Jornada do herói

Fidelidade à história é deixada de lado em filme sobre Freddie Mercury, que estreou nesta quinta (01) nos cinemas

Paulo Henrique Silva
Hoje em Dia - Belo Horizonte
02/11/2018 às 06:50.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:34
 (FOX/DIVULGAÇÃO)

(FOX/DIVULGAÇÃO)

Freddie Mercury olha extasiado pela janela do hotel, de onde se vê a orla do Rio de Janeiro, e comemora o recorde de público do show realizado no país, ressaltando que o estádio inteiro cantou junto “Love of my Life”. A reação teria levado o Queen, no retorno à Inglaterra, a buscar mais músicas interativas, resultando, entre outras, em “We Will Rock You”.

A passagem de uma das maiores bandas pop do mundo pela Cidade Maravilhosa tem papel importante na trama de “Bohemian Rhapsody”, cinebiografia que estreou ontem nos cinemas.

É o momento em que, após mostrar as imagens do show à esposa Mary Austin, ele finalmente revela ser bissexual, com a relação se transformando numa bela amizade.

Outro espetáculo que baliza o filme de Bryan Singer – diretor de três “X-Men” e de “Superman – O Retorno” – é o “Live Aid”, concerto de rock realizado para arrecadar fundos para o combate à fome na Etiópia. Serve de encerramento e exemplo de esperança e reconciliação, mote principal da história, que registra os caminhos tortuosos do sucesso a partir da história pessoal de Mercury.

Entre um e outro show se passam nada menos do que seis meses, durante o ano de 1985. Mas no filme esse espaço se transforma em vários anos, já que o “Rock in Rio” é jogado para o início dos anos 1980, antes de os integrantes se desentenderem e investirem em carreiras solos –e de Mercury descobrir que era portador de Aids.

Assim, em matéria de veracidade histórica, o filme pode representar uma decepção para os fãs, com tantas trocas de datas e episódios – Mercury só teria recebido o diagnóstico da doença em 1987. E participar do “Live Aid” foi importante para a banda, depois de lançar um disco sem repercussão, mas não significou a reunião deles.

Licenças poéticas à parte, a perspectiva de Singer é compreensível pelo histórico do diretor, afeito ao mundo dos super-heróis. Os detalhes foram alterados para o filme ter um antagonista: o assistente gay que leva Mercury a se afastar dos amigos de banda e mergulhar no mundo das drogas e, digamos, da perversão.

O vocalista performático e criador de letras maravilhosas envereda por este lado do “mal” e, como em qualquer HQ, apanha muito antes de ver a mocinha, sinônimo de beleza e pureza, sinalizar o caminho de retorno.

O “Live Aid” se torna o capítulo final da jornada deste herói, no retorno para casa –um estádio lotado em Londres.

É certo que o Queen ainda ficaria ativo até 1991, ano da morte de Mercury, mas isso pouco interessa a Singer, que prefere fechar um ciclo em direção à gênese de todo herói, a partir dos ensinamentos do seu pai parsi zoroastriano – “bons pensamentos, bons sentimentos e bons atos”.

Neste sentido, nada melhor do que terminar o filme num concerto para famintos, com o coração aberto a todo mundo.

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