O projeto “A literatura negra no Brasil: Fortalecimento da identidade, afro por meio da sexta arte” tomou vida na escola estadual Carlos Versiani, em Montes Claros, desde fevereiro deste ano. Selecionado junto com 400 projetos contemplados pelo Programa de Iniciação Científica da Educação Básica (ICEB) do Estado de Minas Gerais, em sua terceira edição, a iniciativa visa não apenas apresentar a literatura aos adolescentes do 8º e 9º ano fundamental, mas destacar principalmente a importância dos escritores negros para o enriquecimento desse cenário literário.
A orientadora do projeto, Macélia Teixeira Sales, destaca a abrangência da proposta. “Selecionamos 12 autores, mas existem bem mais. Vamos entender melhor quem são esses escritores, o que escrevem, qual a importância deles para o cenário literário, e qual a contribuição deles, na valorização da cultura. O que eles trazem de ganho para a literatura nacional.
Representatividade
Em um contexto de mídias digitais e excesso de informações, a literatura enfrenta desafios para manter seu espaço. Macélia ressalta a relevância ao enfocar os escritores negros. “Isso é importante demais, é um ganho muito grande, porque em uma escola aonde boa parte dos alunos são negros, isso só vai empoderar todos, e isso não é pouco”, explica a orientadora.
A representatividade alcançada pelo projeto durante sua apresentação na escola foi destacada pela professora. “Muitos alunos se sentiram representados, uma vez que, o racismo persiste na sociedade”, ressalta Macélia. “Foi muito importante essa representatividade, porque sabemos que infelizmente o racismo ainda existe. Tanto que muitas personalidades negras foram apagadas pela sociedade e isso vale também no cenário literário, o próprio Machado de Assis, os alunos não sabiam que ele era negro, não sabiam dessa sua origem, afro. Então, em tempos que sabemos que o racismo vigora na sociedade, falar disso, na escola e mostrar a importância, a grandiosidade do trabalho desses escritores é uma forma de enriquecimento da cultura-afro, da conscientização do quanto que essas pessoas contribuíram e contribuem para a sociedade”, destaca a professora.
As estudantes gêmeas, Lavíni e Luma Rodrigues, de apenas 13 anos, admitem ter ciência da existência de escritores negros, mas desconheciam suas obras. Cenário que mudou, graças ao projeto da literatura negra. Luma, ao mergulhar na obra de Carolina de Jesus, o “Quarto de Despejo”, passou a ter uma outra visão da literatura nacional “Vi a visão dela, ali de dentro, porque ela podia falar, estava dentro da história. O ponto de vista dela está dentro da história, mas ela pode expressar, porque ela estava lá, conviveu com aquilo, viu. Esses papéis que damos aos escritores negros do Brasil precisam ser mais destacados, pois, vivenciaram nossa história em primeira pessoa”, destaca a estudante.
Já Lavíni, fez questão de ressaltar a escassez de estudo sobre autores negros em um país tão diverso que tem a maioria da sua população negra. “Se analisarmos todos os livros que lemos, tanto na escola quanto fora dela, são certamente de pessoas brancas. Só depois de ler Carolina de Jesus que me interessei mais por essa literatura. Prefiro muito mais os romances de escritores negros. Têm mais segredos, mais história”, conta entusiasmada a estudante