Idealizado e iniciado há quase 30 anos, documentário esbarra na falta de recursos financeiros (Divulgação)
A história de Zé Côco do Riachão, um dos mais autênticos representantes da cultura popular brasileira, está prestes a ser imortalizada em um documentário. Esse projeto foi idealizado e iniciado há quase 30 anos, mas enfrentou repetidas dificuldades devido à falta de financiamento. Músico e artesão de instrumentos, Zé Côco do Riachão encontrou no cerrado do norte de Minas Gerais tanto inspiração quanto material para criar seus instrumentos e composições. Para viabilizar a realização do documentário, foi lançada uma campanha de financiamento coletivo na plataforma apoia.se, acessível via um QR code.
O projeto do documentário, que já recebeu apoio inicial por meio do edital Sismic/2017, lançado pela Prefeitura Municipal de Montes Claros, através da Secretaria Municipal de Cultura, ainda depende da captação de recursos financeiros para ser concluído. “O financiamento conseguido pelo edital foi importante para retomar o projeto, mas é insuficiente para cobrir todas as fases de produção, incluindo o licenciamento de imagens de arquivo, captação de novas imagens ae depoimentos, além do processo de montagem e finalização”, explica a cineasta Andrea Martins, responsável pelo projeto.
O ator e músico Jackson Antunes, que fará a narração do documentário, está colaborando com a divulgação da campanha, ao lado de outros artistas. A produção está confiante de que outros artistas, locais ou de outras regiões, venham a aderir à campanha, tendo em vista que Zé Côco do Riachão é conhecido e admirado no meio musical, em todas as regiões do país.
Prova disso é um vídeo que vem circulando nas redes sociais no qual o cantor e compositor Almir Sater cita Zé Côco como um dos três violeiros mais importantes do Brasil. “Os interessados em fazer parte dessa história podem contribuir com valores a partir de Rnbsp;10. Para contribuições maiores, estamos oferecendo brindes que incluem o CD Vôo das Garças, de Zé Côco do Riachão, um livro de contos de minha autoria, aquarelas e telas de Gemma Fonseca”. Andrea Martins informa, ainda, que todos os apoiadores terão seus nomes inseridos nos créditos do filme.
CAMPANHAS COMBINADAS
Além da campanha de arrecadação principal, onde os colaboradores podem doar uma única vez, também existe a possibilidade de realizar um pagamento recorrente, ou seja, mensalmente, enquanto durar a campanha. “Essa sugestão partiu de alguns amigos que gostariam de fidelizar o apoio até o final do processo de produção. Ainda temos muito caminho pela frente, e toda contribuição é muito importante. Seja financeira ou através dos compartilhamentos e manifestações nas redes sociais”, diz Andrea Martins.
A escolha pela campanha de financiamento coletivo surgiu devido à dificuldade de obter recursos por meio de editais públicos e, principalmente, pelo desejo de concluir finalmente a produção. O filme, entretanto, depende de imagens de arquivo de diversas fontes, incluindo emissoras de televisão onde Zé Côco do Riachão participou, além de outros materiais audiovisuais e impressos. Conseguir a liberação gratuita dessas imagens nem sempre é possível.
As músicas dos primeiros LPs gravados também precisam ser licenciadas junto à gravadora que os produziu. “E não podemos deixar de considerar a remuneração dos membros da equipe de produção, que vem atuando com uma dedicação e profissionalismo admiráveis, e a necessidade de agregar outros profissionais ao projeto”, ressalta a cineasta, que diz estar também atenta aos editais de fomento à cultura e outras possibilidades de levantar recursos para o projeto. “Só não queremos que esse projeto volte para a gaveta novamente”, concluiu.
SOBRE ZÉ CÔCO DO RIACHÃO
Nascido na comunidade de Riachão, no município de Brasília de Minas, Zé Côco viveu por muitos anos naquela e em outras comunidades às margens do Rio, razão de tê-lo adotado como nome artístico. Ele viveu também, em Mirabela, na comunidade de São Pedro das Garças, no município de Montes Claros, assim como na sede deste município, de onde se tornou conhecido no país inteiro e também em outros países.
Durante 68 anos, Zé Côco viveu praticamente no anonimato. Foi em meados de 1980, já residindo em Montes Claros, que ele foi revelado ao mundo pelo também artista popular Téo Azevedo. Músico autodidata, Zé Côco deixou gravados três discos com músicas executadas em viola e rabeca, mas ele também tocava sanfona, violão e outros instrumentos. A crítica especializada foi unânime em considerá-lo um achado em benefício de nossa cultura popular.