Participação feminina

Livro de historiador revela papel de Maria da Cruz nas revoltas coloniais

Leonardo Queiroz
leonardoqueiroz.onorte@gmail.com
Publicado em 28/03/2025 às 19:00.
O livro de 189 páginas, derivado de uma dissertação de mestrado da UFF de 2011, utiliza cartas, testamentos e correspondências oficiais para retratar o sertão mineiro do século XVIII (Unimontes/ divulgação)
O livro de 189 páginas, derivado de uma dissertação de mestrado da UFF de 2011, utiliza cartas, testamentos e correspondências oficiais para retratar o sertão mineiro do século XVIII (Unimontes/ divulgação)

O historiador Alexandre Rodrigues de Souza acaba de lançar a obra “Maria da Cruz, a Dona do Sertão: mulher e rebelião em Minas Gerais no século XVIII”. O livro, que investiga a trajetória de Maria da Cruz, uma mulher que desempenhou um papel central nos Motins do Sertão de 1736, movimento de resistência contra a tributação imposta pelo governo colonial, pode ser acessado gratuitamente pelo site da editora Unimontes.

Baseado em uma pesquisa de mestrado defendida em 2011 na Universidade Federal Fluminense (UFF), o livro reúne 189 páginas e se fundamenta em documentos históricos, como cartas, testamentos e correspondências oficiais, para reconstruir o contexto do sertão mineiro do século XVIII. “A obra revela uma mulher poderosa, viúva e proprietária de terras, que desempenhou papel central nos Motins do Sertão de 1736, movimento de resistência contra a cobrança de impostos pelo governo colonial”, destaca o historiador Alexandre Rodrigues de Souza.

Dividida em três capítulos, a publicação contextualiza a organização social do sertão mineiro, descreve a participação de Maria da Cruz e seu filho, Pedro Cardoso, na rebelião e, por fim, explora a condição feminina naquele período. “O envolvimento de Maria da Cruz na revolta não é visto em tom de espanto pela sociedade da época. O que chama atenção são os descaminhos da vida de uma mulher viúva envolvida num dos mais importantes protestos do período colonial. Uma mulher sempre descrita como “Dona”, que tinha cativos, filhos padres, bisnetos vereadores, mas também descendentes mulatos” explica o historiador sobre o que mais chamou a sua atenção na trajetória de Maria da Cruz. Ainda de acordo com ele, tratava-se de uma família com uma rede familiar que se estendia para fora do sertão das Minas. “Isso expressa as contradições de se viver num espaço colonial, escravista e hierarquizado”. 

“A novidade aqui é o olhar para essa história a partir do envolvimento de Maria da Cruz. Mas os Motins do Sertão foram estudados por outros historiadores e existem trabalhos muito importantes no tema, como, por exemplo, as investigações de Gefferson Ramos, Luciano Figueiredo e Carla Anastasia. As obras de Giselle Fagundes e Nahilson Martins contribuíram muito com o trabalho documental e, além das fontes publicadas, conta com diversas fotografias do que resta do patrimônio da região do norte de Minas, ainda pouco valorizado pelos órgãos oficiais” explica o autor sobre a sua pesquisa.

“Desde a década de 80, a historiografia brasileira tem feito trabalhos importantes no estudo da história das mulheres e das relações de gênero. Entretanto, muitas vezes as mulheres são empurradas para espaços do mundo da família, da casa ou mesmo da sexualidade. Esta obra busca mostrar que o gênero não é obstáculo para a afirmação da presença das mulheres no universo da resistência política e das suas lutas. Em tempos de aumento da violência misógina na sociedade contemporânea, histórias como essa nos ajudam a entender que as mulheres estiveram e devem estar presentes em todos os lugares”, completa Alexandre sobre a participação feminina em processos de resistência política no período colonial. 

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