-clarense João Jorge Almeida Soares, seria lançado na cidade hoje. Mas as estreia teve que ser adiada.

“Ligação” é um drama psicológico que trata da solidariedade das pessoas que se encontram ocasionalmente devido às adversidades da vida. Confira nosso bate-papo com o cineasta.
 
Como surgiu o interesse por cinema?
A minha primeira formação universitária é justamente na área de cinema. Sou formado em cinema de animação pela Escola de Belas Artes da UFMG. Só depois de me formar em cinema que retornei à universidade para frequentar o curso de regência de orquestra pela Escola de Música da UFMG. Não me dediquei à atividade logo depois de formar por causa do excelente andamento da minha carreira como músico. Após me aposentar dessa atividade que exerci por 34 anos na PMMG, retomei a arte do cinema, em 2017, quando fiz o roteiro de “Gente Igual a Você”, que foi filmado em Montes Claros, tendo como protagonista o ator global Anselmo Vasconcellos. A atividade de música para mim sempre teve muita proximidade com o cinema por causa do meu repertório favorito: as óperas – eu percebo que há grande relação entre ópera e cinema.
 
Fale de alguns momentos interessantes de se pontuar na sua carreira:
O ponto alto da minha carreira foi quando regi, no Grande Teatro do Palácio das Artes, a ópera “O Sertão”, de autoria do compositor francês Fernand Jouteux. Essa ópera só havia sido apresentada uma única vez, em 1956, pela Orquestra Sinfônica da PM. Na ocasião, os músicos usaram as partituras originais (manuscritos) do compositor que se fazia presente. Depois disso, o compositor veio a falecer e as partituras desapareceram, tornando impossível nova montagem da ópera, pois não existiam cópias da partitura. Em 2002, quando ainda era aluno do curso de regência da Escola de Música da UFMG, fiz uma pesquisa que resultou no resgate dessas partituras e, então, foi novamente possível montar a ópera. A montagem foi um grande sucesso de crítica e de público e tivemos casa lotada todos os dias.
 
O lançamento de “Ligação” seria neste mês, mas foi adiado em função da pandemia da Covid-19. 
Exatamente. A data prevista inicialmente era 25 de março. Entretanto, essa pandemia alterou a vida de todos nós, inclusive adiando a data de lançamento de “Ligação”. Ainda não temos uma data definida para o lançamento do filme, mas faço questão que a primeira exibição pública seja em Montes Claros, por ser a terra natal do elenco principal e ser também a cidade onde nasci.
 
“Home Office” é mais uma de suas produções. Está pronto também? Nos conte detalhes. Onde foi filmado e quem são os atores?
“Home Office” é um filme do qual sou roteirista e diretor. Está praticamente pronto. Estou aproveitando esses momentos de recolhimento em função da pandemia para ultimar os aspectos de pós-produção. Um fato interessante sobre “Home Office” é que a trilha sonora foi executada pela Orquestra Sinfônica da PMMG, da qual eu tive a honra de ser maestro por alguns anos. O filme foi todo produzido em Belo Horizonte e é uma atividade da Escola Livre de Cinema de BH, onde frequento o curso livre de cinema. Senti a necessidade de retornar à escola em função do meu afastamento da atividade por mais de duas décadas e tive a grata satisfação de me deparar com um curso maravilhoso de cinema, em uma escola muito focada na atividade prática. O filme aborda uma questão que vivemos muito intensamente no momento. Do gênero comédia, nele abordo as agruras e vicissitudes do ato de se trabalhar em casa. O ator que protagoniza a comédia é o Didi Vilella, que nos surpreendeu com um show de interpretação, um grande ator.
 
Além de “Ligação” e “Home Office”, tem mais alguma produção?
Sim, temos diversos filmes em fase de pré-produção, e espero não ter que adiar as fases de produção por conta da Covid-19. Já estamos trabalhando nas próximas produções que pretendemos realizar ainda em 2020. O filme “O Homem Mais Feliz” já tem parte do elenco escalado e algumas locações já em negociação. Pretendíamos iniciar as filmagens em julho. Um aspecto importantíssimo para nós é que todas as produções da Artimanha Filmes sempre terão vínculo com Montes Claros. O elenco principal de “O Home Mais Feliz”, assim como aconteceu em “Ligação”, será composto de montes-clarenses, o próximo projeto, “Martha”, pretendemos filmar em Montes Claros, convidando artistas locais e mesclando a equipe técnica com profissionais da capital e de MOC.
 
Existe alguma verba para a produção dos filmes ou vocês têm que tirar do próprio bolso?
Os projetos iniciais estão sendo custeados totalmente por nós, mas na medida em que vamos investindo em projetos mais ambiciosos, vai ficando inviável colocá-los na telona unicamente com recursos próprios. A minha esposa Carla é a nossa produtora executiva, ela tem sido muito proativa nessa atividade de captação e busca de investimento. Temos roteiros grandiosos que pretendemos realizar, mas para tornar isso possível, acreditamos que nos primeiros momentos temos que investir recursos próprios, dar visibilidade ao trabalho, angariar credibilidade e mostrar a viabilidade econômica de nossas produções. Estamos muito otimistas com o alcance de nosso trabalho e a repercussão que tem acontecido com o que produzimos até aqui.
 
Qual o conselho que você daria para quem quer começar a fazer cinema, mas tem medo por achar que precisa de muito patrocínio?
O fazer cinema tem se tornado uma atividade cada vez mais acessível. Ainda é muito cara, mas existem mecanismos que garantem um acesso mais democrático. O conselho que posso oferecer a qualquer pessoa que deseja ingressar nessa atividade é a busca incansável do conhecimento em fontes confiáveis, de forma contínua e consistente. Quem deseja fazer cinema com seriedade, deve estudar todas as nuanças da atividade, ler muito e, principalmente, colocar em prática os conhecimentos. Comece com o celular se você não tem uma câmera. Há inclusive festivais de cinema para filmes produzidos no celular. Estude as técnicas de roteiro, história do cinema, busque conhecimentos técnicos e assista os bons filmes feitos pelos grandes cineastas da história do cinema.


 

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por