Jovem Daniel Rocha expõe sua arte na Mostra Casa Viva

Aos 29 anos, artista plástico montes-clarense fala sobre sua trajetória de criação, sobre o investimento atual na escultura, da dedicação aos estudos e das referências artísticas

Adriana Queiroz
12/06/2019 às 06:36.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:04
 (Fellipe Lucas)

(Fellipe Lucas)

Após cinco anos atuando exclusivamente na engenharia e dois anos morando em Belo Horizonte, o montes-clarense Daniel Rocha, de 29 anos, viu-se inquieto e a curiosidade pelo campo das artes foi se fazendo presente em sua rotina. Então, depois de uma fase de reflexão, resolveu buscar conhecimento na academia e ingressou no curso de Artes Visuais, em Montes Claros. Seus trabalhos estão expostos até o próximo dia 23, na mostra da Casa Viva.

“Tive receio de começar uma jornada em um campo que inicialmente parecia tão adverso, mas, a cada dia, tem sido uma nova descoberta, um novo encantamento, um novo aprendizado”, diz o artista.

Ele conta que viveu uma infância feliz, com a presença constante de seus pais. É o segundo filho de três. Sua mãe abdicou de parte da vida para cuidar dele e das irmãs.

“Sou grato aos meus pais, por terem me proporcionado experiências diversas na minha infância. Até mesmo o ato de fazer as lições de casa sozinho me ajudou a ter o senso de responsabilidade que tenho hoje e a capacidade de realização. Digo que sou grato por ter sido criado de forma despretensiosa, pois nunca fui pressionado a corresponder a expectativas de sucesso idealizadas. Sem essa pressão, acredito que o percurso é mais leve”, avalia.
 
Suas criações carregam uma identidade bastante marcante. Como você trabalhou seu estilo de arte ao longo de sua carreira?
Minha carreira só está no início. Fico contente por ter despertado essas impressões, pois tenho produzido buscando sempre uma identidade própria. É um desafio para o artista começar uma obra com um propósito e mantê-lo. Nas minhas experimentações tenho me desafiado a manter um diálogo coerente com meus sentimentos e senso estético, dando vazão à minha criatividade de forma pensada.
 
Quais são as técnicas que você utiliza em seu trabalho?
Tenho me arriscado no campo da escultura, assemblage e gravura. A escultura aditiva me dá muitas possibilidades de criação, apesar de que a figura humana e seus movimentos, sentimentos e expressões corporais são temas que me instigam bastante. Na assemblage existe o encantamento da ressignifica-ção de coisas e materiais, e nesse processo de ressignificação é inevitável não recorrer ao seu repertório emocional para produzir uma obra. Já na gravura, há um trabalho braçal ao esculpir/talhar na base a sua ideia/desenho, e esse trabalho guarda sutilezas e surpresas até o momento da impressão, pois, ao transferir a imagem para o papel, através da prensa, cada resultado é único. Esse mistério é o que me encanta na técnica.
 
Que artistas te inspiram? Quais são as suas referências?
Artistas como Camille Claudel, Bispo do Rosário, Patricia Piccinini, Basquiat, Ray Colares, Leonilson, Ceramistas do Vale do Jequitinhonha e muitos outros. Sou um curioso pelo novo! Rotineiramente, me deparo com artistas que me encantam e me inspiram, seja na sala de aula, nas ruas ou em exposições. Tenho frequentado um ambiente muito inspirador (Unimontes), rodeado de professores que têm muito conhecimento e bagagem. Produzir sob a orientação e o olhar apurado deles é um privilégio. Tive a honra de estudar por alguns livros que pertenceram ao Konstantin Christoff, gentilmente emprestados pela professora Elvira Christtof. Com tudo isso, não há como não se inspirar.

Das suas obras, qual você mais gosta?
É difícil escolher uma, pois cada uma carrega um significado diverso, cada uma carrega um pouco da minha personalidade e por sua vez nasceram após reflexões profundas.

Quais os desafios, como artista, nos dias de hoje?
Considero que o maior desafio do artista na atualidade é produzir fugindo de obviedades e de uma estética padronizada. Hoje as possibilidades de diálogo com o público são infinitas e diversas, e é um desafio constante para o artista buscar uma via de diálogo através da sua obra de forma particular.

Fale sobre sua participação na mostra Casa Viva
Há dois anos quando visitei a primeira edição do Casa Viva senti muita vontade de participar. Joguei para universo e ele me devolveu em forma de desafio. Uma semana antes do início da mostra navegando pelas redes sociais me veio em mente enviar uma mensagem para organização do evento para saber da possibilidade de alguma das minhas peças comporem o ambiente de algum dos designers ou arquitetos envolvidos, mas fui surpreendido com a sugestão da Paula Alcântara (organizadora) para que eu assumisse um espaço, no entanto o prazo que eu teria para deixa-lo pronto seria de apenas 05 dias. Tive medo, mas encarei o desafio! Foi aí que a minha formação me ajudou. Elaborei um projeto otimizado sem grandes intervenções e busquei parceiros que tinham objetos que traziam informação e que comunicavam com a minha obra, assim nasceu o Espaço do Artista na mostra casa Viva. Fiquei muito satisfeito com o resultado, pois consegui executar fielmente o conceito de retratar duas realidades presentes na vida do artista: O espaço de trabalho (ateliê) e o espaço dedicado a exposição.

Como você trabalha a divulgação da sua arte?
Hoje temos essa ferramenta incrível que é internet e redes sociais, com elas as distâncias se encurtaram. Com as redes sociais é possível que o expectador acompanhe o processo de criação de uma obra. Tenho tentado registrar esses momentos a fim de possibilitar a compreensão das pessoas acerca do fazer artístico, suas sutilezas e a dedicação braçal que está presente no cotidiano do artista. Afinal, uma obra de arte não é apenas o resultado, conhecer o processo possibilita a interpretação e compreensão de uma obra.

Que importância você dá para a arte na formação do indivíduo?
Eu posso dizer que fui transformado pelas artes. O contato como belo, com o subjetivo, com o imaterial ou metafísico me ajudou a dar vazão a minha sensibilidade e sentimentos que muitas vezes passaram despercebidos. Essa sensibilidade tem me proporcionado autoconhecimento e me ajudado sair do lugar comum do homem contemporâneo, que muitas vezes se vê como uma engrenagem de uma organização social onde perde-se sua identidade em busca de objetivos que muitas vezes não são verdadeiros. Recorro a Dotoiévski para responder a pergunta: “A beleza salvará o mundo”.

Mostra Casa Viva - Até o próximo dia 23Terça a sexta: 16h às 22h; Sábado e domingo: 10h às 22h(Rua Lírio Brant, 714, bairro MeloTerça a quinta: R$ 10 (Inteira) e R$ 5 (Meia)Sexta, sábado e domingo: R$ 16 (Inteira), R$ 8(Meia)
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