A expedição do Cinema no Rio 2007 continua a descer o Velho Chico e aporta, desta vez, em Januária, décima cidade ribeirinha a receber o projeto neste ano. A simplicidade de “estar-no-mundo” – reverenciada nas obras do cineasta e documentarista Eduardo Coutinho, e assunto que está no centro das discussões do Cinema no Rio 2007 – será explicitada hoje (terça-feira), logo mais, durante a exibição do documentário O fim e o princípio, dirigido pelo já citado Coutinho. Para o documentarista, como ressaltou certa vez o crítico de cinema Luiz Zanin “não existem pequenas vidas. Existem a vida de qualquer um de nós. E a história dessas pessoas podem render grandes narrativas, sempre que encontram alguém com capacidade para ouvi-las”.
Há uma comunhão de pensamentos entre o fazer artístico de Coutinho e os propósitos do Cinema no Rio. Esse “ouvir” o outro, o diálogo constante com as pessoas, com as comunidades ribeirinhas, ou mesmo a troca de informações e experiências está na base do trabalho desenvolvido pelo projeto. E, mais que isso, transformou-se em um elo, um laço forte, que gerou uma relação muitíssimo estreita entre a comunidade e a equipe do Cinema no Rio.
Além de O fim e o princípio, também estão em cartaz em Januária , às 19 horas, os curtas Matinta Perera, de Humberto Avelar; e Cega Seca, de Sofia Federico; e o longa-metragem Abril
Despedaçado, de Walter Salles. Para o público infanto-juvenil o projeto oferece, a partir das 15 horas, a oficina Imagem em Movimento que ensina a confeccionar brinquedos ópticos como o taumatrópio e o flip-book. Toda a programação é gratuita.
A programação completa das outras cidades e mais informações sobre o Cinema no Rio estão no site www.cinemanorio.com.br.
Há exatos 30 anos o Cine Canoas – então tradicional sala de exibição de São Francisco, cidade ribeirinha do cerrado mineiro – vivia abarrotada de gente. “Domingo sempre foi um bom dia para ir ao cinema. Esperávamos a semana toda por isso”, lembra a dona-de-casa Maria do Perpétuo Socorro que, como ela própria define, era uma “exímia freqüentadora do Canoas naqueles tempos. Bons tempos”, recorda. Hoje a coisa mudou de figura. Com o cinema fechado, as opções de entretenimento em São Francisco são escassas. “Apesar da cidade não ser tão pequena assim, não temos muita oferta de diversão”, reclama. “E acho quase impossível que esse cinema volte a funcionar um dia. Apesar do povo gostar tanto e sentir muita falta”.
No último domingo (19) a grande tela do Cinema no Rio foi erguida diante da porta do antigo Cine Canoas para que dona Maria, assim como vários de seus conterrâneos, relembrasse os áureos tempos do cinema brasileiro e suas charmosas salas de exibição. Funcionou. “Os cinemas daquela época eram majestosos, bonitos de se ver. Chamavam a atenção das pessoas. Mas, infelizmente, nos dias de hoje tudo mudou. Precisamos de projetos como o Cinema no Rio, para que essas salas, tão freqüentadas no passado, não caiam no esquecimento”.
Ver os vizinhos ou gente conhecida da cidade na grande tela é o que a auxiliar de enfermagem, Lindaura Francisca de Oliveira, mais gosta no Cinema no Rio. “Adoro assistir às pessoas daqui. Cada ano uma história diferente, muito interessante”. Ela refere-se ao trabalho do cineasta mineiro Helvécio Marins e sua equipe, que produzem, em cada cidade visitada pelo Cinema no Rio, um vídeo abordando as peculiaridades do lugar. Este ano Lindaura levou os três sobrinhos (de sete, nove e dez anos) para assistirem aos filmes na praça pública. “Eles já são grandinhos e entendem muita coisa. Temos que passar o que aprendemos para frente. Principalmente para as crianças que serão o futuro do nosso país”, ressaltou.
A quarta edição do Cinema no Rio, que teve início no dia 11 em Pirapora , segue viagem até o dia 25 deste mês. A próxima parada ocorre hoje (21 ) em Januária. Logo em seguida o projeto segue para Itacarambi (23.08), Matias Cardoso (24.08) e Manga (25.08). Toda a programação é gratuita e aberta ao público.