Mestre Batista: “Teatro se aprende fazendo”

Aclamado ator e diretor radicado em Montes Claros desde a década de 1980 fala sobre teatro e faz uma avaliação de uma trajetória artística que já dura 63 anos

Adriana Queiroz
Hoje em Dia - Belo Horizonte
18/08/2017 às 01:12.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:08
 (Foto: Drika Queiroz)

(Foto: Drika Queiroz)

A época era de pura efervescência cultural. No fim dos anos 80, Montes Claros se agitava com as ideias e projetos dos grupos Banzé, Serestas, Dulce Veloso, dentre outros. Grandes produções de sucesso surgiram aqui, peças de renome ficaram em cartaz muito tempo, como “Brincando de Brincar”, “Morte e Vida Severina” e “O Bem Amado”.

Teatrólogo e intelectual, José Batista da Silva, ou simplesmente Mestre Batista, entra para a história do teatro como um dos maiores expoentes e influenciadores de toda uma geração de artistas de diversos segmentos das artes no Norte de Minas.

Batista nasceu em Dom Silvério, Zona da Mata Mineira, em 16 de junho de 1946. É um dos seis filhos de dona Maria Felix e seu Altino João Batista e merece ter a própria história contada. Confira:
 
Após 63 anos de carreira, você é considerado um dos grandes diretores de teatro do Norte de Minas. Quais foram as suas maiores contribuições?
Em janeiro de 1986 me mudei definitivamente para Montes Claros, vindo de São Paulo, onde estudei por 10 anos. Terminei meu curso médio e fiz o curso superior em Educação Artística. Sempre busco, principalmente na cultura regional do Norte de Minas, pela qual estou sempre encantado, enriquecer o meu saber. Sou muito grato pelo carinho desse povo. Hoje, me considero um montes-clarense nestes 31 anos em que aqui resido. Em Dom Silvério, minha cidade natal, vivi 23 anos. Em João Monlevade foram mais 7, e em São Paulo, 10. Portanto, digo a quem me pergunta de onde eu sou: sou de Montes Claros, mineiro do Norte de Minas! Quanto às minhas contribuições, digo, meus aprendizados, tenho a agradecer a meu irmão Martin e sua esposa Neide por abrirem meus caminhos em Montes Claros, colocando meus papéis disciplinares em todas as escolas estaduais da cidade. Portanto, vim com o emprego garantido. Optei primeiro pela Escola Normal e a Escola Estadual Elói Pereira, onde trabalhei como professor de Educação Artística.
 
Existe algum fato ou algo que tenha determinado a sua opção pelo teatro? Em que momento da sua vida isso aconteceu?
Em 1986, comecei meu trabalho como diretor de teatro a convite de Aroldo Pereira para assistir um ensaio do espetáculo poético “Feras Deveras”. Então, disse a ele que estava bom, mas monótono: poemas, o conteúdo dos versos declamados... Conversamos e Aroldo me convidou para dirigi-los. Disse que se fosse teríamos que voltar à estaca zero. Eles aceitaram e dois meses depois estreávamos. No final do ano, fomos agraciados com o “Prêmio Sol” de melhor espetáculo do ano. E assim fui fazendo o meu teatro. “Morte e Vida Severina”, “A vida escrachada”, “Como matar um play-boy”, “O Bem-Amado”, entre outros. Com Maristela Cardoso, criamos o “Núcleo de Óperas” e com o apoio do Palácio das Artes, montamos “Madame Buterfly”, “A viúva alegre”, “West Side Store”. Fui um dos fundadores do Faceato, grupo criado na Unimontes pelo curso de Educação Artística, com a chancela do Grupo Vida de Marcos Guimarães, outro batalhador nas artes em Montes Claros. Fizemos juntos “Trair e Coçar é só Começar”, “As Mãos de Eurídice”, “Brasileiro: Profissão - Esperança”, ”Em Conto e Cantado”, “Odorico, o Bem Amado”. Trabalhei na Escola Normal, no Conservatório de Música Lorenzo Fernandes, na Faceart e na secretaria de Cultura, quando fiz um trabalho nos bairros com a secretária Antonieta Silvério. Tudo ia bem até que sofri um atentado num ponto de ônibus no bairro Maracanã. Apesar disso, consegui fazer com o pessoal do Maracanã o “Alprino Show”, um texto interessante, que se passava dentro de um lotação.
 
Que espetáculos marcaram profundamente sua vida?
Em Dom Silvério tinha uma companhia de teatro da família Cordeiro. Eles se juntavam de vez em quando para montar espetáculos que faziam muito sucesso. Papai sempre me levava para assistir.

Nos anos 60 eu me engajei na Jovem Guarda, aprendi a tocar violão. No ginásio, fazia muitos esquetes imitando os musicais da Jovem Guarda e os humoristas da televisão. Em 1966 passei seis meses em Belo Horizonte, até me apresentei no programa “Brasa Quatro” da TV Itacolomi, apresentado pelo famoso Dirceu Pereira. Assisti o show da Maria Bethânia “Rosa dos Ventos”, além dos espetáculos na UFMG. Voltando a Dom Silvério fiquei lá até 1986, sempre fazendo projetos para a igreja e clubes.
 
Como você vê a atual situação do teatro em Montes Claros?
Ainda está devendo. Precisamos criar uma marca, um modo não copiável.
 

Digo a quem me pergunta de onde eu sou: sou de Montes Claros, mineiro do Norte de Minas!
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