Michelle Tondineli
Repórter
O nome escolhido para o primeiro GM brasileiro foi Opala. Sua carroceria veio dos modelos alemães da Opel Rekord e Commodore. Já a mecânica foi extraída do Impala. A dúvida, na época, era se essa união seria estável. E foi, como ficou provado nos 23 anos e 5 meses de produção do Opala no Brasil. Um verdadeiro sucesso de vendas.
Desde a sua criação, o Opala usou apenas dois tipos de motores, um 4 cilindros e outro 6 cilindros, ambos de origem americana. Em 1970 foi lançado o Opala SS, versão esportiva do modelo, que inaugurou o famoso motor 4.1. Foi com ele que se tornou o carro mais rápido do Brasil, na época.
Paulo Jorge Martins Cardoso é colecionador deste veículo desde 1969. Ele afirma que, logo quando foi lançado, o delírio pelo carro era grande, sua paixão vem desde a infância.
- Eu delirava às margens da Br 135, atualmente conhecida como Avenida Deputado Plínio Ribeiro, na Vila Ipiranga, onde cresci. Observava o desfile imponente e os pegas, que naquele tempo ainda eram possíveis, sem danos ou riscos. Os motores me encantavam pelo ronco e desempenho. Tanto que me formei em mecânica na escola técnica, apaixonado pela área automotiva - afirma.
Paulo trabalhou em diversos segmentos afins, dentre eles retífica de motores, e fez inúmeros cursos.
- Meu principal hobby é frequentar a oficina de um grande amigo, às vezes pondo a mão na graxa por prazer. Os Opalas sempre foram meus carros prediletos, sonhava ao assistir as provas do Opala Stock Car, e quando pude, adquiri meu primeiro e castigado Opala, numa sequência que culminou no décimo amor vermelho e preto - diz.
O colecionador afirma que em Montes Claros existem outros colecionadores de Opalas.
- Eu percebi o fascínio dos pais e dos filhos ao verem e contarem suas histórias, quando da única exposição que fui convidado a participar no shopping, junto a carros modernos. A menina roubava a cena, com inúmeras fotografias dentro e ao lado dela. Isso me deixou feliz, pois esse é o objetivo. Um carro antigo é um museu vivo ambulante, que transporta sonhos, paixões, saudades, amores - afirma.
Para Paulo Jorge, o Opala também lembra tragédia, já que sua esposa morreu dentro de um.
- Minha esposa Solanginha, ao sair do hospital após uma cirurgia, sentou-se feliz no banco da minha Gertrudes, um Opala 84, e ali deu seu último suspiro de vida. Isso marcou profundamente. Vendi o carro por tristeza - diz.
Atualmente, não existe nenhum clube formado na cidade e nunca foi organizado um encontro de carros antigos. Paulo diz que gostaria de ver todos juntos.
- Entre eles, Opalas, Mavericks, Fuscas, Brasílias, Aero Willys, e outras raridades que eu sei que ainda estão guardadas por aí. Estes encontros de carros promovidos na cidade são diferentes. Eles são cheios de jovens, com seus carros novos e reformados, som automotivo. O encontro do carro antigo é mais famílias, amigos, conversas, músicas de época, saudades e muita paixão - finaliza.
FALTA CLUBE DE COLECIONADORES ANTIGOS
O colecionador Paulo Jorge Martins Cardoso sonha com a realização de encontros de colecionadores em Montes Claros.
- Existe, sim, muita boa vontade de alguns, mas falta incentivo, falta apoio e esse evento não deve ter nenhum outro interesse que não seja reunir os viciados por motores e automóveis bem cuidados. Um bom espaço para esse evento seria o ginásio poliesportivo, que está muito bonito, espaçoso e de fácil acesso - diz.
Paulo Jorge diz que vendeu muitos de seus carros, mas diz que, caso aconteça um encontro, ele compra mais um.
- É muito difícil ser colecionador ou simples proprietário de carro antigo em Montes Claros. São poucos os profissionais dedicados e experientes, mecânicos, pintores, lanterneiros. Quase não há peças. Eu sou garimpeiro de lojas e ferros-velhos, viajo por todo o Norte e sempre trago alguma coisa – afirma.
Para o colecionador, carro é igual a mulher.
- A gente se apaixona por algum motivo que às vezes não temos consciência, parece uma somatória de virtudes que nos fascina. A potência do motor, o acabamento interno, a aparência, a cor, e mais uma infinidade de itens que nos leva a escolher o carro certo. No caso do carro antigo, é muito mais complicado, pois o que pesa é o estado de conservação e se o conjunto está completo (lanternas, faróis, frisos, emblemas, itens como volantes, botões do painel, elevadores de vidros, e outros) - diz.
Paulo Jorge também é apaixonado por miniaturas de carros, motos, aviões e bicicletas.
- O motivo de colecionar miniaturas eu acho que está vinculado ao mesmo desejo de manter viva a memória dos inúmeros veículos. Mesmo assim, prefiro colecionar antigos. Sou um preservador de revistas de automóveis e mecânica. Nenhum patrocínio é dado ou facilitado a quem quer colecionar em Montes Claros. Se formarmos um clube, a situação muda, pois a evidência acaba gerando interesse de alguém de expor num evento - finaliza.
