Madeira, a maior beleza

Anderson Clayton se assume um apaixonado pelos trabalhos com as peças retiradas da natureza e se inspira no avô e em grandes mestres

Adriana Queiroz
O Norte
13/03/2020 às 03:35.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:56
 (Divulgação)

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As lembranças que Anderson Clayton tem do avô – um exímio marceneiro – aliadas ao trabalho como artista gráfico talharam neste artista plástico o dom para “moldar” a madeira. E ele atua de maneira diversificada, sem se fixar em uma linha específica de produtos.

Anderson faz gamelas estilosas, brinquedos, tábuas de corte gourmet, pequenos boxes, caixas, bolsas femininas, esculturas, objetos decorativos ou utilitários, como luminárias de cabaça. Ele transita por um mix variado e com uma riqueza de detalhes de encher os olhos.

“Sinto inspiração de criar algo, ou me inspiro em tendências do mundo criativo, e começo a fazer. Acredito que as características e diferenciais principais é justamente não me prender a padrões, e isso me proporciona uma liberdade incrível”, diz.

Anderson é um dos artistas convidados para o Animarte, que acontecerá no dia 27 de março, em Montes Claros. “Como artista gráfico, ao desenvolver um projeto visual, observo os aspectos funcionais e estéticos daquilo que pretendo representar, transportando, através da arte gráfica, os significados e intenções de comunicação que se pretende atingir”, conta.

“Trabalho sempre com madeira de procedência ambiental legalizada e uma boa parte das madeiras com que trabalho são recolhidas de cortes de árvores que, infelizmente, as pessoas abandonam em lotes e vias públicas”, revela.

O artista conversou com O NORTE e falou um pouco do trabalho e de sua inspiração.
 
Que tipo de trabalho lhe proporciona mais prazer?
O ato de trabalhar a madeira, independentemente do produto final, é o trabalho que me proporciona mais prazer. Nesse momento, minha mente flutua sobre o ofício de marceneirar. Todas as outras coisas somem, e aí me sinto único no processo de transformar um belo pedaço de madeira numa peça única, original. A maior beleza continua ali: a madeira. Este é meu maior prazer.
 
Quais materiais você costuma utilizar?
Cada peça que crio tem, em sua concepção, a busca pelo equilíbrio entre forma, tamanho, peso e cor. Assim, utilizo variados tipos de madeira, sendo as principais o Cedro, a Imbuia, Jacarandá, Tauari, Roxinho, Cumaru, Angelim Pedra, Jequitibá e Jatobá. Utilizo até mesmo o Pinus, madeira subestimada na marcenaria e carpintaria brasileiras, eu utilizo em criações.
 
Como é para você participar do Animarte e o que vai apresentar neste dia?
O Animarte representa um divisor de águas para mim. Será a primeira vez que exponho minhas criações e, justamente num evento que também acontece pela primeira vez em Montes Claros, com uma proposta diferente, mas um objetivo comum a qualquer artista, que é promover o acesso às várias artes para todas as pessoas.
 
Como você descreve seu atelier ou seu cantinho de criações? Se alguém visitá-lo, o que encontrará lá?
Encontrará muito pó e cavaco de madeira (risos). Meu pequeno espaço é infinito. Nele predominam os cheiros do Cedro e da Imbuia. Ali sempre se pisa em cavacos e serragem de madeira e toda vez que alguém o visitar, o encontrará diferente: um dia com pequenos e delicados passarinhos de madeira sendo concebidos, outro dia com grandes gamelas de Salgueiro ou Aroeira recebendo acabamento final de óleos naturais ou resina epóxi.

Onde você busca conhecimento, novas técnicas, aprendizado, entre outros?
No Brasil, o conhecimento sobre marcenaria criativa é muito pequeno para o grande público. A marcenaria aqui é conhecida, de modo geral, apenas como o ofício de fazer armários e guarda-roupas, por exemplo. Isso é marcenaria, claro, mas vai muito além disso, é o ofício de criar verdadeiras obras de arte com madeira. Eu divido a marcenaria em duas vertentes: a marcenaria artesanal (à qual me identifico mais, que é criação de peças diversas – útil ou decorativa) e a marcenaria fina (marcenaria em movelaria, onde são concebidos móveis com design atemporal, preservando as técnicas milenares da marcenaria artesanal). Me inspiro em trabalhos de grandes mestres, como Tanegi Zukuri (mestre japonês da marchetaria, arte milenar japonesa que combina peças de madeiras diferentes para criar objetos e obras de arte com formação de mosaicos), Michael Fortune (americano), os brasileiros Fernando Jaegger, Joaquim Tenreiro (1906-1992) e José Zanine Caldas (1919-2001), entre outros. Para aprendizado de técnicas de manuseio, tratamento, cortes da madeira, encaixes etc, sigo trabalhos de grandes marceneiros, como Matthias Wandel, Jeremy Schmidt, John Heisz e os brasileiros Fernando Belchior e Adilson Pinheiro.

Como você divulga seu trabalho? O que você acha mais importante na divulgação? Onde e como você costuma vender seu trabalho? Boca-a-boca? 
Divulgo meu trabalho por redes sociais e boca-a-boca. A venda de meus produtos acontece de forma espontânea, ainda não me foquei no aspecto comercial. 

Quando produz seus próprios trabalhos, quais características você considera essenciais para considerar o resultado final como um bom trabalho?
A forma (sinuosa ou quadrada, densa ou leve, suave ou aguda) é a principal – e talvez a absoluta – em minha decisão de considerar uma criação um belo trabalho. Muitas vezes, mesmo tendo extremo cuidado e demanda de dias ou mesmo meses criando, fico insatisfeito com o resultado final, devido à forma, mesmo que um pequeno detalhe na forma. Então, mesmo que eu faça um simples colher de madeira, é a sua forma, suas linhas, sua sinuosidade ou não, que determinará a satisfação de ter realizado um bom trabalho.

Anderson Clayton é autodidata em design gráfico e marceneiro artesanal. Atuou como artista gráfico, criando projetos de comunicação visual, conhecimento que agrega na produção das suas peças

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