Michelle Tondineli
Repórter
Março foi o mês de progresso para jovens estudantes e amantes de vídeos documentários. Artesanato e Design: A Valorização da Cultura Regional é produzido por Glauber Prates e Bernardo Morais nas cidades de Grão Mogol e Montes Claros.
De acordo com Prates, a ideia de fazer o curta surgiu em 2006, quando ele fez um artigo acadêmico sobre o artesanato de Grão Mogol.
(BERNARDO MORAIS)
- Lá descobri que o artesanato local cresceu muito a partir do momento em que houve um programa de qualificação para os artesãos, em que as peças passaram a ser inspiradas na história, cultura e natureza da região. A partir daí, surgiu a ideia de produzir um documentário sobre o assunto. O projeto ficou na gaveta por um tempo e no ano passado decidimos tentar apoio para produzir o documentário. Como não conseguimos o suficiente, resolvemos gravar sem ter patrocínio mesmo - afirma.
Para Glauber, é bom poder conhecer as pessoas, suas experiências de vida e opiniões.
- Também é interessante ver como os depoimentos se entrelaçam e se complementam, mas sempre deixando um pouco da personalidade de cada um. Fomos muito bem recebidos em Grão Mogol. A cidade é linda e acolhedora, além de ter um grande potencial turístico e cultural. Fizemos bons passeios por trilhas da região, onde registramos a exuberante geografia e a flora, principais fontes de inspiração para os artesãos - diz.
Segundo Bernardo Morais, o documentário é um relato da vida real e os atores são reais.
- Até então, gravamos apenas em Grão Mogol, entrevistamos os artesãos e filmamos as paisagens locais. O próximo passo é entrevistar algumas pessoas relacionadas à mesma temática em Montes Claros. Serão feitas duas versões, uma de 15 minutos para participar de uma mostra de vídeo e outra de 30 minutos - conta.
A quantidade de equipamentos teve quer ser racionalizada porque os produtores não contavam nem mesmo com meios de transporte.
- Pensando nisso, levamos pouca luz artificial e aproveitamos a luz natural na maioria das vezes. Trabalhamos muito os detalhes e closes e procuramos não interferir nas cenas, para que não perdessem a naturalidade. O documentário mostra a realidade das comunidades artesanais que vêm enfrentando problemas, desde a desvalorização da cultura local, concorrência desleal devido à produção industrial, falta de divulgação adequada, até escassez de mão-de-obra artesanal - afirma Glauber Prates.
Primeiro documentário da dupla, o filme é o foco principal por enquanto. Mas os produtores já têm várias ideias para um novo documentário.
- Iniciaremos as gravações em Montes Claros nesta semana, mas não esperamos muita dificuldade, pois aqui temos a produtora Casulo, que nos apoia e nos emprestou o estúdio completo com câmeras, luzes e equipamento para captação de áudio – finalizou Bernardo Morais.
Todo o passo-a-passo pode ser acompanhado no blog www.docartesanato.blogspot.com.
MESMO SEM APOIO, PRODUTORES NÃO DESISTEM
Sem patrocínio para a produção do documentário sobre artesanato, Bernardo Morais e Glauber Prates investem do próprio bolso. Para Glauber, Montes Claros está melhorando na produção de filmes documentários.
- Foram feitos alguns curtas com boa qualidade nos últimos anos, mas ainda é pouco. Montes Claros tem muito potencial que ainda não é explorado. Temos pouquíssimos cursos na área, poucos profissionais e quase nenhum apoio financeiro. Quem produz na cidade faz isso apenas por amor e acaba pagando para trabalhar - afirma.
Bernardo acredita que o amor pelo visual é fundamental e que em Montes Claros, infelizmente, esse tipo de trabalho ainda não é valorizado.
- Acreditamos que o nosso documentário servirá de exemplo para aqueles que se interessam por cinema e não acreditam ser capazes de produzir um documentário com baixo orçamento ou por não terem equipamentos e apoio. Não temos patrocínio ainda e estamos à procura - diz.
O lançamento do documentário está previsto para o final de abril. Prates diz que ainda é necessário patrocínio para a finalização e divulgação do filme.
- Recebemos apoio de várias empresas, dentre elas a Casulo Estúdio Gráfico, Shekinah Stúdio, o grupo musical Baru Sonoro, a Singular Digital e a prefeitura de Grão Mogol. Somos muito gratos e torcemos para que essas empresas sirvam de exemplo em nossa região, que é muito carente de incentivo e apoio cultural - diz.
Os jovens se inspiram em grandes diretores, como Fernando Meirelles, Murilo Salles, Ruy Guerra, Tim Burton, Woody Allen, Stanley Kubrick, Pedro Almodóvar, Bernardo Bertolucci, Quentin Tarantino e Krzysztof Kieœlowski. Na fotografia, as referências são César Charlone, Walter Carvalho, Vittorio Storaro, entre outros.
A obra audiovisual visa evidenciar como o design pode auxiliar na valorização dos produtos artesanais, através de ações como a contextualização histórica e cultural, a preocupação com a preservação do meio ambiente, gestão e planejamento da produção e formas de divulgação e vendas. A cidade de Grão Mogol foi escolhida devido ao recente programa de qualificação realizado junto à comunidade artesanal local, que passou a valorizar a riqueza natural e cultural da região, por meio de seus produtos.
