Samuel Fagundes
Repórter
Montes Claros vive a tradição da época dos escravos. São as Festas de Agosto que colorem a maior cidade do Norte de Minas.
Nesta edição, o Festival Folclórico foi agregado as Festas de Agosto. E assim a celebração religiosa se renova a cada ano, onde os Catopés, Marujos e Caboclinhos são os principais artistas.
(foto: ARQUIVO XU MEDEIROS)
As festas agora retornam para seu local de origem, próxima à Igrejinha do Rosário, na Avenida Coronel Prates. Essa mudança atendeu a um antigo pedido de Mestre Zanza, presidente da Associação dos Grupos de Catopés, Marujos e Caboclinhos de Montes Claros. Ele conta que passar com os mastros na Igreja da Matriz era uma coisa muito sem jeito, cheio de cadeiras e pessoas nas estreitas ruas, o que dificultava e muito a passagem.
Mestre Zanza ainda afirma que em determinado ponto só os Catopés e as famílias continuavam seguindo, e que chegavam na Igrejinha sozinhos, os três grupos de Catopés catavam uma marcha e todo mundo ia embora.
- O pessoal ta lá sentado com a família, ele vai levantar de lá pra acompanhar o mastro? Não Vai mesmo! – argumenta.
De acordo com Mestre Zanza, agora cada um vai ter seu espaço para chegar perto do mastro, cantar, despedir e cumprir sua promessa. Como o próprio Zanza fala “a casa está em ordem”.
RAÍZES
Para a festa deste ano Mestre Zanza diz que está muito animado, que todos estão animados e que voltar às festas para a Igrejinha do Rosário é melhor que ganhar na loteria, que desde os tempos dos Catopés descalços, na poeira era tradição se realizar as festas ali.
- Pra mim, a maior felicidade do mundo é enxergar a Praça do Rosário igual ela ta. Isso pra mim é melhor que ganhar na loteria - fala animado o Mestre
MESTRE
João Pimenta dos Santos, popularmente conhecido como Mestre Zanza é o coordenador das Festas de Agosto tradição que foi passada pelo seu pai e pelo seu avô. Ele nasceu dentro da tradição e na história de Montes Claros. Nem o avô nem o pai tiveram tanto tempo de Catopés. Com 75 anos, e completando 71 anos de dança no último dia 16 ele nunca deixou de participar das Festas de Agosto.
Ele revela que quando começa a festa o seu espírito se renova e volta a ser criança, que fica emocionado, até melhora de saúde se estiver doente quando chega ali, com a alegria visível nos olhos das pessoas, e, afirma que não faz isso não para se exibir com o penacho a cabeça, as fitas e toda ornamentação dos Catopes. Fazem isso porque eles têm amor e devoção aos santos.
RESPEITO
Desde mais novo, Mestre Zanza é respeitado por outros grupos, mesmo pelos que eram mais velhos de dança que ele. Uma pessoa simples que não tem muito conhecimento escolar, mas de uma sabedoria de vida incrível. Ele diz que tudo que sabe está guardado dentro da cabeça, que foram os ensinamentos dos seus pais e avôs.
- Eu não tenho grande leitura, na minha época não existia estudo não, existia era serviço, falava em trabalhar qualquer profissão era comigo – revela.
Ele diz que as festas evoluíram muito desde sua época, que hoje tem luxo, na sua época, andava descalço, nem sabia o que era sapato.
- A mãe da gente comprava saco de batata, abria ele e fazia a roupinha da gente dentro de casa mesmo – relembra o Mestre.
BRASIL
Mestre Zanza conta que já foi em vários lugares do Brasil. Mas que em nenhum lugar encontrou reinados como os da cidade e que todos os grupos que vêm aqui ficam impressionados.
ZANZA
O apelido de Zanza foi dado pela sua mãe que dizia que ele ficava zanzando muito por toda parte e que hoje em dia todos inclusive seus filhos e netos o chamam assim. O Mestre também é conhecido como sabiá, apelido dado por senhoras que moravam na Praça do Rosário e que gostavam de vê-lo dançar, e falavam “vamos lá para ver o sabiázinho cantar e dançar”.
REINADO
Nesta quinta-feira é dia do azul de Nossa Senhora do Rosário. O cortejo sairá da praça em frente ao Automóvel Clube a partir das 10 horas, passa pelo centro da cidade e vai até a Igrejinha do Rosário num ritual de muita música , dança e fé dos grupos de Catopés, Marujos e Caboclinhos. A partir 19 horas, acontece o levantamento do mastro de São Benedito, na Igrejinha do Rosário.