A relação do comunicador popular Saulo Almeida – é assim que ele prefere ser chamado - com o norte de Minas, está no seio da sua família materna. Ele foi levado do Distrito Federal para Januária, nos braços da avó. “Tenho o maior orgulho disso. Uma mulher guerreira, resistente e que posso considerar como uma onça. Nada de pássaros simples, um gavião, talvez”, diz.
Desde pequeno, conviveu com as tias e a avó que dançavam São Gonçalo e reisados, um povo que também bordava e se dedicava ao artesanato. “A comunicação está inserida no meu contexto, de forma afetiva. Há 15 anos estou nessa área. Comecei no rádio aos 13 anos e sigo trabalhando de forma mais potente e crítica”, conta.
Rua de Baixo
Rua de Baixo é o primeiro curta metragem de Saulo Almeida, que além de dirigir, é também o roteirista. “No audiovisual, sim. Mas tenho vários rádios documentários. Venho do rádio, não é? O audiovisual não era uma onda que eu planejava surfar, porém, devido as mudanças e os avanços, precisei tomar esse rumo”, revela.
Além de um canal nas redes sociais, que no início falava somente de agenda cultural, e com o crescimento de inscritos, Saulo Almeida começou a produzir outros tipos de conteúdo, sem perder a verdadeira identidade do canal. “Sim, pensei que fosse difícil, como disse, sou do rádio, e a gente acaba acostumando com a pegada, mas como escrevo poesias, tudo isso me ajudou muito na criação”, diz.
DOCUMENTÁRIO
O curta começou a ser gravado em janeiro deste ano e conta a história do povo ribeirinho que muito contribuiu com a cultura januarense. “Estamos contando história de um povo guerreiro, que viveu e vive diariamente uma discriminação. Sem vitimismo, por favor! É um sentimento real. Somos um povo descendeste de índio e escravo. A luta é diária. Queremos impactar todos e reafirmar que somos resistentes”, afirma.
A estreia de Rua de Baixo aconteceu em julho, mas só agora, no próximo sábado (14), será exibido para a comunidade. “Os recursos fornecidos foram baixos. Optamos em levar para as instituições de ensino, para que crianças e adolescentes conheçam a história e tenham orgulho do lugar que vivem. Devido alguns pedidos e por ter muitos idosos na nossa comunidade, houve a necessidade de exibi-lo novamente.
João Damasceno é morador, educador e agitador cultural. Para ele, é importante o registro da comunidade e o que para eles é considerado precioso. “Como educador, acho extremamente importante deixar relatos para que outros possam ter memória da história. Como agitador cultural, a gente faz um trabalho para que as nossas raízes e a ancestralidade permaneçam vivas na comunidade da Rua de Baixo”, revela.