Michelle Tondineli
Repórter
Acontece hoje o lançamento do livro História dos Gerais, organizado pelo professor Eduardo Magalhães Ribeiro. O livro apresenta pesquisas que abordam a relação estabelecida pelo homem da região do Alto-Médio São Francisco com a ocupação do solo e sua luta constante para praticar agricultura em uma região com grande escassez de água.
De acordo com o professor Eduardo Magalhães Ribeiro, são 16 autores e os capítulos do livro são resultado de pesquisa realizada entre 2007 e 2010.
- Este livro resulta de um estudo que fizemos, reunindo equipes da UFLA, UFMG, UFVJM e UFU na região dos Gerais, margem esquerda do Alto-Médio São Francisco. A pesquisa tratava de população, recursos naturais e alternativas produtivas e foi apoiada pelo CNPQ e Fapemig - afirma.
Magalhães diz ainda que, à medida que os resultados da pesquisa foram amadurecendo, foi possível perceber que havia grandes estudos de cientistas e pesquisadores, além de excelentes depoimentos da população regional.
- O livro combina duas narrativas, a fala dos pesquisadores e a fala da população sobre os mesmos assuntos. Os principais personagens do livro são as águas, os rios e as veredas que estão secando. Rios quase sempre são considerados parte estável da paisagem, coisa sem vida, como as montanhas ou os vales. Mas, rios, além de serem vivos, fazem parte da vida de outros seres vivos - afirma.
Para Eduardo, uma das experiências mais originais é a região de Januária.
- Desde os anos 90, um grupo de moradores de várias comunidades rurais se reuniu para recuperar seu rio. E, ao experimentar fazer isto, tiveram que rever toda a sua historia, suas técnicas e seus costumes. Este é o enredo do livro, a relação entre população, água e vida - diz.
A capa foi inspirada no trabalho de bordadeiras de Montes Claros. A ilustração mostra elementos regionais como o carro de boi e o buriti. Outras informações (38) 2101-7789.
PUBLICAÇÃO É RESULTADO DE PESQUISAS
O livro apresenta alguns dos resultados da pesquisa feita no Alto-Médio São Francisco, nos gerais do rio dos Cochos, municípios de Januária, Bonito de Minas e Cônego Marinho, entre 2007 e 2010. A pesquisa investigou o uso de recursos naturais, os sistemas produtivos agroextrativistas, os canais de comercialização da produção e as relações entre população, produção e água.
De acordo com Eduardo, esses assuntos são ligados pela situação particular da região.
- Parte sanfranciscana de Minas Gerais, lá ficam as nascentes de muitos córregos e veredas cujas águas são usadas para irrigar, beneficiar produtos, criar animais e, evidentemente, na lida doméstica. Esses recursos garantiram à população do lugar condição de sustentação, mesmo com as secas periódicas e as chuvas irregulares. As condições de acesso e a quantidade de água à disposição da população rural determinam produção, alimentação e qualidade de vida - diz.
Magalhães afirma que a pesquisa buscava compreender as técnicas de manejo das águas e dos recursos naturais e a relação entre conservação de recursos e produção numa situação de escassez.
- Como a região é muito rica em recursos naturais, particularmente em recursos florestais, era fundamental analisar o agroextrativismo, que naquelas condições permite produzir alimentos e renda ao mesmo tempo em que conserva recursos. No rio dos Cochos - os-Cochos, o riacho citado nas falas deste livro - existe uma rara iniciativa local de conservação de recursos hídricos e naturais. Desde quando o riacho começou a secar, nos finais da década de 1990, quando não pôde mais ser usada a água de regra e se disseminou a abertura de poços tubulares por toda a região, um grupo de agricultores começou a se movimentar para revitalizar seu riacho e fazer a água voltar a correr - fala.
No início da década de 2000, as universidades começaram a acompanhar essa iniciativa de conservação, por meio de atividades esporádicas de extensão.
- Depois, essa empreitada reuniu professores, funcionários, pesquisadores, técnicos e estudantes da UFLA, UFMG, IFSMG/Inconfidentes, UFU e UFVJM, e veio a ocasião de estreitar mais os laços com os dilemas do rio dos Cochos. Equipes de lugares e universidades diferentes se juntaram, misturaram áreas diversas de conhecimento e, ao longo de quase 3 anos, a pesquisa foi uma extraordinária oportunidade para conhecer a situação vivida pelos agricultores geralistas - afirma.
Para o professor, a pesquisa mostrou a importância da presença cotidiana da universidade acompanhando essa realidade tão complexa.
- Revelou casos que a universidade pode mediar com sua capacidade para estabelecer diálogos que ultrapassam as dimensões do cotidiano e mostrou oportunidades para mobilizar conhecimentos que criam novas técnicas e integram experiências diferentes em torno de um mesmo assunto - afirma.
O livro traz a fala da universidade sobre as comunidades e os recursos e convida os moradores do rio dos Cochos a falar sobre sua história, sua cultura material e seus dilemas.
- Eles equacionam seus problemas, que conhecem melhor que ninguém; falam com gosto da história vivida, da sua relação controversa com o seu riacho - conclui.
O livro pode ser encontrado na livraria da UFMG, na Rua Viúva Coronel Francisco Ribeiro, 40, Centro.