Jerúsia Arruda
Repórter
O canto dos devotos ecoa pelas ruas do bairro que ficam tomadas pela multidão de fiéis que vem de todo país para render homenagens aos Santos Reis. As cores, cheiros e sons se misturam com o passar da procissão, enquanto fogos de artifício espantam os maus espíritos e deixam a festa ainda mais vibrante. Entre o sagrado e o profano, enquanto uns rezam, pagam promessas e louvam os santos padroeiros, outros aproveitam o burburinho da festa para ganhar uns trocados com a barraca de cachorro-quente, pipoca, milho-verde e outras iguarias que exalam seu cheiro e atiçam os sentidos dos fiéis, muitos deles que vieram de longe e ainda não tiveram tempo de se alimentar.
Assim é a festa de Santos Reis, que acontece em Montes Claros há exatos 75 anos, no Grande Santos Reis.
O pároco Reginaldo Cordeiro de Lima, que é padre há treze anos e está na paróquia há 11 meses conta que a tradição começou com um sonho.
A capela e a gruta construídas pelo devoto Pedro Mendonça são os pontos de referência da festa no Grande Santos Reis (Foto:Wilson Medeiros)
- Na década de 1930, quando o Grande Santo Reis ainda era uma fazenda, o então proprietário Pedro Mendonça sonhou com três aves brancas pousando em seu quintal. Ele, que estava muito doente, interpretou como uma visita dos três Reis Magos e, então, fez uma promessa: se fosse curado construiria uma capela e uma gruta em sua fazenda em homenagem aos três Reis Magos. Curado, cumpriu a promessa. A capela passou a receber visitas durante todo o período em que se comemora a festa de Reis, de 24 de dezembro a 6 de janeiro. O tempo passou, as visitas aumentam a cada ano e, hoje, reúne mais de 50 mil devotos durante os 14 dias de festa, que se transformou em uma das maiores e mais tradicionais do estado – conta o pároco.
A igreja e a gruta existem até hoje, e estão localizadas na Praça Seis de Janeiro, no Grande Santos Reis, onde acontecem as missas e encontros com a comunidade, rendendo homenagens aos santos padroeiros.
Coordenada pela Igreja Católica e Conselho comunitário da paróquia de Santos Reis, a festa tem uma extensa programação religiosa que inclui procissão e missa todos os dias, novenas, exposição de presépios, levantamento de mastro em homenagem aos três Reis Magos, apresentação de ternos de folia e pastorinhas, shows com artistas locais, além de barracas com bebidas e comidas típicas. A festa começa após a Missa do Galo, no dia 24 de dezembro, quando é comemorado o nascimento do Menino Jesus, e vai até o dia 6 de janeiro, dia de Santos Reis, mantendo a tradição religiosa que chegou ao Brasil pelos jesuítas e colonizadores portugueses.
PARCERIA
Segundo o coordenador financeiro da paróquia de Santos Reis e um dos organizadores da festa, José Osmando Mendes de Aquino os quatorze dias de festa movimentam não só a comunidade do bairro, mas toda a cidade, atraindo, ainda, devotos de todo país.
- Milhares de pessoas lotam as ruas do bairro logo pela manhã, com a apresentação dos ternos de folia e pastorinhas. Há uma participação de toda a comunidade, que abre suas casas para receber os visitantes de outras cidades e muitos voluntários participam da organização da festa, contribuindo, ainda, na produção de refeições para todos – explica.
Para que a festa aconteça, José Osmando diz que são investidos cerca de sete mil reais adquiridos com a contribuição do comércio local e de colaboradores voluntários.
- Toda a comunidade participa, ajudando do jeito que pode. As barraquinhas de bebidas e comidas típicas organizadas pela paróquia ajudam a financiar a festa – conta Osmando, que se diz satisfeito com o envolvimento e solidariedade das pessoas.
ADEQUANDO AOS NOVOS TEMPOS
José Osmando diz que há seis anos foi incluída na programação religiosa a apresentação de shows com artistas da cidade e região para despertar o interesse dos jovens e adolescentes pela festa.
- Antes a festa incluía apenas a programação religiosa e folclórica. Para manter o interesse pelas tradições incluímos a apresentação de artistas da região para chamar a atenção das pessoas mais jovens. Nosso principal objetivo é preservar os valores culturais de nossa gente e para que isso aconteça é preciso adaptar a festa aos novos tempos. O resultado tem sido o melhor possível, pois a cada ano, cresce o número de visitantes – conta Osmando, que diz participar da festa desde menino.
De acordo com o padre Reginaldo, neste ano a programação musical ficou por conta dos ministérios de música católica, que todo dia se apresentam na Praça após a missa, acompanhados pela comunidade.
- Uma importante participação neste ano foi a da Comunidade kairós, da casa de acolhida Bom Pastor, formada por 40 crianças de Montes Claros e 6 de Três Marias/MG, que foram acolhidas e reinseridas na comunidade. É um importante trabalho que a paróquia vem desenvolvendo nas duas cidades que têm muitas famílias carentes e crianças desassistidas e, com o projeto, estamos promovendo uma série de atividades que estimulam as potencialidades individuais, devolvendo à criança a auto-estima e criando novos parâmetros para sonharem. Para as crianças do Grande Santos Reis, se apresentarem na praça, cantar para seus familiares, amigos e vizinhos, em uma festa que já faz parte de sua cultura e serem aplaudidas é um momento de realização para cada uma delas. Por isso que neste ano priorizamos sua participação – explica o pároco que também é o fundador da casa de acolhida Bom Pastor e da Comunidade Kairós.
PROGRAMAÇÃO
Na noite de ontem, sexta-feira, foi celebrada missa pelo pároco Reginaldo de Lima. Logo após houve levantamento do mastro e apresentação do grupo Euterpe, de Buenópolis e da Comunidade Kairós.
Neste sábado, às 7h, haverá missa dos foliões e pastorinhas, celebrada pelo Frei Valdo; às 18h30, procissão acompanhada pelos cantores da comunidade da paróquia Santos Reis. Logo após a procissão, missa celebrada pelo arcebispo D. Geraldo Majela. No encerramento, show de evangelização na Praça Seis de Janeiro.