Livro ‘Uma tristeza mineira numa capa de garoa’ será lançando hoje no Corredor Cultural

Adriana Queiroz
17/02/2022 às 00:35.
Atualizado em 17/02/2022 às 09:38
 (SILVANA MAMELUQUE/DIVULGAÇÃO)

(SILVANA MAMELUQUE/DIVULGAÇÃO)

Nesta quinta-feira, exatamente 100 anos depois da Semana de Arte Moderna, a escritora Ivana Ferrante Rebello e Almeida e o arqueólogo e historiador Fabiano Lopes de Paula lançam o livro “Uma tristeza mineira numa capa de garoa”, que recobra a participação de dois mineiros na icônica exposição: o poeta montes-clarense Agenor Barbosa e a pintora belo-horizontina Zina Aita.

Segundo Ivana, o livro relembra nomes que foram rasurados da história do evento, pois “ninguém mencionava seus nomes, nenhum estudo lhes dava o crédito devido”.

“Há ainda muito a dizer sobre a Semana de 22. Com o livro eu e Fabiano estamos dizendo da contribuição mineira, que foi significativa e merece ser memorada. Considero ainda que o livro é um presente para a história de Montes Claros. Barbosa é um poeta que participou ativamente da organização do evento e esteve nos palcos do Theatro Municipal de São Paulo, recitando poemas de sua autoria. Assim, Montes Claros, minha terra natal, ocupa também um lugar na centralidade dos acontecimentos daquele vernissage”, conta.

No livro, os autores contam a história do Modernismo sob a perspectiva de Minas Gerais. Agenor Barbosa apresenta versos em que mistura as tendências do Futurismo às influências simbolistas mineiras que carrega. Zina Aita, em meio às técnicas de vanguarda que aprende na Europa, a contribuição do barroco mineiro, com suas características diferenciadoras. Há quem aponte influências do Mestre Ataíde, escultor e pintor mineiro do século VXIII em sua obra.
 
Como você tem enfrentado a quarentena e como enxerga esse período? 
A quarentena ensinou-me a ter uma ideia mais acurada acerca do que é realmente essencial em minha vida. Entre tantas coisas importantes, destaco minha fé em Deus, minha família e o tempo. A fé ensina-me a aceitar o que não posso modificar; minha família impulsiona-me a mudar aquilo que me tornará um ser humano melhor e o tempo é um bem precioso de que devemos dispor com sabedoria e critério. Na pandemia, o valor da arte e da escrita foi potencializado. Sem o testemunho escrito dos autores que frequentam minha biblioteca e sem o necessário e diário exercício da escrita eu teria sofrido mais com o afastamento e os limites impostos pela excepcionalidade da pandemia.
 
Na noite da última quinta-feira você tomou posse como presidente da Academia Montes-clarense de Letras. É uma responsabilidade e um desafio, entre tantos a que você se dedica, não é?
Espero corresponder às expectativas, dando continuidade ao maravilhoso trabalho de Glorinha Mameluque, que me antecedeu. No discurso de posse, ressaltei a importância da união de todos os acadêmicos, do trabalho e participação conjuntos. A Academia é uma instituição comprometida com a memória e a literatura, mas é também comprometida com o presente e o futuro.
 
Hoje é dia de lançamento de “Uma tristeza mineira numa capa de garoa”, um livro que resulta do encontro de duas pessoas que amam Montes Claros. Como surgiu o projeto?
Eu e Fabiano nos conhecíamos desde a infância, frequentávamos os mesmos lugares e temos memórias muito parecidas. O projeto do livro nasceu de uma leitura ao acaso do livro Efemérides montes-clarenses, de Nelson Viana, em que ele citava o poeta Agenor e sua participação na Semana de Arte Moderna. Para mim, professora de literatura, acostumada a ensinar a história da Semana de Arte Moderna a partir dos mesmos nomes, aquela menção constituiu-se como um desafio e uma grande dádiva. Eu e Fabiano, a partir de então, iniciamos nossa longa pesquisa. Foram mais de dois anos de investigação, busca em arquivos digitais e manuscritos. Aos poucos, a figura do jovem poeta Agenor Barbosa foi se apresentando, com sua potencialidade artística e intelectual. Posso dizer que a parceria com Fabiano Lopes de Paula foi perfeita: temos gosto pela pesquisa em arquivos, gostamos de história, apreciamos arte. Parceria, aliás, que já está desenvolvendo outros projetos, mais livros sobre escritores esquecidos estão vindo por aí.
 
O livro foi lançado em Belo Horizonte. Além de Montes-Claros, estão previstas outras cidades?
Sim, com a presença de amigos e leitores que lá residem. Também teve lançamento on-line, na Academia Marianense de Letras, com apresentação do presidente da Academia Mineira de Letras, Rogério Tavares. Também fomos convidados pelo Instituto Moreira Salles e pela Pinacoteca de São Paulo para falar da participação mineira na Semana de Arte de 1922. Estão previstos outros encontros, inclusive em universidades, em todo o Brasil. A nossa alegria é levar os nomes de Montes Claros e de Minas Gerais para muitos lugares.
 
No livro você fala da pintora Zina Aita. Conte- nos um pouco mais dessa pesquisa.
Uma das surpresas que a pesquisa sobre o poeta Agenor Barbosa nos deu foi descobrirmos que também houve uma pintora mineira no evento acontecido em São Paulo. Zina Aita, nascida Tereza Aita, nasceu em Belo Horizonte, em 1900. Estudou na Itália e trouxe técnicas vanguardistas para o Brasil. Expôs pioneiramente no Rio de Janeiro, em 1919, e depois em Belo Horizonte, onde causou espanto na conservadora sociedade mineira. Importante mencionar que Aita foi considerada por alguns estudiosos como a mais modernista de todas. Era muito respeitada por Mário de Andrade, que comprou muitos de seus quadros. Ela traz influências do fauvismo e do pontilhismo. Sua maior característica é o uso de cores fortes, primitivas, intensas, consideradas na época, bizarras. Zina é um grande talento que precisa ser mais conhecido.
 
Como adquirir o livro?
O livro pode ser adquirido com os autores, hoje à noite, no lançamento, no corredor cultural. Estamos preparando uma noite festiva, artística, para receber nossos amigos. Todos estão convidados. Posteriormente, para os que não puderem comparecer, os autores disponibili-zarão o livro em algumas livrarias da cidade.
 
SERVIÇO
Lançamento do livro “Uma tristeza mineira numa capa de garoa”
Data: 17/2, 20h
Local: Em frente à Secretaria de Cultura, no Corredor Cultural 

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