
Nesta sexta-feira (23), o documentário João Chaves será exibido no Ibicinemas para 140 alunos da rede pública de ensino. No sábado (24), a produção será apresentada ao ar livre, na área externa do Museu Regional, com 180 lugares disponíveis ao público.
Segundo Berenice Chaves, neta do poeta, compositor e seresteiro que está sendo homenageado, a inspiração para o filme surgiu da necessidade de preservar a memória e o legado artístico de seu avô, especialmente para as novas gerações. “Em 2021, após a depredação do Memorial João Chaves — localizado em um ponto de grande circulação na cidade — fui profundamente impactada. Como neta e produtora, decidi assumir esse papel de guardiã cultural e ajudar a preservar a memória desse personagem genial e fundamental para a nossa história”, afirma Berenice.
A escolha das 15 obras apresentadas no documentário foi resultado de um processo intenso e apaixonante. Berenice conta que realizou uma verdadeira imersão no final do século XIX e início do século XX, consultando bibliotecas, acervos físicos e digitais, além de conversar com pessoas e analisar partituras, livros e relatos ligados a João Chaves.
“Também mergulhei na história cultural de Bocaiuva, onde ele viveu entre 1923 e 1933. Foi um período extremamente produtivo de sua vida. Ele não foi apenas músico, poeta e jornalista — também escreveu peças teatrais encenadas no Teatro Municipal da cidade. Selecionar as obras mais significativas foi um grande desafio, pois todas carregam beleza e peculiaridades únicas. Estruturei o roteiro de forma cronológica, interligando as 15 cenas artísticas, o que exigiu um olhar diferenciado de criação”, detalha.
Segundo Berenice, o maior desafio foi justamente assinar um projeto que carrega o nome João Chaves. “A responsabilidade era enorme. Produzir, dirigir, acompanhar gravações e locações, readequar o roteiro em tempo real e gerenciar equipes em várias cidades foi extremamente exigente. Moro na Bahia, mas trabalhei com profissionais do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, além das filmagens em Montes Claros e Bocaiuva. Foram nove meses intensos — e os últimos cinco dias de gravação à beira-mar pareceram um presente de Deus, como uma recompensa pelo esforço dedicado ao filme”.
Trabalhar com artistas de diferentes regiões e estilos também foi um dos pontos altos do projeto. “Descobri a qualidade e a sensibilidade dos artistas locais. Desde as interpretações musicais e cênicas até a composição da trilha sonora original — como a do violonista Valmyr de Oliveira com o maestro Wagner Tiso e o acordeonista Célio Balona — houve uma sinergia impressionante. O comprometimento de todos me emocionou. Espero que o público sinta isso também”, conclui.
OLHAR POÉTICO
O cineasta Samuel Reis também compartilhou sua experiência na construção estética do documentário. “Meu olhar foi guiado pela escuta sensível da Berenice. Sua intimidade com a obra do avô revelou nuances poéticas que inspiraram toda a estética do filme. Trabalhei com luz natural, gestos espontâneos e enquadramentos que valorizam os silêncios, os vazios e a memória. A integração entre imagem e poesia não foi ilustrativa, mas simbólica. A beleza, para mim, está no que carrega sentido.”
Outro neto de João Chaves, Rafael Macedo Chaves, também participou do projeto. “Foi uma grande honra interpretar meu avô na cena do poema Sentença, além de aparecer em imagens gravadas no Corredor Cultural. Colaborei também na revisão dos textos que narram sua trajetória, lidos por Eduardo Brasil. Participar desse projeto foi emocionante.”
Para Rafael, o maior legado de João Chaves é a sua obra, marcada por uma mensagem atemporal. “A literatura e a música que ele deixou exaltam o amor universal. Se existe algo eterno, é o amor que alimenta a fraternidade humana e dá sentido à vida”.