Marina Couto Ribeiro

Mestre em Estudos Literários diz que é preciso incentivar amor pela Literatura

Adriana Queiroz
11/03/2022 às 00:28.
Atualizado em 11/03/2022 às 10:31
Marina Couto Ribeiro

Marina Couto Ribeiro

A professora universitária Marina Couto diz que é preciso incentivar o amor pela Literatura. Para isso, defende que é fundamental fazer os livros chegarem aonde as pessoas estão, retirando-os de lugares inalcançáveis .

“Sempre me preocupo em continuar minha formação intelectual e acadêmica, mas sempre mantendo em mente a importância de não me afastar do aluno e da sala de aula. Não acredito em ensino que não se baseie na criação de vínculos e que não tenha como principal objetivo a formação de seres humanos”, diz a mestra em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Montes Claros (2020) e que atualmente faz doutorado sobre o tema na UFU, para quem educação é mais que uma profissão, é um projeto de vida. 
 
Como você enxerga esse período tão inusitado, pandemia, guerra, entre outros?
Em um de seus sonetos, Camões afirma que “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Penso que o contexto histórico, cultural, social e político que estamos vivendo deve ser visto como um momento em que é necessário fazer muitas reflexões, rever modos de vida e repensar os valores que têm regido nossa sociedade. Esse período deve ser marcado por mudanças significativas que nos levem a retomar o conceito de humanidade.
 
Você participa de algum projeto específico na instituição em que atua?
Participo de alguns projetos sociais, como o Emancipa, um cursinho popular, e do Projeto AnteVerbo Psiu Poético, fazendo discussão de Obras Literárias e intervenções artísticas.

Você faz uso de novas tecnologias em suas aulas?
Utilizo plataformas como Google Meet, YouTube e Zoom para dar aulas no formato remoto e, na aula presencial uso diversas mídias para enriquecer minhas aulas. Utilizo muito os recursos gráficos para fazer materiais, eBooks e mapas mentais também.
 
Existem bibliotecas suficientes em Montes Claros?
Embora existam muitos projetos que incentivem a leitura, como o Psiu Poético, ainda faltam bibliotecas e espaços públicos de leitura. Sinto falta, por exemplo, de projetos com bibliotecas itinerantes, que façam contação de histórias, performances artísticas, e que tragam para o público a biblioteca e o universo literário de forma mais acessível e lúdica. É preciso incentivar o amor pela Literatura e isso só é possível quando as obras saem do lugar ‘inalcançável’ e chegam a todos.
 
Que títulos não podem faltar nas bibliotecas das escolas?
É preciso, primeiro, mudar a maneira como as bibliotecas são vistas nas escolas. É muito comum, principalmente no ensino básico, que o aluno seja enviado à biblioteca como forma de “castigo” ou que ela seja sempre sinônimo de um lugar “silencioso” e “frio”. É preciso rever isso para que se crie laços com o universo literário e se interesse por clássicos indispensáveis como os de Guimarães Rosa, Drummond, Machado de Assis, Clarice Lispector, Cecília Meireles. As bibliotecas devem conter mais do que esses títulos e ser um espaço de construção e partilha de saber. Por exemplo, por quê não criar o hábito de deixar um espaço para obras doadas, escolhidas ou até produzidas pelos alunos? Para mim, a biblioteca tinha que ter vida e ser mais do que um espaço de guardar livros.
 
Quando começou a escrever?
A escrita, para mim, surgiu como forma de dar voz e vazão à minha cabecinha criativa e inquieta da infância. Comecei com diários (prática que tenho até hoje) e, desde então, não largo mão desse hábito. Como diria Manuel Bandeira, em seu poema Desencanto, “meu verso é sangue” e se tornou, assim como já disse Conceição Evaristo, uma maneira de sangrar, de viver. 
 
Qual o segredo de um bom texto?
Ah, essa é muito difícil de responder! Tem que ter mais do que técnica, é claro. Penso que a técnica deve ser conhecida até para que você possa ter a liberdade de não usá-la se assim decidir. Mas o que, para mim, conta mesmo é a capacidade do texto de ‘pescar a não-palavra’, sabe? O texto bom é aquele que te sequestra para dentro dele, cria pacto com o leitor, incomoda, sensibiliza e te permite experimentar universos diferentes dos seus... Aquele que te permite ler os silêncios e as entrelinhas.
 
Você iria lançar um livro e desistiu. O que houve?
A ideia de lançar o livro “Contos (Em) Cantos” veio com grande vontade de participar do Festival Literário de Montes Claros. O livro reúne uma série de contos que versam sobre reflexões, principalmente de mulheres brasileiras, sobre a vida, o amor e o ser. No entanto, o período para a organização do lançamento ficou “apertado” para mim, devido às obrigações do Doutorado e por causa de algumas questões e pendências pessoais. Então, optei por lançar o livro em outro momento. Mas ainda vou lançar, hein?
 
Como se inspira para escrever? 
A inspiração, em si, vem da prática, pois quanto mais se escreve, mais se treina o olhar. Afinal, se a inspiração é só uma maneira de olhar o mundo, esse olhar deve ser lapidado, o tempo inteiro, para não virar rotina, para ser autônomo, livre e autoral e nunca autômato.

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