Grafite: De vandalismo a expressão artística

Jornal O Norte
Publicado em 07/05/2010 às 10:22.Atualizado em 15/11/2021 às 06:28.

Michelle Tondineli


Repórter



O grafite é uma inscrição caligrafada ou desenho pintado ou gravado sobre um suporte que não é normalmente previsto para esta finalidade. O grafite já é considerado forma de expressão no âmbito das artes visuais, mais especificamente da street art ou arte urbana, em que o artista aproveita os espaços públicos, criando uma linguagem intencional para interferir na cidade.



De acordo com o professor Wender dos Santos Miranda, que trabalha há dez anos com o grafite e há três anos é professor de oficina no programa Fica Vivo, o grafite é um dos quatro elementos da cultura Hip Hop, além do rap, o break e o DJ.



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O grafiteiro Wender dos Santos Miranda defende sua arte.



- É uma cultura que se originou nos guetos de Nova York no final da década de 60. O movimento tinha como objetivo dar fim às guerras de gangues, tornando as disputas criativas ao invés de sangrentas. Os confrontos corporais foram substituídos por batalhas de break, ou seja, o grupo que dançava mais era o vencedor. Pichações que eram utilizadas para demarcar o território das gangues foram substituídas por painéis coloridos que davam vida ao ambiente. O grafite era a oportunidade de jovens que não tinham acesso a galerias de arte estarem expondo seus trabalhos - diz.



Wender afirma que muitas pessoas ainda consideram o grafite vandalismo.



- O grafite é uma modalidade de arte urbana que teve sua origem na pichação. Para muitos, o grafite é uma evolução da pichação, pois as mesmas letras que são utilizadas na pichação são utilizadas no grafite, só que de uma forma mais elaborada, mais artística. Não que a pichação não seja considerada uma arte, pois quem a pratica defende com unhas e dentes que a mesma é - afirma.



O artista fala dos vários tipos de grafite existentes.



- Throw up, mais conhecido como Bomb, tem uma ligação mais próxima com a pichação, pois o mesmo é feito de forma rápida sem muito compromisso com mensagens, e normalmente é feito em lugares que vão ajudar na divulgação do nome de quem o faz. Wild Style é um estilo de letras com setas, mais elaborado, requer mais dedicação tanto para criar quanto na hora de pintar. O estilo 3D  é, sem dúvida, o que requer mais estudos por parte do grafiteiro, pois é o mais próximo da realidade possível. O grafiteiro deve ter conhecimento das técnicas de luz, luz reflexo, sombra, sombra projetada, ponto de fuga. O Tag é que gerou e deu base para todos os estilos de grafite. E a assinatura do grafiteiro, para muitos considerada pichação, não uma pichação comum que tem como objetivo escrever palavrões  ou que utiliza letras normais. O Tag é estilizado, segue um padrão, tem letras próprias, podendo variar em algumas capitais e centros urbanos, mas a essência é a mesma - finaliza.



MOC TERÁ OFICINA DE GRAFITE NO FECAN



Em Montes Claros, o V Fecan - Festival de cultura negra, realizará a oficina de grafite na quinta-feira, 13. As inscrições são gratuitas e estão sendo realizadas no Necun - Núcleo de cultura negra, no diretório estudantil da Unimontes e na casa da cidadania.



De acordo com o professor Wender dos Santos Miranda, hoje o grafite tem ganhado espaço e respeito da população pela beleza e qualidade das pinturas.



- Ele também abre portas para o mercado de trabalho, para trabalhos particulares, mas a essência do grafite é a rua, ou seja, pintar pelo prazer de pintar. O grafiteiro é considerado um escritor, mas também pintamos outros tipos de desenhos que venham complementar nossas telas gigantes, os muros. Mas, não necessariamente o grafiteiro tem que fazer letras, pode se dedicar a criar um personagem que o identifique, pois, assim como era na pichação, seu trabalho deve ter uma identidade. Ele deve ser identificado pelo seu trabalho, seu estilo, que é único. Ou seja, tem a mesma essência, mas com características próprias. Um grafiteiro nunca copia o trabalho do outro - garante.



Os trabalhos de grafite são feitos geralmente com spray.



- Mas, devido ao custo do mesmo ser alto, algumas pessoas utilizam o látex em seus trabalhos. Não podemos descartar o uso das máscaras como acessório de proteção. Temos também os Caps, bicos de spray que ajustam os traços, possibilitando traços mais finos ou mais grossos. Devemos ressaltar que o aerografia não é considerada grafite - diz.



A escolha da cor certa depende muito do grafiteiro e de seu conhecimento sobre o assunto.



- O grafiteiro deve ter um estudo a respeito do assunto, pois o painel deve ser pintado de forma harmoniosa. Tenho que ter a consciência de que meu trabalho pode prejudicar o trabalho dos outros. Por isso, sempre sentamos antes e decidimos que cor utilizar de fundo, que cenário vamos construir, para que no final não vire um carnaval e estrague o painel. Na maioria das vezes, pintamos em muros, mas podemos também pintar em viadutos, trem, e outros - afirma.



Para Wender, a valorização do grafite tem crescido bastante em Montes Claros.



- A população tem valorizado muito nossa arte. Quando estamos pintando, as pessoas param, perguntam o que estamos fazendo, pegam nossos contatos. Mas, o movimento ainda tem muito a crescer na cidade, pois a quantidade de grafiteiros ainda é baixa. Em Montes Claros é mais fácil encontrar o grafite no centro, nos viadutos, muros e em algumas avenidas - diz.



Na cidade, alguns grupos de grafite têm se destacado, como o Caxeta Club, o Atitude Arte Crew, o TO Crew e outros.



- No momento, as oficinas estão acontecendo pelo programa Fica Vivo, que atua na região do grande Santos Reis e Cidade Cristo Rei. A oficina de grafite acontece no V Fecan e o encontro de grafiteiros também. Nas oficinas, estaremos esclarecendo dúvidas e ensinaremos sobre a cultura do grafite, além de ensinar a fazer o grafite - finalizou.

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