Há 57 anos, cerâmica faz parte da vida de artesã

Jornal O Norte
Publicado em 07/04/2010 às 11:34.Atualizado em 15/11/2021 às 06:25.

Michelle Tondineli


Repórter



Cerâmica é a argila que, queimada em forno, torna-se dura e pouco quebradiça. Os seus principais elementos constitutivos são a sílica e o alumínio. Pode ser chamada de cerâmica artística, objetos utilitários, objetos decorativos, esculturas e outros.



De mãe para filha, foram passados os ensinamentos da cerâmica na família da artesã Ana Maria de Castro (Roxa). Ela conta que começou com o trabalho aos oito anos.



- Meu apelido é de família, porque nasci a mais morena na minha casa, e o pessoal ficava me chamando de roxinha e pegou. O artesanato é tradição de família, já vem no sangue - diz.



(FOTO MICHELLE TONDINELI)


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A artesã não consegue pensar em outra profissão


para exercer
.



Ela diz que para trabalhar são necessários barro, água, lenha, fogo e mãos. 



- O barro nós conseguimos aqui na região, mas não serve qualquer um, temos que comprar ou produzir. É um barro próprio, só quem conhece consegue fazer o molde ideal. Eu começo modelando duas, três, quatro, e quando pensa que não, a peça já esta pronta. O forno queima cerca de 60 peças, não basta só uma - explica.



Roxa fala que é necessário queimar para conservar o barro. Se deixar cru ele fica frágil. Queimado, cria resistência.



- Já passei para minhas filhas os conhecimentos, mas elas não se dedicam muito à profissão artesanal porque ambas são professoras e não têm tempo. Este artesanato é trabalhoso, temos que pegar no pesado, mas é muito bonito. Sinto grande prazer fazendo a peça. Está no meu sangue - diz.



A artesã acredita que vale a pena trabalhar com o público, com encomendas.



- Eu faço diversas peças, namoradeiras de janela, família de galinhas para cozinha, São Francisco, catopês, cinzeiro, farinheiros, sapo, entre outras - finaliza.



Outras informações (38) 3213–1895 ou (38) 9968–6982.



EXPOSIÇÃO PRÓPRIA DOS TRABALHOS



A artesã explica que, assim como ocorre com a maioria dos artesãos de Montes Claros, é difícil realizar sua própria exposição.



- Já dei cursos no Sebrae e já viajei para expor meus trabalhos. Eu nunca participei sozinha de uma exposição. Minhas peças são fáceis de encontrar. Quase não vendo na feira de artesanato pela dificuldade de transportar as peças. Para eu expor sozinha seria necessário que as pessoas dessem mais valor e reconhecessem que é difícil para nós estarmos expondo e mostrando aquele trabalho. Nós às vezes temos que voltar com a peça não vendida para casa, sendo obrigados a destruí-la - afirma.



Roxa comenta que não fica nenhum mês sem vender seus produtos, mas a renda não é fixa.



- Sempre vendemos algo. Tem mês que compram duas ou três peças. Quanto mais vendemos mais ficamos incentivados a trabalhar. As peças variam de R$ 25 a R$ 300. Eu sempre escolho de 5cm a 60cm para tamanhos das minhas peças - revela.



Para a artesã, sua inspiração vem de Deus, e é por causa Dele que ela consegue realizar um bom trabalho.



- Muitas vezes já sonhei com a peça e acordei com ela na mente, prontinha. Eu aceito encomenda e trabalho com a minha inspiração. Eu mesma escolho as cores. Não tenho preferência em trabalhar com pronta entrega ou encomenda. Quanto mais chegar encomenda, melhor - avalia.



Desde que começou, garante que nunca nenhum cliente reclamou de seu trabalho.



- É difícil trabalhar com artesanato em Montes Claros. As pessoas aqui não dão muito valor. Sempre temos amigos fora, que vem à nossa casa e gostam de nosso trabalho, nos ajudando. O artesanato tem que ser levado para fora, onde as pessoas dão muito valor - diz.



Há 47 anos como artesã, não é possível para Roxa se enxergar em outra profissão.



- Se eu ficar sem trabalhar, sem pegar no barro, fico nervosa. E quando estou trabalhando com o barro me sinto relaxada. Sou aposentada da casa do artesão. O principal motivo é a idade. Nem todo dia estamos bem de saúde. Prefiro trabalhar em casa, porque se eu me sentir mal posso parar e deitar para descansar.  Em casa é mais cômodo, posso produzir mais, e me sentir tranquila - finaliza.



Os trabalhos de Roxa ficam expostos na Rua Alagoas, 302, Bairro Cintra.

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