Fatel e a força do canto

Mesclando músicas de autoria própria e de autores consagrados, a cantora montes-clarense Fatel chega aos 59 anos brilhando nos palcos do Brasil

Jornal O Norte
Publicado em 24/03/2017 às 07:00.Atualizado em 15/11/2021 às 14:57.

Por Adriana Queiroz











Uma diva chamada Fatel

 

A cantora Maria de Fátima Barbosa Pinho, conhecida como Fatel, nasceu em Montes Claros no dia 02 de agosto, onde começou sua carreira. Neste ano, ela celebra 59 anos. É filha dos saudosos Manoel Soares Costa e Dona Renê Barbosa, ambos comerciantes.

Suas influências foram a Jovem Guarda (Martinha), Tropicália (Gal Costa) e Clara Nunes. No forró, Luiz Gonzaga e Dominguinhos. Mas tem um nome que não pode ficar de fora: Marinês.

- Marinês foi quem me inspirou desde criança e com quem depois tive a honra de conviver, de promover seu trabalho e de ser sua representante artística em São Paulo. E claro, a Anastácia (a maior parceira de Dominguinhos, autora de “Eu Só Quero um Xodó”), atualmente com 76 anos, de quem tenho orgulho de ser amiga desde que cheguei a Sampa - lembra.

Em março de 1989, Fatel decidiu se mudar definitivamente para São Paulo. No dia 02 de agosto deste mesmo ano, quando a cantora celebrava seu aniversário, morria o Rei do Baião. A cantora havia conhecido Luiz Gonzaga em Montes Claros, no Festival da Canção em 1977, e o reencontro com o rei aconteceu em 1988, na exposição agropecuária de Guanambi-BA. De lá para cá, guarda boas lembranças.

- Antes, eu vivia pelo mundo, mas morando em Montes Claros.  Cantei no conjunto Le Cheris, no Automóvel Clube. Trabalhei na noite, cantando também em Brasília e Belo Horizonte, onde fiz grandes amizades - conta.

Fatel fala com carinho de sua família, fica emocionada ao falar de seus oito irmãos, sendo que quatro estão vivos, ela em São Paulo e os três em Montes Claros, de uma época inesquecível em que reunia os amigos da música, de um movimento que perdura até hoje.

- Era sempre com dificuldades, mas com muita alegria que nos encontrávamos. Iniciei no Grupo Agreste, participei de vários festivais, alguns na Escola Normal, no FUCAP, promovido pelo DCE, tendo à frente o saudoso Reginauro Silva, entre outros. Depois me integrei também ao Grupo Raízes, na sua última formação, com o qual gravei um compacto duplo. Paralelo aos trabalhos com os grupos, eu cantava com o conjunto MC5. Aí era trabalho remunerado, eu ganhava minha graninha viajando para a Bahia quase todos os finais de semana - revela.

Para a cantora, embarcar para São Paulo em definitivo foi uma busca por mais espaço para a sua música.

- Já havia gravado meu 1º LP em 1987, em São Paulo e Téo Azevedo, meu padrinho artístico, foi um grande incentivador para que eu pudesse seguir em frente.

Fatel confessa que sofreu preconceito várias vezes ao enfrentar o mundo.

- Como todas nós mulheres, saindo de casa, sozinha. Não foi fácil. Enfim, nada que me incomodou e que me incomode. Sempre fui muito na minha, e nunca fui ambiciosa. Trabalho muito pra pagar minhas contas e não deixei que absolutamente nada me desviasse do foco - diz.

Trabalho, parcerias, Redes Sociais
Adepta às redes sociais, ela diz que é a internet é uma ferramenta indispensável para divulgar seu trabalho.

- Seja como cantora, divulgadora ou produtora artística eu uso a internet, sem falar do monte de amigos e amigas que reencontrei através dela, pessoas que eu não vejo há anos – conta.

