Montes-clarense fala sobre o drama do suicídio no livro “Resiliência”

Adriana Queiroz
07/04/2022 às 00:52.
Atualizado em 07/04/2022 às 10:55
 (silvana mameluque/divulgação)

(silvana mameluque/divulgação)

“É uma história real, da perda de uma pessoa próxima a mim para a depressão e, consequentemente, para a automorte. Mas, apesar dessa tragédia estar lá dentro, esse livro é a oportunidade que encontrei para ajudar as pessoas que também vivenciaram esse trauma e têm dificuldade para superá-lo”. Assim o montes-clarense Marcelo Valmor Ferreira define a obra “Resiliência”, que lançou no último dia 30.
Em uma conversa com O NORTE, ele conta como foi essa experiência.
 
Qual a sua intenção com essa obra?
As pessoas tendem a tratar a automorte (suicídio) como um tabu exatamente porque Santo Agostinho, no século V, talvez o maior teórico do cristianismo, tenha aproximado essa atitude dolorosa ao VI Mandamento (Não matarás), tanto para quem o pratica, quanto para quem fica, como um crime contra o Criador, como se já não bastasse o rastro de dor e culpa que atinge a todos. Deus é, sobretudo, amor, e não condenaria ainda mais aquele (a) que atentou contra a própria vida. Por conta dessa visão, as famílias daqueles que praticaram a automorte estão escondidas, apontadas, sofrendo. É preciso confortá-las, e não condená-las. Esse é o objetivo do livro “Resiliência”: trazer para a luz aqueles que sofrem e relativizar o argumento de que não se deve comentar sobre a automorte, caso contrário, esse número tenderia a aumentar. Ora, o silêncio e a omissão são a norma, mas, no entanto, esse número só tem crescido. A única forma de conter isso é conversando sobre a automorte.  

Para quem é voltado o livro?
Para todos aqueles que passaram por essa situação trágica, para aqueles que ficaram e que sofrem calados. Mas, também, para todos que têm a vida como um milagre, uma oportunidade única, um sopro da divindade que nos anima para a alegria, para a esperança e para a justiça, e não para o sofrimento e para a escuridão. 

Você conhece famílias que enfrentaram esse problema?
Conheço algumas, entretanto, quando tocamos no assunto, aquelas que vivenciaram esse drama ou que conhecem alguém que o vivenciaram se mostram mais confortáveis para falar. Hoje em dia é quase impossível que não conheçamos alguém que não tenha vivido essa tragédia ou que não saiba de alguém que passou por isso. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), até 2030 a depressão será a doença que mais afastará pessoas do seus trabalhos. Se levarmos em consideração que essa doença é base da maioria dos casos de auto-morte, então é urgente discutirmos com mais seriedade esse evento, pois teríamos uma tragédia anunciada batendo nas nossas portas em menos de oito anos. 
 
Por que acredita que o tema é pouco abordado na literatura?
Puramente por tabu, uma mistura de culpa e de medo de propagar a automorte. Mas, como já disse, o silêncio e a omissão têm feito muito mais vítimas do que propriamente o debate. E com o detalhe de que cada vez mais têm morrido pessoas ainda mais jovens. Acredita-se, infelizmente, que a tentativa de esquecimento é a melhor terapia. Um grande engano. Afinal, se defendemos a vida é porque ela vale à pena ser discutida sempre com o objetivo de potencializar seus fundamentos básicos, entre eles a alegria, a justiça e o amor. 
 
Como você faz essa abordagem?
A esperança e a superação, a crença de que a vida vale à pena ser vivida. 
 
Acredita que através de histórias como a que você traz em Resiliência o tema pode deixar de ser um tabu?
Acredito que sim. Na medida que esse tema começar a ser debatido, as pessoas perderão o medo, a cortina da vida se abrirá e a luz finalmente irá se impor. Por outro lado, imaginar que não discutir a automorte é um refúgio, na verdade é uma atitude antivida, de medo e de falta de esperança.

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