Com relação ao seu trabalho na LW- Pintando o Sete, há 10 anos ela faz a produção de um programa na Rádio Imprensa FM 102,5 que vai ao ar todos os domingos. “Pintando o Sete” é só de cultura popular nordestina. É um projeto do pernambucano Luiz Wilson, forrozeiro, poeta, compositor e comunicador.

- Através do projeto do rádio, promovemos eventos, onde cantamos e levamos outros artistas do segmento. Fazemos toda a produção e divulgação. Somos somente nós dois. Luiz cuida das contratações, parcerias comerciais e, eu, cuido da promoção. Em dias de eventos, normalmente temos alguns auxiliares - diz.

Em 30 anos de carreira, Fatel gravou poucos discos. Confessa que uma produção fonográfica é cara e o espaço para a cultura popular nordestina (ela canta forró pé de serra) é muito restrito, quase não se tem espaço para divulgar nas rádios e TVs.

- É preciso muito tempo para “correr”, daí prefiro usar minha influência para promover outros e fico mais na área de produção mesmo. Gravei três vinis, participei de dois compactos com cantores de Montes Claros, Jorge Santos e Grupo Raízes e ainda mais três CDs: “Fatel canta Téo”, “Mais que nunca” e “Caminhos do Coração”, este o mais recente, lançado em 2012. É exatamente o que tem uma das músicas que mais gosto de cantar, “Caminhos do Coração”, um xote belíssimo de Gonzaguinha que retrata exatamente minha vida pelo mundo e as tantas famílias que me acolheram por onde passei.

Um trecho: “Principalmente por poder voltar, a todos os lugares aonde já cheguei, pois lá deixei um prato de comida, um abraço amigo, um canto pra dormir e sonhar.” Enfim, sou uma pessoa feliz, por tantos amigos Brasil afora. Em São Paulo, devo ter umas 10 famílias que me adotaram e me acolheram e acolhem com todo amor - reconhece.

Outras gravações:
Fatel participou de vários CDs de amigos poetas em São Paulo. Do cantor Luiz Wilson participou de vários, tanto na produção artística quanto nos banking e também em composições. Em Janeiro deste ano, ele lançou o CD comemorativo dos 30 anos de sua carreira, e gravou de sua autoria o xote  “A Tampa e a Panela” (em parceria com Fatel), sucesso em vários estados do Nordeste e em Sampa.

Fã do rádio em todo o tempo, não se desliga dele. Além do jornalismo pela Nova Brasil, fica atenta à boa música brasileira, além das programações especiais de forró de qualidade, rádios do Nordeste, por aplicativos. Na madrugada de São Paulo, não perde o “Forró Nativa” com Mano Veio e Mano Novo. São seus amigos desde que ela foi para São Paulo.

- Todos os dias eu me realizo com algo. Hoje, por exemplo, esta entrevista, para mim, é uma grande realização. Mas mais realizada seria cantar em Montes Claros. Este povo da secretaria de Cultura nunca me contrata. Por eu não morar ai? Ué! Estes cantores que contratam e pagam cachês absurdos pra cantarem no dia do aniversário da cidade também não moram em Montes Claros e são chamados, não é?

Em 1980, Fatel ganhou um grande festival de Sete Lagoas. Melhor música e melhor intérprete com “O Forasteiro”. (De Pedro Boi e Braúna) Melhor arranjo (MC5) e melhor instrumentista, que foi para Sergio Damasceno (flauta transversal) Enfim, ganhamos todos os prêmios do festival, muito conceituado na época.


Fatel por Fatel:
Música: Caminhos do Coração
Montes Claros: Juventude
São Paulo: Amadurecimento
Gosta de ouvir: MPB
Comida: Arroz com pequi
Momento feliz: Este
Livro: De acordo com a época. “As Meninas”, de Lígia Fagundes Teles, no passado, e atualmente “Mesa da cozinha lá de Casa”, de Fátima Marcolino


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